Sé do Funchal: «Em 500 anos nunca se viu o teto como agora se pode ver» – Cónego Marcos Gonçalves

Durante três anos, 36 restauradores trabalharam para fazer da Catedral um espaço de visita obrigatória onde persiste, cinco séculos depois, o cheiro da madeira

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Funchal, 18 mai 2022 (Ecclesia) – A Sé do Funchal foi alvo de uma intervenção profunda no telhado exterior, na capela-mor, teto e iluminação, permitindo hoje oferecer aos madeirenses e aos turistas uma “belíssima obra”, num “monumento e igreja” com “grande impacto” no centro da cidade.

“Esta obra foi um grande esforço quer da comunidade, do Governo Regional da Madeira e da União Europeia – mais de um milhão de euros. Em 500 anos nunca se viu o teto como agora se pode ver”, regista à Agência ECCLESIA o pároco da Sé, o cónego Marcos Goncalves.

Durante três anos, 36 restauradores num trabalho “de bisturi e cotonete”, revelador de grande cuidado e minúcia, dividiram o espaço com os habituais fiéis da paróquia, mais pequena da Madeira, com as celebrações e ultrapassando as contingências de um trabalho feito “durante a pandemia”.

“Temos uma comunidade muito particular porque acolhe os paroquianos da Sé, é a paróquia mais pequena da Madeira com três mil habitantes, mas estando no centro do Funchal, a população desce à cidade para fazer a sua vida e vem à missa antes de ir trabalhar. Às 8h da manhã temos a primeira celebração e participam mais de 200 pessoas. Há muita prática religiosa, e percebemos que é uma igreja de todos, é a mãe de todas as paróquias”, indica o responsável.

Localizada no centro da cidade do Funchal, a Sé foi mandada construir por D. Manuel no ano de 1493 e apresenta influências das viagens que o rei fizera, e exibe “1500 metros quadrados de teto mudéjar, de influência islâmica”, feito em madeira de cedro, que guarda ainda o “cheiro original” da madeira

Com o investimento na iluminação da Sé, é agora possível “contemplar” o desenho do teto, feito “de madeira muito dura, pertencente à floresta Laurissilva, muito perfumada”, e que, pelas suas características, permitiu a sua durabilidade.

“Agora apresenta desafios, porque durante a celebração as pessoas olham mais para o teto e menos para o celebrante”, brinca o cónego Marcos Gonçalves.

A Sé ilumina-se durante uma hora, na parte da manhã, durante o mesmo período da parte da tarde, e em todas as celebrações eucarísticas, explica o pároco.

A comunidade, dada a localização da Sé e o acolhimento constante de turistas, procura que as celebrações possam ter “partes em inglês”, procurando “acolher melhor quem visita”; os altares apresentam também explicações em inglês “com o código QR para que possam ler mais informação”.

Foto: Agência ECCLESIA/PR

“A catedral, no centro do Funchal, ocupa o coração da baixa da cidade e, como monumento e como igreja, tem muito impacto na vida das pessoas e dos turistas que nos visitam. As pessoas gostam de entrar, tirar fotografias, comentar e seguir em frente para as restantes visitas”, enuncia.

O cónego Marcos Gonçalves destaca ainda o investimento de D. Manuel na construção desta igreja, usando o “seu dinheiro” para oferecer o retábulo e o sacrário de prata, “peças únicas em Portugal, que ficaram e foram preservadas no lugar para onde foram criadas”.

Está também prevista uma “verba de um fundo comunitário” para recuperar “o retábulo maneirista, do tempo dos Filipes, que necessita de uma intervenção porque os altares voltados para norte, para a montanha, sofrem mais humidade e estão mais estragados” do que os restantes.

Durante a obra foi descoberto “folha de ouro” por detrás das “paredes grossas de um marmoreado fingido” nos arcos, mas, indica o responsável, esta intervenção terá de ficar para outra altura, “pois demora muito tempo e é necessário verba para esse trabalho”.

“Foi descoberto acidentalmente a folha de ouro por detrás das paredes grossas dos arcos e foi possível fazer intervenção em alguns arcos como a capela-mor e a capela do Santíssimo, para podemos contemplar a beleza de ouro nos arcos. O restante ficará para o futuro”, adianta.

O responsável fala ainda na intenção de “abrir a torre sineira a visitas”.

“Estamos a fazer o projeto e será uma obra de recuperação grande, tornando-se posteriormente uma atração grande para o turismo e para os madeirenses”, valoriza.

A obra, cujos resultados “ultrapassaram as expetativas”, mostra agora “uma nova igreja” aberta à comunidade e a todos quantos visitam a cidade do Funchal.

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PR/LS

 

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