“Sem filhos não há futuro”

Reflexões para cada dia da Semana da Vida De 16 a 23 de Maio deste ano celebra-se a Semana da Vida. Com o objectivo de viver melhor estes dias, a Comissão Episcopal da Família propõe reflexões para cada dia: 16 de Maio – A vida é um dom de Deus; 17 de Maio – Homem e Mulher cocriadores; 18 de Maio – Paternidade e Maternidade Ao Serviço Da Dignidade Humana; 19 de Maio – Respeitar a vida em todas as etapas; 20 de Maio – Vida promovida Vida ameaçada; 21 de Maio – A vida como 1º fundamento da ética; 22 de Maio – Somos um povo pela vida; e 23 de Maio – Sem filhos, que vida? Que futuro? Domingo, 16 de Maio de 2004 A vida é um dom de Deus “Toda a vida é uma participação da vida divina. Nós vivemos porque um sopro divino nos tornou vivos. Esta convicção atravessa a Bíblia do primeiro ao último livro (Gn 2, 7; Ap 11, 11). A vida é, pois, o primeiro dom de Deus, e a sua manifestação mais nobre é louvar o Senhor que nos faz viver. Cultivá-la e respeitá-la é manifestação da nossa fidelidade ao Deus que nos faz viver. O respeito pela vida ganha dimensão religiosa, e constitui um mensagem gravada no coração de cada homem, tornando-se lei natural e universal. Mas quem reconhece Deus como fonte da vida, sabe que qualquer agressão contra ela magoa o coração de Deus. O respeito pela vida faz, assim, parte da lei fundamental dada por Deus ao seu Povo: “Não matarás!” (Ex 20, 13)” (CEP, Meditação sobre a vida, Março de 2004, n.2, § 2). Do facto de Deus ser a plenitude da vida e de toda a vida ser uma participação da vida divina, segue-se uma nova concepção da existência humana como dom, como tarefa, como responsabilidade perante aquilo que se recebe e do qual se participa, pelo sopro vital que Deus insuflou em nós, em todo o ser humano. Como identificar manifestações desta vida que se recebe, ao nível pessoal, familiar e social alargado? Como defender esta vida e como promovê-la ao longo da história pessoal e familiar? Como conciliar a vida como participação com os sinais de menos vida e com a actual cultura que tantas vezes privilegia a não vida e até a morte? O modo menos digno com que muitos ainda vivem é já para nós, crentes no Deus da Vida, uma preocupação e um empenhamento pela mais vida? Segunda, 17 de Maio de 2004 Homem e Mulher cocriadores (Ler Meditação sobre a Vida, CEP, 2004, n.5) O ser humano necessita, para a sua realização plena, de uma relação criadora em toda a sua extensão fértil, consigo e com os outros, através da dinâmica cultural e com a natureza, expressa nessa palavra madre que é a terra, terra a que nos pertencemos na mais profunda intimidade mas que também nos pertence por desígnio divino. Assim, criar e ser fértil, não se esgota na materialidade intrínseca do ser humano; criar e ser fértil encontra a sua plenitude no dom que Deus nos deu e que nos torna, por isso, co-criadores. Como pode a família ser fértil na sociedade de hoje? Como pode o casal dar a vida a novas vidas e a vidas sem vida? De que modo pode a cultura de auto-satisfação ser bloqueio deste desígnio de co-criação a que é chamada a família cristã? Terça feira, 18 de Maio de 2004 Paternidade E Maternidade Ao Serviço Da Dignidade Humana (Ler Meditação sobre a Vida , CEP, 2004, n.5,) A dignidade transcendente da vida humana, recebida e criada no seio do lar cristão através do amor, é fundamento de vida. Não é apenas o facto de transmitir a vida biológica, que coloca os casais cristãos ao serviço do Criador. A paternidade e maternidade ao serem transmissores da vida e da dignidade da vida, deverão manter viva a consciência dessa mesma dignidade. A união do casal, a sua complementaridade de homem e mulher, os valores transmitidos pela educação e pelo exemplo concretizam nos filhos a consciência de filiação divina tendendo por isso para o objectivo da sua existência. A oração em família e vida sacramental são para nós cristãos a verdadeira dinâmica espiritual, sem a qual dificilmente conseguiremos dar os frutos a que somos naturalmente chamados como filhos de Deus. Como aceitamos o desafio de transmitir a