Ser Família em Terra Estrangeira

Nota Pastoral do Bispo de Angra para a celebração da Festa dos Povos É o tema que proponho para a celebração da Festa dos Povos, na próxima Solenidade de Pentecostes (27 de Maio), em consonância com a Mensagem do Papa para o Dia Mundial do Migrante e do Refugiado e recolhendo a reflexão do VII Encontro Nacional de Animadores Sócio-Pastorais das Migrações, realizado em Fátima no passado mês de Janeiro. Tendo presente a ícone bíblica da família de Nazaré, forçada a emigrar para o Egipto, para fugir à ameaça de Herodes, as comunidades cristãs são convidadas a mostrarem-se solidárias com as famílias migrantes, que vivem na própria área. Os imigrantes não são simplesmente força de trabalho, mas pessoas com afectos e projectos de vida individual e familiar. Precisam de acolhimento e de apoio, para se sentirem integradas no nosso meio. Hoje, verifica-se que 75% dos fluxos migratórios, a nível nacional, realizam-se, não por via laboral, mas pelo recurso legal ao reagrupamento familiar. Essa é uma boa política, que favorece a integração, mas tem de ser acompanhada por medidas de apoio, não só oficial, mas também de proximidade por parte das comunidades, em que as famílias migrantes estão inseridas. Há comunidades que, através de gestos simples de vivência quotidiana, já dão esse apoio, prevenindo qualquer tipo de exclusão. Encorajo que outras façam o mesmo, respeitando sempre a identidade cultural e religiosa dessas famílias. «Ser família em terra estrangeira» tem dificuldades acrescidas. Para favorecer a integração das famílias migrantes na comunidade local, o referido Encontro Nacional de Fátima recomendava: – Igualdade de tratamento das famílias migrantes e de acesso aos mesmos direitos das famílias portuguesas; – preocupação especial pelas famílias numerosas, no que diz respeito, nomeadamente, ao alojamento e aos meios de subsistência; – atenção particular aos filhos dos imigrantes e à segunda geração das comunidades imigrantes, instituindo, eventualmente, o bilinguismo na educação; – intervenção activa e acompanhamento das famílias e menores em risco; – acolhimento, sem preconceitos, de situações especiais, tais como: famílias monoparentais, uniões de facto, cônjuges sós, matrimónios mistos…; – apoio aos desprovidos da rede familiar: os sem abrigo, os reclusos, os irregulares, os deportados, os órfãos, os idosos, os estudantes… A vinda do Espírito Santo, em Pentecostes, foi para neutralizar a dispersão da Torre de Babel e reunir os povos de diversas proveniências e culturas na única família humana. O «Império do Espírito Santo» é a fraternidade universal, sem distinção de raça e condição social. Portanto, uma maneira muito própria para celebrarmos a Solenidade de Pentecostes será darmos lugar, nas nossas celebrações comunitárias, às famílias migrantes, com gestos concretos de boas-vindas e de solidariedade. Por outro lado, as nossas festas populares em honra do Espírito Santo ganhariam em dimensão católica, na medida em que se abrirem aos imigrantes. No nosso ambiente, cada vez mais plural, do ponto de vista cultural e religioso, Pentecostes tem de ser claramente a Festa dos Povos. + António, Bispo de Angra

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