Henrique Joaquim recorda o desafio que representam as pessoas e famílias que «estão a passar por sérias dificuldades»
Lisboa, 12 fev 2014 (Ecclesia) – O presidente da Comunidade Vida e Paz (CVP) defendeu hoje a necessidade de um “trabalho em rede”, entre organizações privadas e públicas, para enfrentar os problemas dos sem-abrigo, demasiado “complexos” para que uma instituição os consiga resolver “sozinha”.
Henrique Joaquim falava à Agência ECCLESIA no dia em que a Santa Casa da Misericórdia de Lisboa vai apresentar um estudo, no qual revela a existência de pelo menos 852 pessoas sem-abrigo na cidade e pede uma política concertada de reintegração social.
O responsável realça que a CVP “sempre se afirmou como um projeto de esperança para as pessoas” e destaca o desafio que representam as pessoas e famílias que atualmente, apesar de não encaixarem na definição de sem-abrigo, “estão a passar por sérias dificuldades”.
“Neste momento, elas representam cerca de 30 por cento do número de pessoas que apoiamos por noite, muitas procuram apenas a refeição que utilizamos para entrar em relação, mas algumas nem a relação querem ter, por uma questão de vergonha”, explica.
Henrique Joaquim sublinha, por outro lado, que os dados avançados mostram que, apesar dos “passos significativos” que têm sido dados nesta área, nos últimos anos, o trabalho realizado “ainda não é suficiente”, e dá como exemplo os casos de pessoas “que têm problemas de saúde mental associados”.
“Aqui as instituições privadas não conseguem fazer nada ou fazem muito pouco, porque a nossa intervenção depende da vontade da pessoa em deixar-se ajudar, têm de existir uma ação em parceria com as instâncias da Justiça e da Saúde”, salientou.
Outra questão prende-se também com os apoios públicos que são concedidos às “instituições particulares que estão no terreno” e que têm sido “cada vez mais reduzidos”.
“Há grandes lacunas que não podem ficar todas sobre os ombros das entidades privadas”, considerou o presidente da CVP, para quem a solução para o problema dos sem-abrigo carece de “um desígnio comum, um objetivo que mobilize todos” os atores sociais.
“Há várias instituições com anos de experiência nesta área, que podem sentar-se e desenhar uma estratégia, pôr como objetivo que dentro de 10, 15 anos, não haja nenhuma pessoa a dormir mais de 24, 48 horas na rua”, exemplificou.
O estudo da Santa Casa da Misericórdia indica que entre os sem-abrigo sinalizados na cidade de Lisboa, há 343 que recorrem aos Centros de Acolhimento para passar a noite.
Em termos de perfil, a maioria das pessoas é do sexo masculino, de nacionalidade portuguesa, tem entre 35 e 54 anos, é solteira e concluiu o ensino secundário técnico e superior.
Henrique Joaquim diz que estes dados vieram “reforçar o perfil” que a CPV “já tinha traçado”, junto das cerca de 530 pessoas que contacta e apoia por noite, na rua.
No entanto, por ser mais abrangente, o estudo acaba por ser uma “enorme mais-valia”, porque permitirá “reposicionar” recursos “para chegar a situações que até aqui eram desconhecidas”.
Um dos aspetos identificados está relacionado com a estrutura e o horário dos centros de acolhimento noturnos, que estão muitas vezes desfasados das reais necessidades dos sem-abrigo.
A Comunidade Vida e Paz é uma instituição particular de solidariedade social, sem fins lucrativos, tutelada pelo Patriarcado de Lisboa, e que vai assinalar 25 anos de existência no próximo dia 17 de abril.
JCP