vida e os valores Cristãos? Somos verdadeiramente colaboradores do Criador na comunicação da vida e da dignidade humana? A educação que damos aos nossos filhos centra-se realmente no essencial, ou perde-se no imediatismo do quotidiano? Que papéis deverão assumir pai e mãe na formação da identidade da pessoa e qual a sua importância na revelação da dignidade humana? De que modo poderemos, como pai e mãe, educar para a afirmação da dignidade no confronto com os valores da sociedade actual da exaltação do sucesso e da competição? Quarta, 19 de Maio de 2004 Respeitar a vida em todas as etapas (Ler Meditação sobre a Vida, CEP, Março 2004, nº3) A vida como processo de desenvolvimento contínuo, como um cumprir de etapas subsequentes, deve ser respeitada em todos os momentos, pois todos são fundamentais para que cada ser humano possa caminhar para a plenitude. Não é lícito bloquear, perturbar ou mesmo castrar uma etapa que nos possa parecer primária ou absurda. Todas as etapas têm de ser percorridas para que se forme um ser livre, responsável e feliz. Só como ser completo, que põe a render os seus talentos, pode o ser humano dar a justa medida do que é aos outros, permitindo que ao obter o melhor de si próprio também eles o façam e o atinjam. Que papel pode ter cada pessoa no seio de uma família: o bebé, a criança, o adolescente, o adulto, o idoso, todos têm um papel? O que podemos fazer para que todos tenham a plenitude em cada etapa da sua vida? Certamente conhecemos famílias que, apesar das dificuldades, consentiram em apoiar a diferença e assim ser um referencial de vida. Como é que a nossa sociedade apoia, aceita e valoriza a fragilidade, a velhice e a deficiência? Quinta, 20 de Maio de 2004 Vida promovida Vida ameaçada (Ler Meditação sobre a Vida, n.9, CEP 2004) O homem é chamado a uma plenitude de vida que consiste na participação da própria vida de Deus. Todos recebemos a vida de Graça ou por Graça. Actualmente é frequente ouvir-se que não faz sentido ganhar a vida de Graça para passar a vida a ganha-la. Ganhar e perder são dois verbos utilizados pelo próprio Cristo em aparente contra-sentido: “Quem quiser ganhar a vida há-de perdê-la; Quem a perder há-de ganhá-la”. A confusão da actualidade decorre da frequente identificação do ganho com o benefício, chegamos mesmo a designar uma porção de matéria pela palavra “bem”. Este erro decorre de uma opção válida: Se chamarmos “ganhar a Vida” ao “alcançar do Bem” no seu sentido supremo e transcendente tudo parece fazer sentido; mas o mais frequente é reduzir a expressão “ganhar a vida” ao sustento quotidiano ou mesmo à matéria do supérfluo, do excedentário, ao qual equivocamente chamamos “bens”. Promover a Vida é algo misterioso que surge com maior riqueza quando usamos aquela que nos foi dada em benefício da sua própria continuação. Promover significa colocar em movimento; assumindo-se que todo o movimento tem um início, a promoção da vida está, antes de mais, na acção original que transcende as opções humanas. Ao Homem e à Mulher é consentido colaborar na promoção da vida. Contudo não lhes é possível determinar. Mesmo quando promovida, a vida é, na sua componente biológica, de uma fragilidade reconhecida e de uma limitação temporal anunciada. A vida biológica é por natureza vida ameaçada. Mas a maior ameaça é a que decorre da assunção de uma derrota: “Ganhar a Vida é difícil, mais fácil é aceitar perdê-la!”. E assim a Vida (ou a meta – vida) é rejeitada numa atitude de acomodação ao lado conhecido da existência numa rejeição do acto criador. Sendo a morte a contradição fundamental da Vida não resta à vida e à morte uma terceira alternativa. Daí que toda a ameaça à Vida alheia é um prenúncio de morte que, se voluntário, se confundirá com o homicídio. Apesar de ser segura a limitação temporal da vida terrena será legítima a sua amputação? Será razoável admitir que os estádios da vida biológica mais fortes sejam também os mais válidos? Será que os estados de maior debilidade como a gestação ou a velhice podem permitir a terceiros, responsáveis familiar ou