Eugénio Fonseca, presidente da Cáritas Portuguesa
Para despertar consciências, aprofundar conhecimentos, intensificar motivações e mobilizar vontades em torno de pertinentes causas são instituídos por Organismos autorizados anos e dias com maior ou mais restrita abrangência geográfica e de duração permanente ou ocasional. 2010 é o Ano Internacional da Biodiversidade(AID) e Ano Europeu do Combate à Pobreza e à Exclusão Social (AECPES). Duas causas de indiscutível interesse por serem determinantes na construção de um futuro mais saudável, sustentável e de maior equidade social.
A Cáritas acolhe com muito interesse estas duas iniciativas pelas implicações que têm na sua missão, de forma particular a que diz respeito ao maior flagelo do mundo que, por falta de vontade política e insuficiente compromisso individual e colectivo das sociedades, teima em persistir e, nalgumas vertentes em franco recrudescimento. Em síntese, são objectivos do AECPES: Reconhecer o direito das pessoas a viver com dignidade e a participar activamente na sociedade; Reforçar a adesão do público às políticas e acções de inclusão social, sublinhando a responsabilidade de cada um na resolução do problema da pobreza e da marginalização; Assegurar uma maior coesão da sociedade; Mobilizar todos os intervenientes, a diferentes níveis, para um esforço continuado. São estas, também, as preocupações que estão na origem da decisão da Conferência Episcopal Portuguesa ao instituir, no terceiro Domingo da Quaresma, o Dia Nacional da Cáritas, que se assinala, durante a semana que o antecede, com um conjunto muito variegado de realizações em todas as Dioceses. Em todas elas, entre os dias 4 e 7 de Março, gente voluntária percorrerá as ruas das nossas terras a pedir o donativo monetário para os empobrecidos e, no Dia Cáritas, ao redor do altar da eucaristia, sob a presidência daquele que também preside à caridade em cada Diocese – o Bispo – acontece o ponto ano de todas as iniciativas. Em algumas, são promovidos ainda colóquios, exposições fotográficas e de trabalhos, dádivas benévolas de sangue e de medula, feiras socioculturais, concertos musicais…
A nível nacional realça-se a Nota Pastoral do Presidente da Comissão Episcopal da Pastoral Social que a partir do lema do Dia – Erradicar a Pobreza. Radicar a Justiça – nos propõe acutilantes reflexões e lança irrenunciáveis desafios. Aconselhamos, vivamente, a sua leitura e reflexão, individual, e em grupo sobre ela. No dia 2 de Março, na estação do Metro do Alto dos Moinhos, em Lisboa, entre as 10h00 e as 18h00, serão convidados cidadãos com responsabilidades públicas e todos os demais a subscreverem uma Petição Europeia a apresentar ao Parlamento Europeu, pedindo que redobrem as suas preocupações, na erradicação da pobreza infantil, no assegurar um nível mínimo de protecção social para todos, no aumento da protecção de serviços sociais e de saúde e, ainda na garantia de emprego digno para todos. Nesse dia, tentaremos promover, com quem quiser participar, reflexões sobre as problemáticas desta petição. Neste dia, em muitas Dioceses será também iniciada esta subscrição que se prolongará por todo o ano. A nível europeu pretende-se conseguir, pelo menos, um milhão de assinaturas. Em Portugal, 30 mil. Iremos, decerto, ultrapassar este número. Com esta petição, como com outras actividades concretizadas durante a Semana Cáritas, pretende-se assinalar o AECPES. Outras se seguirão ao longo de todo ano.
Porém, tudo o que está programado só valerá a pena se conseguir a adesão dos cidadãos e cidadãs, em particular, dos cristãos e cristãs, independentemente da missão que desempenhem na Igreja, e se as mensagens difundidas foram acolhidas no coração de cada um/a para que cheguem às consciências em ordem à sua transformação. Só assim se alcançará uma Nova Ordem, marcada pela radicação da justiça e pela erradicação da pobreza.
Se tal acontecer, compensarão os esforços que comporta a criação de Anos Internacionais e Dias Nacionais. Se não, é tempo perdido. Que assim não seja.
Eugénio Fonseca, presidente da Cáritas Portuguesa