Semana Santa transforma cidade de Braga

Conjunto impressionante e único de procissões Qualquer apresentação das tradições da Semana Santa no nosso país tem de fazer uma referência às celebrações de Braga, onde um conjunto impressionante e único de procissões, particularmente as nocturnas, faz acorrer à cidade milhares de fiéis, vindos de todo o país. Tendo o seu ponto alto nos dias “maiores” da Semana Santa, com o epicentro na Vigília Pascal, na noite de Sábado Santo para Domingo de Páscoa, esta celebração é preparada pelos cristãos ao longo da Quaresma, como caminhada espiritual e penitencial, a lembrar os quarenta anos da grande “Páscoa” ou “passagem” do Povo Hebreu, através do deserto, da escravidão no Egipto para a liberdade na Terra de Israel. A celebração da Semana Santa de Braga enquadra-se neste grande arco de tempo, integrando no seu programa geral actos religiosos e actos culturais. Em Braga, relevam-se, neste contexto, várias celebrações, entre elas a “Procissão dos Passos”, “Procissão de Nossa Senhora da Burrinha”, “Lava-Pés” e “Missa da Ceia do Senhor”, “Procissão do Senhor ‘Ecce Homo’”, a “Celebração da Paixão e Morte do Senhor” e, obviamente, a “visita pascal”. Programa 8 de Abril – Sábado A noite do sábado antes de Ramos é como uma primeira Vigília, de carácter penitencial, a preparar a Semana Santa, tal como, no sábado seguinte, a Vigília Pascal será a celebração festiva do triunfo de Jesus sobre a morte. 21:30h – Procissão em que se faz a trasladação da imagem do Senhor dos Passos, da igreja de Santa Cruz para a igreja do Seminário, percorrendo a Rua do Anjo, Campo de Santiago e Largo de S. Paulo. No percurso, ouve-se o canto do Miserere. Recolhida a procissão, segue-se a Via Sacra, que, entoando os “Martírios”, percorre, pela sua ordem, as “estações” ou “Calvários”. 9 de Abril – Domingo de Ramos O Domingo de Ramos é o pórtico de entrada na Semana Santa. Neste dia a Igreja comemora a entrada de Jesus em Jerusalém, para consumar o seu mistério pascal. É uma entrada que prefigura e preludia a sua entrada, pela Ressurreição gloriosa, na Jerusalém Celeste. Jesus, porém, quis chegar ao triunfo passando pela Paixão e Morte. Por isso se lê, na Missa de Ramos, o evangelho da Paixão. Os fiéis são convidados a olhar para Jesus, o qual “sofreu por nós, deixando-nos o exemplo, para que sigamos os seus passos” (1 Pd 2, 21). São três os actos celebrativos deste dia: 11h00 – Bênção e Procissão dos Ramos – Na igreja do Seminário (Largo de S. Paulo) – Cinco dias antes da morte, Jesus, manso e humilde, montado num jumentinho, desce do Monte das Oliveiras em direcção a Jerusalém. O povo saiu-lhe ao encontro, atapetando o caminho com os seus mantos e com ramos de árvores. As crianças e todo o povo aplaudiam-no com entusiasmo: “Hossana ao Filho de David! Bendito o que vem em nome do Senhor! Hossana nas alturas!”. 11h30 – Missa do Domingo de Ramos – As leituras desta Missa, sobretudo a narração da Paixão segundo S. Mateus, colocam diante da assembleia o quadro dos acontecimentos dolorosos de Jesus que irão ser comemorados ao longo da Semana Santa. Convidados a seguir os seus passos, os cristãos sabem que, “se sofremos com Ele, também com Ele seremos glorificados” (Rm 8, 17). 17h00 – Procissão dos Passos – A solene Procissão dos Passos oferece aos espectadores, em quadros alegóricos e encenação dramática, o mesmo que, na Missa de Ramos foi lido no evangelho da Paixão. Nela desfilam as figuras que intervieram no julgamento, condenação e morte de Jesus: soldados, algozes e inimigos; mas também Cireneus e amigos, Madalenas arrependidas e piedosas mulheres. O próprio Jesus, o “Senhor dos Passos”, levando a cruz às costas, atravessa as ruas da Cidade, como outrora percorreu as de Jerusalém. Organizada pela Irmandade de Santa Cruz, segue o itinerário dos “Passos” ou “Calvários”. Junto à igreja de Santa Cruz, tem lugar o Sermão do Encontro e, no decurso deste, os ouvintes assistem ao comovente encontro de Jesus com sua Mãe Dolorosa, a “Senhora das Dores”. 12 de Abril – Quarta-feira Santa 21h30 – “Procissão de Nossa Senhora da Burrinha” Organizado pela Paróquia e pela Junta de Freguesia de S. Vítor, este eloquente cortejo apresenta a pré-história do Mistério Pascal de Jesus que a Igreja celebra nos dias seguintes. Desde o chamamento de Abraão, passando pela era dos Patriarcas, pela escravidão no Egipto e gesta libertadora de Moisés (prefiguração de Cristo), até à infância de Jesus e à sua fuga para aquele país com José e Maria montada numa burrinha, desfilam, em sucessão cronológica e em verdadeira catequese viva, figuras eminentes, símbolos e quadros bíblicos do Antigo Testamento. 