Seminários são «espaços de vida em Deus e para Deus»

O Arcebispo de Braga defendeu ontem que as promessas que os sacerdotes fazem no dia da ordenação – uma vida de pobreza, obediência e castidade – devem cumprir-se já no tempo do Seminário, incluídas no processo de aprendizagem que leve a tornar esta instituição «um espaço de vida em Deus e para Deus». D. Jorge Ortiga presidiu à tomada de posse das novas equipas formadoras dos Seminários Arquidiocesanos de Braga, agora com menos de uma centena de candidatos ao sacerdócio. A cerimónia, na qual apenas participaram os seminaristas e seus familiares, decorreu durante a missa celebrada ontem de manhã na igreja de São Paulo (ou de Santiago). Segundo o Arcebispo Primaz, os sacerdotes, e portanto quem se prepara para o ser, devem ser pobres «num mundo de consumo e concorrência», ser obedientes «perante a auto-suficiência e uma liberdade mal interpretada», sendo também castos «num mundo onde o emotivo e o sentimental abrem portas». A pobreza, explicou o prelado, «exige uma vida pautada pelo essencial e que não envereda pelas facilidades das modas. Devemos mostrar sempre a alegria de viver com o indispensável. Como Cristo e para testemunhar Cristo, importa um estilo de vida pobre onde os pobres ocupam um lugar privilegiado», acrescentou D. Jorge Ortiga, dirigindo-se aos seminaristas. Por seu lado, a obediência «é caminho duma aprendizagem contínua não só perante os superiores mas também na relação fraterna com os colegas e, dum modo muito exigente, no respeitar os direitos dos fiéis leigos», os quais, advertiu, «nunca podem ser meros executores dum autoritarismo clerical». E «num mundo onde o emotivo e o sentimental abrem portas, possuir uma maturidade humana que sabe relacionar-se sem se prender e servir sem exigir recompensa, é – continuou D. Jorge Ortiga, justificando o celibato dos padres – proclamação dum Reino que incomoda muita gente». «Estas promessas sacerdotais aprendem-se e crescem na vivência de exigências muito concretas», disse ainda o Arcebispo Primaz na primeira reunião dos seminaristas de Braga no corrente ano lectivo. Na homilia da missa de apresentação dos novos reitores dos Seminários Arquidiocesanos – os padres Vítor José Novais e Avelino Marques Amorim, que eram párocos em Vila Nova de Famalicão e Amares, respectivamente –, D. Jorge Ortiga pediu ainda «fidelidade nas coisas pequenas». «A modernidade pretende o que dá nas vistas e se apresenta com características de grandiosidade. As grandes opções, para o crente, acontecem depois do repetir da fidelidade naquilo que o mundo considera insignificante. É mais fácil não prestar atenção ao que parece não valer, mas aí está o essencial. É uma oração que não se esquece, um dever que se cumpre, uma dedicação que se proporciona, um estudo que não se adia, uma disponibilidade para pequenos favores». Coisas simples, sublinhou D. Jorge Ortiga, mas é por aí «que passa a aprendizagem para ser como Cristo». Antes de apontar os critérios por que se deve pautar, o Arcebispo de Braga disse que «o Seminário é uma escola e, como tal, momento e local para aprender a aprender de modo a que a vida seja uma permanente aprendizagem, num gosto de aprender a ser homem, vocacionado para o transcendente e na procura da verdade intelectual e pastoral». Depois, aplicando a esta instituição o lema do programa pastoral diocesano, D. Jorge Ortiga afirmou que «o Seminário tem de ser uma família e isto também se trabalha procurando reconhecer que tudo é “dom” de Deus a acolher num ambiente sério de oração e contemplação e, simultaneamente com a necessidade permanente de ser “dom” uns para os outros, o que se expressa em compromissos que se descortinam a partir da orientação da equipa formadora e de normas concretas que ninguém pode considerar facultativas». Por fim, agradeceu «a quem tem construído o Seminário, no passado e no presente», e a quem, para dar continuidade, deixou as comunidades paroquiais, como é o caso dos novos reitores.

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