Semana Santa: Papa recorda atentados e apela à paz entre culturas e religiões

Francisco celebrou lava-pés com refugiados católicos, ortodoxos, muçulmanos e hindus

Cidade do Vaticano, 23 mar 2016 (Ecclesia) – O Papa Francisco celebrou hoje o rito do lava-pés, na tarde de Quinta-feira Santa, com refugiados e refugiadas de vários países e religiões, apelando à paz entre quem tem culturas e convicções diferentes.

“Todos nós, juntos, muçulmanos, hindus, católicos, coptas, evangélicos, mas irmãos, filhos do mesmo Deus, que queremos viver em paz, integrados”, disse, na homilia da Missa da Ceia do Senhor.

A celebração que marca o início do Tríduo Pascal decorreu  no centro de acolhimento de requerentes de asilo de Castelnuovo di Porto, cerca de 30 quilómetros a norte do Vaticano, que recebe sobretudo jovens refugiados.

“Os gestos falam mais do que as imagens e do que as palavras. Os gestos”, realçou Francisco, antes de ajoelhar-se para lavar os pés a 11 refugiados e uma funcionária do centro.

Para a cerimónia do lava-pés foram escolhidos 8 homens e 4 mulheres, incluindo quatro nigerianos católicos, três ortodoxas da Eritreia, um hindu e três muçulmanos da Síria, Paquistão e Malí.

A homilia evocou os atentados de terça-feira em Bruxelas, capital da Bélgica, que provocaram dezenas de mortos e centenas de feridos.

“Um gesto de guerra, de destruição, numa cidade da Europa [Bruxelas]. Gente que não quer viver em paz”, lamentou Francisco.

Segundo o Papa, por trás desse gesto, como na traição de Judas, havia outras pessoas: no caso de Judas, “os que deram o dinheiro para que Jesus fosse entregue”; nos atentados terroristas, “os que fabricam e traficam armas”, que “querem a guerra”.

“Pobres daqueles que compram armas para destruir a fraternidade”, advertiu.

Francisco insistiu na ideia de uma convivência entre “religiões diferentes, culturas diferentes, mas filhos do mesmo Pai, irmãos”.

“Neste momento, quando fizer o mesmo gesto de Jesus, de lavar os pés a 12 de vós, todos nós estaremos a fazer o gesto da fraternidade e dizemos todos que somos diferentes, distintos, com culturas e religiões diferentes, mas somos irmãos e queremos viver em paz”, precisou.

Nesse sentido, o Papa convidou à oração comum, a partir do “coração aberto que quer a fraternidade”.

“Que cada um de nós, na sua língua religiosa, reze ao Senhor para que esta fraternidade se contagie no mundo, para que não haja as 30 moedas para matar o irmão, para que haja sempre fraternidade e bondade. Que assim seja”, desejou.

No final da Missa, o Papa voltou ao altar para receber alguns presentes e ouvir os cântico de um grupo de refugiados, cristãos coptas.

"Lembremo-nos e façamos ver como é bonito viver juntos como irmãos, com culturas, religiões e tradições diferentes, mas somos todos irmãos. Isto tem um nome: paz e amor. Obrigado", declarou, antes de ir cumprimentar pessoalmente os refugiados presentes.

O centro de acolhimento tem neste momento 892 pessoas, incluindo 554 muçulmanos e 239 cristãos, entre eles muitos coptas, num total de 26 nacionalidades.

Durante mais de uma hora, o Papa cumprimentou um a um os mais de 800 refugiados do centro de Castelnuovo di Porto, até ao cair da noite, tendo os presentes assinalado com uma salva de palmas a saída de Francisco.

A decisão de celebrar esta cerimónia fora do Vaticano é já uma tradição no atual pontificado: em 2015, Francisco foi ao complexo de Rebibbia, onde o Papa lavou os pés a alguns detidos e a detidas de uma prisão feminina vizinha; em 2014, o pontífice argentino deslocou-se ao Centro ‘Santa Maria della Provvidenza’, da Fundação Don Carlo Gnocchi, destinado à reabilitação de pessoas com deficiência e idosos, em Roma; em 2013 esteve numa prisão juvenil da capital italiana.

OC

Notícia atualizada às 18h25

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Agência ECCLESIA

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