13 de Abril – Quinta-feira Santa 10h00 – Missa Crismal e Bênção dos Santos óleos – Quinta-feira santa é o dia da instituição do sacerdócio. Comemorando essa instituição, o Arcebispo Primaz faz-se acompanhar de todo o clero da Arquidiocese e com ele concelebra a Eucaristia. Durante a celebração, consagra os Santos Óleos, que serão levados pelos presbíteros para as suas paróquias a fim de servirem para ungir os baptizandos e os doentes. 16h00 – Lava-pés e Missa da Ceia do Senhor – A anteceder a Missa da Ceia do Senhor, o Arcebispo que preside lava os pés a doze pessoas que representam os doze Apóstolos. Assim se comemora o que fez Jesus. Durante a tarde, enquanto os fiéis são convidados a visitarem as sete igrejas, que representam as Sete Estações de Roma (Sé Primaz, Misericórdia, Santa Cruz, Terceiros, Salvador, Penha e Conceição / Mons. Airosa), os farricocos, lembrando um antigo costume, percorrem a cidade, com as suas matracas, chamando os irmãos da Misericórdia para a procissão da noite. 22h00 – Procissão do Senhor “Ecce Homo” – Organizada desde tempos antigos pela Irmandade da Misericórdia, esta procissão evoca o julgamento de Jesus. Abre o cortejo um vistoso grupo de farricocos com grosseiras vestes de penitência, descalços e encapuçados, de cordas à cinta, como outrora os penitentes públicos, empunhando matracas e fogaréus (lembrando os guardas que foram, de noite, prender Jesus). A imagem do Senhor “Ecce Homo” representa o Cristo tal como Pilatos o apresentou à multidão, dizendo: – “Eis o Homem!”. Além de muitas figuras alegóricas do julgamento de Jesus, desde 2004 incorporam-se na procissão alegorias das catorze obras de misericórdia, em alusão à essencial missão estatutária da Irmandade organizadora. 14 de Abril – Sexta-feira Santa 10:00h –Sé Catedral: Ofício de Laudes, com alocução do Presidente aludindo às Sete Palavras de Jesus na Cruz. Terminadas as Laudes, os Capitulares presentes acolhem os penitentes que desejarem receber o Sacramento da Reconciliação. 15h00 – Celebração da Morte e da Paixão do Senhor: À mesma hora em que Cristo expirou, os cristãos celebram o mistério da sua Morte redentora. Não há Missa, como seu memorial, mas comemoração directa. “Procissão Teofórica do Enterro” – Privilégio do Rito Bracarense, nesta impressionante procissão, o Santíssimo Sacramento, encerrado num esquife coberto de um manto preto, é levado pelas naves da Catedral e deposto em lugar próprio para a veneração dos fiéis. Os acompanhantes cobrem o rosto em sinal de luto. Dois meninos cantam em latim: “Heu! Heu! Salvator noster!” (Ai! Ai! O nosso Salvador!). 22h00 – Procissão do Enterro do Senhor – Organizada pelo Cabido da Catedral, Irmandades da Misericórdia e de Santa Cruz e Comissão da Semana Santa, esta imponente procissão – de todas a mais solene e comovente – leva pelas ruas da Cidade o esquife do Senhor morto. Acompanham-no aquelas e outras irmandades, Real Confraria de Santa Maria de Braga, cavaleiros das Ordens Soberana de Malta e do Santo Sepulcro de Jerusalém, Capitulares da Sé e autoridades. Vão também os andores de Santa Cruz e da Senhora das Dores. Em sinal de luto, os Capitulares e os membros das Confrarias vão de cabeça coberta. Para mostrar a sua dor, as figuras alegóricas ostentam um véu de luto. As matracas dos farricocos vão silenciosas. As bandeiras e estandartes, com tarja de luto, arrastam-se pelo chão. 15 de Abril – Sábado Santo 10:00h – Na Sé Catedral: Ofício de Laudes, com alocução do Presidente. Terminadas as Laudes os Capitulares presentes acolhem os penitentes que desejarem receber o Sacramento da Reconciliação. Durante o dia, visita ao Santo Sepulcro onde permanece a Sagrada Eucaristia. 21h00 – Vigília Pascal e Procissão da Ressurreição – Terminada a Missa, organiza-se a Procissão da Ressurreição, própria do Rito Bracarense. O Santíssimo Sacramento, que estivera encerrado na urna com um manto negro, é agora colocado na custódia e trazido triunfalmente em procissão para o altar-mor. Daí abençoa todos os fiéis, que dele se despedem ouvindo e cantando o Regina Coeli, laetare (Rainha dos Céus, alegrai-vos), em modo de parabéns à Mãe de Jesus, Senhora da Alegria. 