Semana Santa: Jesus nunca diz que «vai morrer», mas «oferecer a vida», refere bispo de Setúbal

D. José Ornelas rejeita a resignação e aceita o sofrimento transformador do mundo

Lisboa, 25 mar (Ecclesia) – O bispo de Setúbal afirmou que Jesus “não é um suicida”, nunca diz que “vai morrer” e sempre afirma que aceita a “dinâmica de Deus” que o convida a “entregar a vida”.

“Ele nunca diz que vai morrer, mas oferecer a vida”, recorda D. José Ornelas em declarações ao programa Ecclesia desta Sexta-feira Santa, com emissão na RTP2 pelas 15h00.

O bispo de Setúbal sublinhou que o itinerário de Jesus não termina “simplesmente” com a morte, mas com a entrega da vida “na mão do Pai”.

“Quando digo que entrego a vida nas mãos de Deus não me estou resignando, mas a aceitar a dinâmica de Deus”, sustentou.

Para D. José Ornelas, aceitar a fragilidade significa consentir com um sofrimento que é “semente de vida”, com mostrou o exemplo de Cristo e “tanta gente com um humanismo diferente”.

O bispo de Setúbal considera que a “primeira coisa” que o mistério do sofrimento em Sexta-feira Santa explica é que os conflitos pessoais e das comunidades não se resolvem “ao toque de espada, de carros armados, aviões, misseis”, mas de uma “forma mais humana”, que procura “encontrar pontos de convergência”.

“Eu quero um mundo melhor, também para aqueles que estão a tentar destrui-lo. A solidariedade e o amor são caminho alternativo”, sublinha.

D. José Ornelas sustenta que apenas tem valor o “sofrimento da paixão”, que gera a “transformação de um mundo novo”, mesmo que seja “através da morte”.

Para o biblista, atual bispo de Setúbal, perante o projeto aparentemente falhado de “um mundo novo”, Jesus não desiste quando é ameaçado de morte nem usa a violência diante de quem ameaça com violência.

“Jesus não pode usar a violência porque a violência seria a negação do que Ele veio fazer”, afirmou.

“A cruz bendita é a cruz de gente que foi praticamente aniquilada”, lembrou o bispo de Setúbal afirmando que “o método de propor sempre a justiça, mesmo diante da injustiça, é o que acaba por ser válido”.

“Não vamos esquecer a injustiça, vamos expô-la ao sol, para que seja reconhecida como injustiça. Mas só o Justo pode fazê-lo”, sustentou.

“Se Jesus não desiste, não usa os meios habituais das revoluções, a violência. Então Ele é que ‘vai pagar’”, lembrou.

D. José Ornelas referiu que existe um “sentido muito mauzinho da Sexta-feira Santa”, quando indica um sofrimento resignado para “chegar ao céu” e mesmo de “vingança”, fazendo multiplicar atitudes de “intolerância” no dia em que se faz memória da paixão de Cristo.

“Todos devemos aceitar com alegria o sofrimento da paixão, implicado na transformação do mundo, no nascimento de um mundo novo”, afirmou D. José Ornelas.

“Jesus não veio pregar o sofrimento, mas dizer que mesmo através do sofrimento há caminho”, concluiu o bispo de Setúbal.

PR

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Agência ECCLESIA

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