Sem assunto

João Aguiar Campos

 

Sem assunto 
João Aguiar Campos
Têm todo o direito de estranhar o título que encima estas linhas. De facto, cada um dos leitores encontraria, facilmente, tema para uma crónica nos dias quentes que correm: a política vive um agosto de altas quezílias; o verão, que se dizia que não teríamos, está aí escaldante e intenso; os bombeiros fazem sacrifícios extraordinários, compensando preguiças ou descuidos alheios; o mercado desportivo balança entre as transferências certas, as duvidosas e as que bem se gostaria que acontecessem; as televisões aceleram pelo país, mostrando ao vivo num concelho o espetáculo que há oito dias foi transmitido de outro… 
Temos ainda as autárquicas, mais os seus candidatos incertos; a alegria saudosa dos emigrantes; as festas de gente rotulada de famosa nas bordas de um pôr-do-sol; os concertos que enchem de decibéis ouvidos desejosos de esquecerem os dias arranhados.
Com tanto assunto possível, como é possível não ter assunto?.. Perguntam e perguntam muito bem.
Mas é, respondo eu… Porque, afinal, a relevância das coisas também depende do nosso estado de espírito. E o meu, nesta fase do ano, não está para fazer de conta.
Sim; não vou fazer de conta que o debate político está acima de uma discussão de comadres no tanque da aldeia; que a meteorologia  com os seus alertas é mais grave no terreno que nos noticiários que a antecipam; que no devido tempo os arredores das casas que o fogo ameaça foram cuidadosamente limpos; que não há a tentação de vender, dando como adquirido o primeiro interesse do empresário; que não há cirúrgica calendarização de festas e inaugurações; que todos os que se queixam da crise vivem como se a sentissem…
Ora, assim sendo, abdicando de tudo isto, restar-me-ia apenas escrever sobre coisas boas e honestas. Mas isso não é tema incrementador de tiragens — embora me pareça que, pensando bem, pela novidade (independentemente das outras e fundamentais razões), pudesse fazer sentido!
Fica para depois das férias; quando uns dias de repouso e reflexão nos fizerem ver que andamos aleijados nos critérios e cheios de um enorme vazio!…

Têm todo o direito de estranhar o título que encima estas linhas. De facto, cada um dos leitores encontraria, facilmente, tema para uma crónica nos dias quentes que correm: a política vive um agosto de altas quezílias; o verão, que se dizia que não teríamos, está aí escaldante e intenso; os bombeiros fazem sacrifícios extraordinários, compensando preguiças ou descuidos alheios; o mercado desportivo balança entre as transferências certas, as duvidosas e as que bem se gostaria que acontecessem; as televisões aceleram pelo país, mostrando ao vivo num concelho o espetáculo que há oito dias foi transmitido de outro… 

Temos ainda as autárquicas, mais os seus candidatos incertos; a alegria saudosa dos emigrantes; as festas de gente rotulada de famosa nas bordas de um pôr-do-sol; os concertos que enchem de decibéis ouvidos desejosos de esquecerem os dias arranhados.

Com tanto assunto possível, como é possível não ter assunto?.. Perguntam e perguntam muito bem.

Mas é, respondo eu… Porque, afinal, a relevância das coisas também depende do nosso estado de espírito. E o meu, nesta fase do ano, não está para fazer de conta.

Sim; não vou fazer de conta que o debate político está acima de uma discussão de comadres no tanque da aldeia; que a meteorologia  com os seus alertas é mais grave no terreno que nos noticiários que a antecipam; que no devido tempo os arredores das casas que o fogo ameaça foram cuidadosamente limpos; que não há a tentação de vender, dando como adquirido o primeiro interesse do empresário; que não há cirúrgica calendarização de festas e inaugurações; que todos os que se queixam da crise vivem como se a sentissem…

Ora, assim sendo, abdicando de tudo isto, restar-me-ia apenas escrever sobre coisas boas e honestas. Mas isso não é tema incrementador de tiragens — embora me pareça que, pensando bem, pela novidade (independentemente das outras e fundamentais razões), pudesse fazer sentido!

Fica para depois das férias; quando uns dias de repouso e reflexão nos fizerem ver que andamos aleijados nos critérios e cheios de um enorme vazio!…

 

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