16 de Abril – Domingo de Páscoa 11h30 – Todo o Domingo é um dia pascal, porque simboliza e evoca, no ritmo cristão das semanas, o primeiro dia do mundo novo inaugurado com a Ressurreição de Cristo. O Domingo de Páscoa é, nesse sentido, o paradigma de todos os domingos. “Visita Pascal” – É um costume muito enraizado no norte de Portugal, este de, no Domingo de Páscoa, um grupo de pessoas (“Compasso”), sempre que possível presidido por um sacerdote, com trajes festivos e partindo da respectiva igreja paroquial, se dirigir com a Cruz enfeitada aos lares cristãos a anunciar a Ressurreição de Cristo e a abençoar as suas casas. Soam campainhas em sinal de júbilo, fazem-se tapetes de flores pelas ruas e caminhos, estrelejam foguetes no ar. Procissão da Burrinha A “Procissão da Burrinha”, que se realiza no dia 12 de Abril, sai da igreja paroquial de São Vítor e percorre as ruas do centro histórico da cidade. “Vós sereis o meu povo” é a passagem da Sagrada Escritura que dá o mote à procissão, integrada nas Solenidades da Semana Santa de Braga. O Largo da Senhora-a-Branca e Rua de São Vítor já estão ornamentados com motivos alusivos ao período quaresmal, destacando-se os quadros em lona, alusivos à fuga de José para o Egipto ou da “Fugida”, com a Nossa Senhora e o Menino, que tentam escapar à morte (escultura da Senhora do Egipto ou da “Fugida” , como dizem os antigos documentos), feitos a partir da obra do artista bracarense Cândido Caldas. Se hoje tem o nome de cortejo bíblico, outrora era considerada a “procissão da Burrinha”, nome pela qual “os populares ainda designam este evento”. Procissões que se caracterizam pela pompa e singularidade. Destacam-se a da Penitência, que percorre os “passos” do Calvário, fazendo-se em cada um deles uma breve alocução; a do Senhor Ecce Homo, com os farricocos envolvidos nos hábitos negros de penitentes, empunhando archotes e fogaréus; a Procissão do Enterro, que percorre a Catedral com o Santíssimo Sacramento encerrado no féretro; e finalmente a “sumptuosa” Procissão do Enterro do Senhor. Passos do cortejo O primeiro quadro representa Abraão, o primeiro crente, que, confiando na promessa de Deus, caminha para a desconhecida terra que Ele lhe indicou. A segunda passagem apresenta Jacob e os seus doze filhos, que deram origem às doze tribos de Israel. O terceiro painel simboliza a recepção que José do Egipto faz à família de Jacob, depois de ter sido vendido como escravo pelos próprios irmãos. A escravidão do povo israelita é representada na quarta etapa da procissão, e numa quinta, surge Moisés e as dez pragas do Egipto. Na sexta “estação” surge a miraculosa travessia do Mar Vermelho e, de seguida, representa-se a serpente de bronze. O oitavo painel recorda a celebração judaica da Páscoa e, o nono, a Arca da Aliança, símbolo da presença divina no meio do Povo. Os reis David e Salomão são representados no 10º painel e, de seguida, surge, o profeta Isaías. A cena número doze apresenta as rainhas Judite e Ester. Depois surge a cena da Anunciação do ano Gabriel e algumas cenas bíblicas do Natal. Na 15.ª representação surge o nascimento de Jesus e, depois, apresenta-se a “Matança dos Inocentes”. A 17.ª etapa representa a fuga da Sagrada Família para o Egipto, com a exposição da imagem da Senhora do Egipto ou da “Fugida”. Neste quadro sobressai um conjunto de pessoas com ramos de flores amarelas, que recorda a Lenda dos Tremoços. Conta a tradição que a Sagrada Família atravessou, durante a fuga, um campo de tremoços, onde diversas pessoas dormiam. Milagrosamente, os tremoços não fizeram barulho e os fugitivos puderam prosseguir a sua viagem. O 18º quadro representa o seu regresso a Nazaré e, depois, o crescimento de Jesus. Ecce Homo A procissão, popularmente designada como “Procissão do Senhor da cana verde”, incorpora todos os irmãos da Irmandade da Misericórdia. À frente, descalços e encapuçados, caminham os “farricocos”, chamados também os homens dos fogaréus – vestidos com túnicas negras até meio da perna (os balandraus), uma corda atada à cintura, outra a cingir-lhes a testa e a cabeça, sobre uma espécie de capuz com dois buracos para os olhos. Transportam um cabo de madeira, muito alto, na ponta do qual está uma bacia de cobre com pinhas a arder. São acompanhados por outros farricocos com cestas de pinhas, destinadas a alimentar os fogaréus. As “matráculas” fazem-se ouvir após o silenciamento dos sinos, na intenção de chamar os fiéis à penitência. Procissão Teofórica Única no mundo católico, a procissão faz parte do ritual litúrgico bracarense e apenas é realizada no interior da Sé. Uma hóstia consagrada é colocada no interior de um caixão, levado aos ombros pelos cavaleiros do Santo Sepulcro, assinalando o fim da Paixão do Senhor numa cerimónia acompanhada por cânticos medievais. Os que transportam o caixão cobrem o rosto com os amictos, em sinal de luto. Trata-se de um pano rectangular, de linho, com uma cruz no meio e fitas em duas pontas. OC/LFS

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