socialmente, a opção pela morte? Sexta, 21 de Maio de 2004 A vida como 1º fundamento da ética (Ler Meditação sobre a vida, CEP, Março 2004, n.6) Como primeiro fundamento da ética, a vida é a limitadora de leis, pensamentos, opiniões e até vontades individuais. Vida é Vida. Qualificá-la conforme existência intra ou extra uterina, como vegetativa, deficiente, não é mais do que isso mesmo: qualificações. Todas elas se encerram numa mesma e única verdade, a verdade de que a vida é um dom, seja qual for o seu estádio e, como tal, é como dom que deve ser vista antes de a reduzirmos à nossa compreensão e catalogá-la. Se fundamentarmos a ética na aceitação desta verdade, decorre com simplicidade que é um valor absoluto, e facilmente deixam de existir questões que hoje em dia se debatem com tanta celeuma, como a legitimação do aborto, entre outras. Aborto, eutanásia, fecundação artificial, manipulação genética, onde cabem na palavra vida? Como cabem na existência? Onde cabem na plenitude a que cada ser humano é chamado? Sábado, 22 de Maio de 2004 Somos um povo pela vida (Ler Meditação sobre a Vida, CEP, 2004, n.4,) Interiormente renovados pela graça do Espírito, «Senhor que dá a vida», tornámo-nos um povo pela vida e como tal somos chamados a comportar-nos[1]. A Igreja é um povo pela vida; o empenho da Igreja como comunidade no esforço de defender e promover, venerar e amar a vida implica-a em respostas sociais concretas de apoio à vida e à família. A tomada de consciência das novas emergências e a sensibilidade às fragilidades e carências exige a organização da comunidade cristã em acção concertada e generosa. Como nos organizamos como comunidade pela vida? Será que temos consciência das dificuldades que outros têm em viver e transmitir a vida? O que poderemos ainda fazer para ajudar os membros da nossa comunidade a compatibilizar trabalho e família e valorizar a família? [1] João Paulo II, Carta Encíclica Evangelium Vitae, n.79. Domingo, 23 de Maio de 2004 Sem filhos, que vida? Que futuro? “A paternidade e a maternidade são a primeira expressão deste serviço da vida. Ao homem e à mulher foi dado por Deus esse dom maravilhoso de serem colaboradores do Deus criador na comunicação da vida. O acto de procriar é um serviço à vida, que origina uma exigência de serviço à vida, enquanto pais e filhos coexistirem neste mundo. Como são maravilhosos os testemunhos de tantas mulheres mães, que se sujeitam a todos os sacrifícios para salvarem a vida dos seus próprios filhos, em maternidades de risco; e da generosidade abnegada dos pais que sofrem e lutam para que os seus filhos vivam e cresçam na vida” (CEP, Meditação sobre a vida, n.5, § 1). O desafio do “crescei e multiplicai-vos”, é hoje confrontado, nos países ocidentais, e no nosso próprio Pais, com uma tremenda baixa de natalidade. Dizem os dados estatísticos do INE que em 2003 nasceram em Portugal 111.954 bebés, o que corresponde a uma diminuição de 2,1 por cento em relação ao ano anterior, contrastando com um aumento de 2,2 por cento do número de mortes entre a população residente. E ainda: em 2050, poderemos ver diminuída a nossa população para menos 5.000.000. As questões da demografia e da natalidade, são questões da vida e do futuro que não podem ficar esquecidas pelos crentes e por todos os homens e mulheres de boa vontade. Como identificar as causas desta baixa de natalidade sobretudo no nosso País? Se os pais e as mães, se as famílias do nosso País não contribuírem para inverter esta situação, que consequências poderão daí advir? Sem filhos, com muito poucos filhos, que vida poderá esperar a sociedade ocidental? Que futuro poderemos esperar enquanto as famílias se não abrirem a uma maior generosidade que vá para além do filho único, ou de planeamentos familiares demasiado calculados, sem espaço para criar, com o Senhor da vida, este mundo populoso e belo onde todos possam nascer, viver e crescer em harmonia, segundo o plano da fecundidade e da transmissão da vida que se recebeu como dom e como tarefa?

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