Semana Santa em Braga

Igreja não pretende, simplesmente, manter uma tradição: quer aproveitar essa rica herança e oferecê-la, hoje, a públicos variados O fundamental das celebrações da Semana Santa em Braga, coincide, obviamente, com o que acontece nas igrejas das mais remotas aldeias ou nos templos imersos no ruído e correria das grandes cidades. Nem poderia ser de outro modo. E procura não só preservar, mas potenciar o que é realmente a Semana Santa e a sua preparação – a Quaresma. Este núcleo celebrativo, contudo, tem uma ampla envolvência religiosa e cultural. É alargada, no tempo, a toda a Quaresma e, no espaço, à Cidade no seu todo. De facto, a ambiência religiosa estende-se a toda a Cidade ao longo da Quaresma. São marcantes: o secular Lausperene Quaresmal, que percorre, desde a Quarta-feira de Cinzas, as igrejas da Cidade; e as decorações de rua, que transformam o visual de Braga. Somam-se às manifestações religiosas concertos (sete, este ano) de música sacra em diferentes igrejas da Cidade e um “Ensaio de Ballet sobre Símbolos da Páscoa”: desde 22 de Fevereiro a 18 de Março, com a participação de coros e orquestras de renome internacional e também de agrupações juvenis de qualidade. Integram ainda a programação sete exposições, de conteúdos variados, alusivos à Quaresma e Semana Santa, em diferentes galerias e museus. Os momentos de maior densidade religiosa e de grande afluência de público acontecem na Catedral: desde o Domingo de Ramos até ao Domingo de Páscoa. As cerimónias da tarde de Sexta-feira Santa são, sem dúvida, as que assumem especial expressividade religiosa e concentram uma verdadeira multidão. Em quase todas estas cerimónias há gestos e textos próprios dos costumes litúrgicos de Braga. As procissões constituem outro dos elementos de maior visibilidade: chamam a Braga muitos milhares de pessoas. Merecem especial destaque as solenes e extensas procissões que percorrem a Cidade: a Procissão de Passos com o Sermão do Encontro, na tarde do Domingo de Ramos; o Cortejo Bíblico “Vós sereis o meu povo”, conhecido, popularmente, como a Procissão da Senhora da Burrinha, na noite de Quarta-feira Santa; a Procissão do Senhor “Ecce Homo”, na noite de Quinta-feira Santa; a Procissão do Enterro do Senhor, na noite de Sexta-feira Santa. Compreendo que, visto de fora, este elenco de iniciativas possa apresentar-se como uma amálgama de acontecimentos que explora a Semana Santa e se transforma numa feira folclórica do fenómeno religioso. Essa impressão poderia avolumar-se ao verificar que a Comissão promotora, presidida pelo Cabido da Catedral, integra, além de pessoas a título individual, instituições religiosas e civis: Irmandade da Misericórdia, Irmandade de Santa Cruz, Câmara Municipal de Braga, Região de Turismo Verde Minho, Associação Comercial de Braga, Paróquia e Junta de Freguesia de S. Victor. Acresce ainda que o dispendioso programa é sustentado pelos promotores e patrocinado por pessoas singulares, comércio e empresas. Que procuram, nesta variada programação, instituições tão díspares? As instituições da Igreja não pretendem, simplesmente, manter uma tradição: querem aproveitar essa rica herança religiosa do passado e oferecê-la, hoje – com qualidade estética e linguagens renovadas e complementares –, nas igrejas e em toda a Cidade, a públicos variados que, em muitos casos, já não têm capacidade para aceder às linguagens religiosas mais convencionais; a Câmara Municipal procura, legitimamente, promover, na Região, no País e no estrangeiro a sua Cidade; a Região de Turismo encontra na Semana Santa de Braga o cartaz maior para chamar turistas à Região; a Associação Comercial cumpre a sua missão de potenciar o comércio local com a afluência de novos públicos. Como é fácil de imaginar, as pessoas que, em representação das instituições, integram a Comissão têm as suas pessoais e livres sensibilidades religiosas. A presidência do Cabido (confiada ao Cón. Jorge Coutinho) não é hegemónica e não escolhe os representantes das instituições. Mas todos entendem que estão aí para promover um produto que, se deixarem que a sua matriz se corrompa, morrerá. Esse é o segredo. Cón. Pio G. Alves de Sousa, Deão do Cabido

Partilhar:
plugins premium WordPress
Scroll to Top