Semana da Unidade dos Cristãos

Romper o silêncio, construir comunhão O mundo cristão celebra, de 18 a 25 de Janeiro, o Oitavário de Oração pela unidade dos Cristãos. As comunidades cristãs de Umlazi, na África do Sul, apresentam-nos uma proposta de reflexão, oração e intervenção social que aposta no rompimento do silêncio perante situações de sofrimento que somos tentados a esconder. Lançam dois grandes convites: a rezar pela unidade dos cristãos e a unir as forças e as vozes para dar resposta aos sofrimentos da humanidade. Desde 1908, a caminho…. Foi em 1908 que Paul Watson propôs a Semana de Oração pela Unidade dos Cristãos entre 18 e 25 de Janeiro, a abranger o período que vai entre as festas de S. Pedro e S. Paulo. De há uns anos a esta parte, é preparado um Guião Mundial para esta Semana, que resulta de um trabalho conjunto da Comissão ‘Fé e Constituição’ do Conselho Mundial das Igrejas e do Pontifício Conselho para a Unidade dos Cristãos. É já uma tradição pedir a uma Comunidade com perfil ecuménico a elaboração de um ante-projecto desta Guião. Neste ano de 2007, o tema foi preparado pelas comunidades cristãs da região e Umlazi, perto de Durban, na África do Sul. Os textos escritos a partir da experiência dolorosa de um povo têm a marca do seu sofrimento e, ao mesmo tempo, da sua esperança cristã. Ouvir e falar ‘Ele faz os surdos ouvirem e os mudos falarem’(Mc.7,37) é o tema, com dois grandes convites: a rezar pela unidade dos cristãos e a unir as forças e as vozes para dar resposta aos sofrimentos da humanidade. São duas responsabilidades que estão ligadas à cura do Corpo de Cristo, daí que o texto bíblico seja uma história de cura onde Cristo mostra uma profunda preocupação com os sofredores e os necessitados, mostrando a misericórdia de Deus. Ao oferecer a este homem a fala e a audição, Jesus mostra como Deus quer salvar as pessoas em todas as dimensões da sua vida. A Igreja é chamada por Deus a ser unida, uma comunidade que viu e entendeu as maravilhas de Deus na História e, por isso, é enviada pela mundo a anunciá-las, estando ao serviço dos que mais sofrem a quem devem dar vez e voz. O Espírito Santo faz-nos irmãos em Cristo e dá força e coragem para partirmos ao encontro dos irmãos carenciados. Umlazi, fruto do ‘apartheid’ Umlazi era uma cidade fundada nos tempos do Apartheid com uma população negra, na sua maioria. O racismo, o desemprego e a pobreza continuam hoje a representar um desafio ás comunidades cristãs, uma vez que os habitantes não têm escolas em número suficiente, nem centros médico-sociais nem habitações adequadas. Há, por isso, muita violência e comportamentos de risco e, com estes, um problema muito grave: a Sida. Cerca de 50% das pessoas estão contaminadas com o vírus HIV. Na reunião preparatória deste Guião, os cristãos constataram que um dos problemas mais graves resulta da vergonha que as pessoas vítimas de violações ou contaminadas pelo HIV têm de falar abertamente sobre os seus problemas. São numerosos os que hesitam em procurar a assistência a que têm direito: escuta e acompanhamento pastoral, cuidados ao domicílio, centros municipais de assistência… Porque as pessoas, sobretudo as mais jovens, tendem a guardar silêncio sobre estes problemas, os responsáveis locais das Igrejas de Umlazi criaram um tempo de oração ecuménica tendo por tema central ‘romper o silêncio’. Ali, os jovens são convidados a falar à vontade dos seus problemas e a buscar a ajuda necessária, tendo consciência de que manter o silêncio pode ser sinónimo de ‘morte’. Este grito para que se ‘rompa o silêncio’ tem de estender a outras áreas geográficas onde a Sida já fez tantas vítimas como muitas guerras, apesar do empenho de muitas organizações e Igrejas. Desmond Tutu, Arcebispo Anglicano e Prémio Nobel da Paz, disse em 1993 que uma Igreja dividida estaria em situação de fraqueza face ao tão poderoso ‘apartheid’. Hoje, a epidemia da Sida é catastrófica para uma Igreja dividida. Há que dar as mãos nesta luta. Se no Umlazi há um único tribunal, um único hospital, uma única agência dos correios, um único centro médico-social, um único centro comercial e um único cemitério… porém há muitas Igrejas que testemunham um cristianismo dividido! Nesta Semana da Unidade pretende-se, então, abordar estas duas realidades: o sofrimento humano e a busca da unidade visível de todos os cristãos. Oito dias a rezar Para cada dia deste Oitavário, o Guião propõe uma pequena celebração assente na Palavra de Deus e no testemunho das comunidades do Umlazi. O objectivo é apresentado muitas vezes e de muitas formas: ‘nós esperamos que a Semana de Oração deste ano ajudará a romper este silêncio opressivo e chamará a atenção sobre a ligação intrínseca que existe, de um lado, entre a oração e a busca da unidade dos cristãos e, de outro, o apelo dos cristãos e das Igrejas a trabalhar juntas enquanto instrumentos da compaixão divina e da justiça no mundo’. Esta Semana deve integrar um grande momento de Celebração Comunitária Ecuménica para o qual o Guião apresenta um esquema. Transcrevo a parte final da oração conclusiva: ‘Não obstante o escândalo das nossas divisões, nós queremos te implorar a uma só voz: que a Tua Palavra não cesse de fazer novas todas as coisas no coração das nossas vidas feridas. Dá-nos a coragem de sermos, nós também, artesãos da criação. Faz com que a unidade que procuramos para as nossas Igrejas esteja verdadeiramente ao serviço da família humana. Ámen.’. Tony Neves, Equipa Ecuménica Jovem

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Agência ECCLESIA

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