Elena Lasida
CONCLUSÃO DO II DIA MUNDIAL DOS POBRES
No nosso mundo, a pobreza é cada vez mais um objeto de luta social. Diminuí-la e erradicá-la são parte habitual dos objetivos e programas políticos de cada país e, depois do ano 2000, também do programa internacional das Nações Unidas. A definição daquilo a que inicialmente chamámos «Objetivos do Milénio para o Desenvolvimento» e que, a partir de 2015, apelidámos de «Objetivos do Desenvolvimento Sustentável», foi, de facto, uma grande conquista. Pela primeira vez, a comunidade internacional fixou objectivos quantificáveis para reduzir a pobreza a nível mundial. A definição conjunta destes objectivos permitiu a libertação de recursos e sustentou políticas de redução da pobreza em maior escala. São tudo motivos de alegria!
Ora, esta boa nova tem um efeito paradoxalmente negativo: o objetivo de diminuição da pobreza veio reforçar a redução do «pobre» à categoria de «objeto». A pobreza tornou-se mais evidente nas estatísticas e nas políticas, o que permite tornar mais eficazes os programas de luta contra a pobreza. Mas, ao mesmo tempo, esta objetivização da pobreza torna «o pobre» mais invisível. Vemos, sobretudo, o que lhe falta: ao pobre falta comida, falta alojamento, o que vestir, emprego, cuidados de saúde, educação… E vemos cada vez menos a pessoa que vive em situação de pobreza, com toda a complexidade associada à vida humana, marcada por necessidades a satisfazer, mas também por competências a empregar. O sujeito transforma-se em objeto.