Frei Enrique Bermejo Cabrera assina obra sobre «Itinerário» de Egéria, sublinhando relação «entre os lugares e o mistério de Cristo» na Terra Santa

Lisboa, 16 abr 2025 (Ecclesia) – Os relatos de Egéria, peregrina que viveu no final do século IV, apresenta uma chave de leitura para conhecer a génese dos rituais no princípio do Cristianismo, sublinha frei Enrique Bermejo Cabrera, especialista em Liturgia.
“Na liturgia de Jerusalém, o tempo e o espaço estavam unidos”, assinala o religioso, em entrevista à Agência ECCLESIA, a respeito do livro ‘Egéria. A peregrina da Terra Santa’ (UCP Editora).
A peregrina descreve, no seu livro ‘Itinerarium’, a liturgia que se desenvolveu em Jerusalém, recriando as últimas horas de vida de Jesus no intervalo de tempo que vai do Domingo de Ramos à Páscoa.
“A Semana Santa é talvez o momento mais importante para ver a relação entre os lugares e o mistério de Cristo. A liturgia de Jerusalém é uma liturgia em caminho, digamos, circula, porque se move em torno do mistério de Cristo, que é morte e ressurreição”, assinala frei Enrique Bermejo.

Foto: Agência ECCLESIA/MC
A nova obra procura estudar e apresentar o conteúdo do ‘Itinerário’ de Egéria, seguindo a ordem do texto, conforme chegou até à atualidade.
Para o professor catedrático de Liturgia no Instituto Teológico de Jerusalém, a peregrina do século IV “descobriu que havia uma liturgia de peregrinação nos vários lugares” da Terra Santa.
“Essa liturgia de peregrinação teria sido formada ou teria vindo da liturgia de Jerusalém, como afirmam alguns autores, ou seria uma forma de ler as passagens, os mistérios, sobretudo do Antigo Testamento, e de os celebrar”, explica.
O especialista assinala que Egéria descreve, nos seus relatos, “o percurso da Semana Santa”, que depois coincide com o lecionário arménio, que é do século V, e o lecionário georgiano, que é do século VI ou VII.
Alguns dos elementos relatados foram retomados na atual celebração em Jerusalém, como nos serviços que decorrem no Santo Sepulcro ou a procissão desde o Monte das Oliveiras, que foi “alargada e retomada por outras liturgias ocidentais”.
“Outro elemento importante desta influência nas liturgias ocidentais é a Adoração da Cruz, que se fazia atrás do Calvário”, acrescenta.
![]() A edição portuguesa da obra tem coordenação e edição do padre João Lourenço, professor catedrático emérito da Faculdade de Teologia da UCP, que acentua a ligação à “grande tradição pascal do povo de Israel”. “Era a noite especial, não era apenas um momento de narrativa”, observa, explicando que na celebração da Páscoa “o povo de Israel recriava a sua identidade”. “Isso está no âmago da experiência cristã, herdada desde o princípio. As memórias, as leituras hermenêuticas feitas no âmbito das primeiras comunidades para compreender, à luz do Antigo Testamento, os mistérios da vida de Cristo, designadamente o seu sofrimento”, acrescenta. O biblista realça que as celebrações da Semana Santa recordam a “centralidade de Jerusalém”, tendo como cenário “a experiência do Antigo Testamento”. Para o entrevistado, a narrativa bíblica e a construção cultural existencial, a partir das Escrituras, ajudam a entender que “o tempo não é tudo igual”. “Ele é vivido de forma muito celebrativa nas grandes peregrinações”, precisa. |
Frei Enrique Bermejo destaca que a liturgia da Semana Santa tinha um “centro nevrálgico”, alargando-se ao Monte das Oliveiras e ao Monte Sião.
“São o espaço onde o mistério de Cristo se realiza ou se reatualiza. Trata-se, portanto, de uma reactualização adequada ao tempo e ao espaço”, observa.
Quanto à Vigília Pascal, a peregrina do século IV descreve que os “os neófitos, quando eram batizados, passavam pelo lugar da ressurreição”.
O religioso deixa votos de que os católicos possam celebrar a próxima Páscoa como uma “explosão de luz, durante a noite, que ilumina o Jubileu, que ilumina a vida”.
A entrevista sobre a obra ‘Egéria. Peregrina da Terra Santa’ vai estar no centro da emissão do Programa ECCLESIA deste Sábado Santo, pelas 06h00, na Antena 1 da rádio pública.
OC