Semana Santa: Sem-abrigo de Lisboa no lava-pés de Quinta-feira

Comunidade Vida e Paz assinala 25 anos de serviço

Lisboa, 16 abr 2014 (Ecclesia) – O patriarca de Lisboa vai esta Quinta-feira Santa lavar os pés a pessoas sem-abrigo, voluntários e funcionários da Comunidade Vida e Paz (CVP), instituição de solidariedade social que assinala nesse dia 25 anos de serviço.

Na cerimónia que dá início às celebrações do Tríduo pascal, na Sé de Lisboa, 12 pessoas ligadas à instituição, vão participar no ritual do lava-pés: “três pessoas que são ou foram sem-abrigo, um dirigente, quatro voluntários, dois colaboradores e dois benfeitores”, explica o presidente da CVP à Agência ECCLESIA.

Henrique Joaquim assinala este gesto como um “celebrar de forma cristã o trabalho desenvolvido” e o “renovar a atitude de serviço” para com as pessoas sem-abrigo.

Há duas décadas e meia que a “entrega e interpelação que a oração gera” impulsionou um grupo de cristãos do patriarcado de Lisboa a “doarem-se a quem mais precisa”.

O presidente da instituição descreve um trabalho que “nasce na rua”, no ato de “confiança que se estabelece entre as equipas, levando a esperança numa vida digna” e que se concretiza numa resposta dada pela instituição ou por outra organização num trabalho em rede.

A Instituição nota uma alteração no perfil das pessoas com quem contacta na rua, dado o “extenso período, desde 2008, de sobrecarga das necessidades económicas”.

“Estamos a chegar a um ponto crítico porque, apesar de a resiliência ser muito grande, estamos a falar de um período de seis anos”, o que tem levado “muitas pessoas que não estão na rua a solicitarem ajuda”.

No «Espaço aberto ao diálogo», local de intervenção complementar diurna que pretende motivar as pessoas sem-abrigo para a mudança, são muitas as solicitações apresentando como “primeiro problema” o desemprego, que desencadeia fragilidades “na habitação e no sustento”.

“O perfil das pessoas tipicamente sem-abrigo, muito associado ao alcoolismo e à toxicodependência, alterou-se e estamos cada vez mais a trabalhar com histórias vindas de desestruturações familiares e cortes com o mercado de trabalho”.

A “crise prolongada” afeta também a CVP que vê o seu “orçamento restringido” mas não “o ato de fé”.

“Radicamo-nos numa esperança ativa, que procura a criatividade e o estabelecimento de uma rede de relações de forma a capitalizar a ajuda para quem mais precisa”.

Henrique Joaquim sublinha que o trabalho com as pessoas sem abrigo é “muito complexo porque multidimensional”, rejeitando por isso a ideia de que esta situação possa ser resolvida num quadro legislativo de quatro anos.

O presidente da CVP foca, a título de exemplo, as situações desencadeadas pela doença mental.

“São muitas na cidade e aqui temos de criar condições para que, de forma integrada, trabalhe a justiça, porque há que garantir direitos, a saúde e as respostas sociais. Há um novelo grande”.

O responsável admite que dentro de oito anos será possível haver pessoas na rua, “por vontade própria ou por uma situação temporária, que acontece, será possível, mas não por falta de respostas”.

Há que garantir um “não retorno à rua” e isso implica “habitação, sustento e integração social. Conhecer, cativar, recapacitar a pessoa é um processo longo” que, aponta Henrique Joaquim “deve envolver as pessoas sem-abrigo”.

LS

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