Paróquia de Tadim mobiliza centenas de participantes para encenação da Paixão de Cristo

Braga, 12 abr 2025 (Ecclesia) – O pároco de São Bartolomeu de Tadim, padre João Torres, destacou a importância de envolver a população nas celebrações da Semana Santa, levando a uma identificação com os sentimentos dos protagonistas da prisão, julgamento e condenação de Jesus.
“Eu também estou ali. A minha vida, as minhas dificuldades, o meu sofrimento e os meus sucessos também estão ali, porque voltamos a reviver a nossa própria história. Jesus é alguém que encarna a nossa vida, no nosso dia-a-dia”, refere o sacerdote da Arquidiocese de Braga, em entrevista à Agência ECCLESIA.
“Na narrativa pessoal de cada um de nós, no nosso passado e no nosso presente, aquelas figuras que lá estão, nós somos muitas vezes cada uma delas”, acrescenta o entrevistado.
A Igreja Católica vai iniciar este domingo, com a celebração dos Ramos, a Semana Santa, momentos centrais do ano litúrgico que, nas igrejas e nas ruas, recordam os momentos da Paixão de Jesus; a celebração dos últimos dias da vida de Cristo começa pela evocação da sua entrada messiânica em Jerusalém e a bênção dos ramos.
A Paróquia de Tadim apresenta hoje a encenação da Paixão de Cristo, em São Pedro de Vila Frescainha, Barcelos, pelas 21h30, numa iniciativa que mobiliza centenas de participantes, incluindo atores, figurantes e técnicos.
A proposta procura envolver o público numa reflexão sobre o julgamento de Jesus, “marcado pela injustiça, pelo medo da verdade e pela manipulação do poder”.
“Não deixa de ser interessante que ainda hoje quem é mais desfavorecido, quem não tem tantos recursos financeiros, sofre precisamente desta maldade até num próprio julgamento”, indica o padre João Torres.
O pároco de Tadim reforça a importância da encenação como “um momento muito oportuno para fazer esta reflexão, fazer também catequese com o povo de Deus e convidar outros paroquianos, que muitas vezes não andam muito pela paróquia”.
“As pessoas que participam nesta encenação começam a olhar para Jesus Cristo não como um desconhecido ou como um conhecido da história, mas como um companheiro de viagem”, relata.
Num trabalho de vários meses, os participantes dão vida a um “um evento comunitário, um evento de fé”.
“A ideia aqui é aproximar as pessoas da comunidade, conhecê-las. Depois de conhecermos as pessoas, muitas delas começam a participar nas próprias celebrações da Eucaristia. No fundo estamos a utilizar a técnica de Jesus: primeiro passa, está com as pessoas, celebra a vida com as pessoas e depois sim, começamos a celebrar a fé”, refere o entrevistado.
Os participantes são convidados a partir dos “líderes” da comunidade, que procuram “convencer os restantes membros da família a fazer parte deste grande evento”.
“O importante é que as pessoas se conheçam umas às outras e que sintam que são pertença da vida uns dos outros. É também um momento para a comunidade conhecer os seus próprios membros”, indica o padre João Torres.
A encenação parte do relato dos Evangelhos, com a ajuda de uma jurista, para se apresentar ao público sob a forma de julgamento.
O palco, executado por voluntários da comunidade, inclui cenários como o Palácio de Herodes, o Sinédrio, o Pretório de Pilatos, o Monte das Oliveiras, o Cenáculo e o Monte Calvário.
“Se eu conhecer a história em si, é muito mais do que um espetáculo para mim”, refere o padre João Torres.
Acho que as pessoas entendem muito melhor todo o enredo da própria Semana Santa porque conhecem a história toda, logo com o Domingo de Ramos, sabem que vai chegar a uma Sexta-feira Santa, que antes há uma Quinta-feira Santa em que Jesus faz a primeira e última Eucaristia com os seus discípulos. Sabem que não termina ali, que há um Domingo de Páscoa. E isto ajuda as pessoas a perceber o todo”.
O pároco de Tadim sublinha a importância de celebrar a Semana num mundo marcado por um discurso “demasiadamente derrotista”.
“A história da Paixão de Cristo é uma história cheia de esperança, de que a morte não é o último sinal sobre a vida humana. Quando alguém se entrega por amor, até ao fim, há algo de extraordinário, quer dizer, a minha vida ressuscita e eu ajudo a ressuscitar também a vida dos outros”, refere o sacerdote.
A entrevista vai estar em destaque na emissão do Programa Ecclesia do próximo domingo, pelas 06h00, na Antena 1 da rádio pública.
OC
![]() O padre João Torres, coordenador da assistência aos Estabelecimentos Prisionais de Braga e Guimarães, considera que os momentos da Semana Santa devem levar as pessoas a fazer uma “introspeção”. “Estamos a viver e a defender verdadeiramente esses valores na sociedade em que vivemos? Reconhecemos a dignidade de cada pessoa, mesmo quando julgamos?”, questiona. O sacerdote recorda que Jesus foi julgado “apressadamente, sem provas, sem factos”. “Estamos diante de um homem que está a ser condenado injustamente. E quantas vezes nós somos injustos, no nosso dia-a-dia, com os outros?”, pergunta. O entrevistado recorda que, na cruz, Jesus promete o paraíso ao chamado “bom ladrão”, sublinhando que esta é uma mensagem de “reinserção”. “Quem está preso não pode pensar que a vida está destruída para sempre. Se eu fiz coisas más, eu posso pensar que eu ainda posso fazer muitas coisas boas”, apela. Para o padre João Torres, é essencial um trabalho conjunto do Estado e da sociedade, sublinhando que “alguém que fez alguma coisa má não pode voltar à sociedade pior do quando entrou num estabelecimento prisional”, superando o “discurso da punição”. A condenação à morte de Jesus, acrescenta, recorda a importância de refletir sobre o fim da pena capital. “Tornamo-nos desumanos quando matamos quem matou. Nós não somos melhores, ao executar quem matou alguém”, conclui. |