«Em primeiro lugar devem estar os doentes» sublinha o antigo responsável pela ação pastoral da Igreja Católica nesta área
Lisboa, 15 fev 2014 (Ecclesia) – O monsenhor Vítor Feytor Pinto está a assistir com preocupação aos cortes financeiros no Sistema Nacional de Saúde e pede “a maior cautela” na definição destas políticas, porque “em primeiro lugar devem estar os doentes”.
Em entrevista disponível na edição mais recente do Semanário ECCLESIA, o sacerdote, que durante 28 anos esteve à frente da Comissão Nacional da Pastoral da Saúde, realça que a questão “orçamental” não deve “de forma nenhuma” colocar em causa o essencial, “e o essencial é a pessoa”.
As restrições económicas implementadas pelo Governo estão a ter impacto nos recursos humanos e materiais disponíveis para a população e a levar inclusivamente que alguns tratamentos e terapias sejam abandonados.
O monsenhor Vítor Feytor Pinto recorda a mensagem que o Papa Francisco incluiu na sua exortação Evangelii Gaudium (A alegria do Evangelho), de que “a economia é que serve a pessoa e não o contrário”.
“Ele diz expressamente: não a um dinheiro que está centrado em si próprio e mata a pessoa”, aponta o sacerdote.
De acordo com aquele responsável, esta premissa da prioridade ao ser humano tem de estar também sempre presente na cabeça de “todos aqueles que trabalham em saúde”, incluindo os padres e voluntários.
“Porque os padres também podem cair no mesmo. Em vez de se relacionarem com a pessoa darem-lhe um sacramento e irem embora. Um sacramento nunca pode ser uma cortina entre o padre e o doente, tem de ser ponte”, sublinha o sacerdote.
Dos 28 anos que cumpriu na Coordenação da Pastoral da Saúde, o padre Vítor Feytor Pinto destaca sobretudo três vetores essenciais: “A humanização, a ética e a importância da espiritualidade como terapia”.
No que diz respeito à humanização, o pároco do Campo Grande, em Lisboa, realça que “o progresso na medicina” é positivo mas acarreta consigo um “quadro de tecnicismo” que abre espaço para uma “maior desumanização”.
“Os aparelhos não podem constituir uma cortina que dificulte o contacto pessoal. Mas a humanização também é para os técnicos, eles também têm de ser tratados humanamente”, alerta o sacerdote, para quem esta questão deve ser tida como “uma responsabilidade fundamental da sociedade”.
JCP