Saúde: «Oficina do Cuidador» é uma aposta para a valorização dos cuidadores informais (c/vídeo)

Espaço “Dar Mais”, em Estarreja, inova com iniciativas para cuidar de quem cuida

Agência ECCLESIA/TAM – Joana Venâncio e Sofia Mendoza

Estarreja, 06 fev 2020 (Ecclesia) – A psicomotricista Sofia Mendoza defende que os cuidadores informais “não estão a ser ouvidos e precisam de ser valorizados”, apostas que se concretizam na Oficina do Cuidador.

“Há muitos passos para ser dados no estatuto do cuidador informal e os próprios cuidadores não estão a ser ouvidos, faz falta serem valorizados para que a rede social seja mais fácil e se perceba o real mundo dos cuidadores que existem”, refere, em declarações à Agência ECCLESIA.

Sofia Mendoza é também a diretora da “Dar Mais” uma pequena empresa que nasceu, no centro da cidade de Estarreja, na diocese de Aveiro, com a “preocupação de dar mais vida aos anos e não apenas anos à vida”.

“Estamos atentos ao que se passa à nossa volta, não há apoio às pessoas que cuidam, aqui há muitos idosos, e não há resposta para todos, com as Oficinas do Cuidador e outros grupos que temos, tentamos dar resposta, vamos ainda a lares, a casas, centros de acolhimento de idosos, e ainda prestamos apoio individual e em grupo”, informa.

Apesar de ser “muito difícil chegar aos cuidadores”, o espaço Dar Mais, parceiro da Associação Nacional dos Cuidadores Informais, promove as Oficinas do Cuidador, sessões mensais a um preço simbólico, onde o acompanhamento e a gestão de emoções são o segredo para cerca de duas horas de relaxamento.

“A Oficina do Cuidador é a partilha de experiências dos cuidadores, sejam formais ou informais apesar do nosso foco serem os informais porque não têm tanto apoio das entidades, os lares estão lotados e é necessário dar apoio a quem cuida”, explica a responsável Joana Venâncio.

A psicóloga pensa em cada pormenor da Oficina do Cuidador, para “cuidar de quem cuida”, seja da formação à informação, da respiração às técnicas de ‘mindfulness’, para que os cuidadores informais percebam que “não estão sós, não são seres únicos e que há pessoas que têm as mesmas dificuldades e frustrações”.

“Queremos que a pessoa se sinta bem acolhida, chegam com muitos sentimentos de culpa, de deixar a pessoa cuidada em casa sozinha, têm frustrações de dar o melhor e a pessoa cuidada não receber da melhor forma, há depois casos de agressividade da pessoa cuidada que nem sempre é fácil do cuidador perceber…” explica.

Quanto ao recente estatuto de cuidador informal a psicóloga afirma “ser necessário” e que “faz todo o sentido”.

“Faz todo o sentido dar estatuto que tanto necessitam também e espero que venha equilibrar alguma coisa, dar o papel importante que estas pessoas merecem, o reconhecimento”, refere.

Uma das cuidadoras informais assíduas das sessões mensais, seja da consulta da memória ou da Oficina do Cuidador é Lina Silva, de 73 anos.

Agência ECCLESIA/TAM – Lina Silva

“Vir aqui é uma alegria muito grande, aprende-se sempre qualquer coisa, mesmo nas coisas insignificantes, a gente diverte-se, há muita união e parecemos umas crianças… Brincamos, sai-se daqui mais leve”, confessou à Agência ECCLESIA.

Lina Silva teve uma “vida muito preenchida”, durante 22 anos tomou conta de crianças em sua casa, depois dedicou-se ao marido, portador da doença de Alzheimer, conta com a ajuda do apoio domiciliário mas não podia “ficar parada”.

Esta cuidadora informal descobriu que “precisava de se sentir preenchida” faz hidroginástica duas vezes por semana, voluntariado no hospital e participa na universidade sénior, depois começaram as idas ao espaço Dar Mais.

“Vamos daqui com outro olhar das coisas, às vezes apetecia-me resmungar com o meu marido mas logo passa… Aqui eu sinto-me bem, falo dos problemas e elas entendem-me e falamos a mesma linguagem”, elogia.

A diretora do espaço, Sofia Mendoza, acrescentou ainda que estas Oficinas do Cuidador, além de serem presenciais, têm ainda a possibilidade de serem acompanhadas online e assim poderem chegar a outros cuidadores informais que, “não podendo sair de casa” possam ter esta forma de comunicação como uma mais valia para o seu dia a dia.

“É necessário que os cuidadores informais tenham esta noção que se precisam de cuidar, porque senão deixam de poder cuidar da outras pessoa”, remata a psicóloga Joana Venâncio.

SN

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