Enfermeira-chefe da Casa de Saúde da Idanha defende «aposta muito grande» na prevenção e na promoção, e sugere, por exemplo, uma disciplina de «educação para a saúde mental»
Lisboa, 10 out 2025 (Ecclesia) – Mariana Bordalo Rodrigues e Paulo Paiva, neste Dia Mundial da Saúde Mental (10 de outubro), destacam a importância do cuidar e do autocuidado, desta ser uma área mais visível, e o que distingue o trabalho das Irmãs Hospitaleiras.
“Precisamos, claramente, de uma população conhecedora e de políticas que ajudem a que possa ser priorizada esta área, a que o acesso aos cuidados possa ser facilitada, e a combater este estigma que ainda existe; que continua e será, porventura, um dos maiores problemas”, disse a enfermeira-chefe da Casa de Saúde da Idanha, das Irmãs Hospitaleiras, esta sexta-feira, em entrevista à Agência ECCLESIA.
Mariana Bordalo Rodrigues explica que “há dificuldade” em compreender que a cabeça é um órgão e, “como um órgão pode adoecer e precisa ser cuidado”, por isso, é preciso existir “uma aposta muito grande na prevenção e na promoção, independentemente de ter que existir no tratamento”.
À Casa de Saúde da Idanha (Sintra), segundo a enfermeira-chefe, há pessoas que chegam “com uma experiência já muito dura, muito árdua, que palmilhou o âmbito da saúde mental”.
“Mas existem pessoas, exatamente, como nós, em que o momento da sua vida as coisas não correram bem e é um estado inicial, e regressam às suas vidas da melhor forma”, acrescentou Mariana Bordalo Rodrigues.
Combater o estigma, procurar a ajuda necessária, e encontrar cuidados que integrem todas as dimensões da vida humana, são propósitos lembrados no Dia Mundial da Saúde Mental, que se comemora hoje, dia 10 de outubro, e foi instituído pela Federação Mundial da Saúde Mental, em 1992.
Sobre o estigma, Paulo Paiva explica que as pessoas que têm saúde mental, às vezes, comportam-se de uma maneira que “saem um bocadinho da norma”, o que contribui para se destacarem, “às vezes, pelos piores motivos”, e tudo contribui para “haver aqui a diferença, e lá está a marginalização, a exclusão, o estigma”.
“Isso faz com que, às vezes, mesmo ali em idades mais novas, e sabemos como as crianças, também são no apontar a diferença, possa haver essa discriminação que acontece logo desde pequenos. Em adultos isso também acontece, muitas vezes a pessoa sente-se também diferente, sente que não encaixa, sente que não faz parte, não consegue encontrar a identificação com os outros, ou com aquilo que faz. Isso provoca também, às vezes, na própria pessoa um afastamento, um isolamento”, desenvolveu o entrevistado que faz parte da equipa da Pastoral da Saúde das Irmãs Hospitaleiras em Lisboa.
Segundo a enfermeira-chefe da Casa de Saúde da Idanha, no Sistema Nacional de Saúde a doença mental começa por ser “algo muito menos visível” e sublinha que uma razão é “a falta de conhecimento que ainda existe acerca da cabeça, e não a aceitar como um órgão, como todos os outros”, porque uma questão ortopédica, “uma perna partida, é algo que toda a gente visualiza”, e é mais fácil de “compadecer-se ou compreendê-la”.
“Sentimos que seria necessária uma educação muito prévia relativamente a estas questões relacionadas com a saúde mental. Começar pelas escolas, começar pelas famílias, começar desde pequeno. Se calhar, a maioria de nós não foi estimulada sequer a pensar o que é a Saúde Mental para si, que diligências tomar para, efetivamente, ter e manter a sua saúde mental”, acrescentou.
Mariana Bordalo Rodrigues sugeriu, por exemplo, para a área do ensino a disciplina, ou tema, ‘Educação para a saúde mental’, e Paulo Paiva acrescenta que há Psicologia mas “existe no Secundário, vem muito tarde, e começar desde pequenos a falar sobre isso ajudaria”, no Programa ECCLESIA, transmitido hoje, na RTP2, onde também comentaram a liturgia das Missas do próximo domingo, como é habitual a cada sexta-feira.
A Organização Mundial de Saúde (OMS), neste Dia Mundial da Saúde Mental 2025, convida a refletir sobre o tema ‘Acesso aos serviços: saúde mental em catástrofes e emergências.’
PR/CB/OC
A Congregação das Irmãs Hospitaleiras, Instituição Particular de Solidariedade Social (IPSS), com Fins de Saúde – “cuidados especializados em Psiquiatria e Saúde Mental, Demências, Reabilitação Física e Cuidados Paliativos” – desenvolve a sua intervenção em 12 unidades de saúde, em Portugal continental e nas Regiões Autónomas dos Açores e da Madeira Paulo Paiva, que está com as Irmãs Hospitaleiras, há “quase quatro anos”, afirma que o que distingue o serviço desta congregação religiosa “é a hospitalidade”, a forma de ser e de estar e de cuidar que as irmãs e que os Irmãos Hospitaleiros “têm inspirados nos seus fundadores”, respetivamente São Bento Menni e o português São João de Deus. “A presença das Irmãs nas unidades, com os doentes, com os colaboradores, é sempre uma presença inspiradora de uma forma diferente, numa atenção especial que têm, numa certa determinação em fazê-la ‘bem feito’, que era uma frase de São Bento Menni. Acho que é isso que pretendemos que seja distintivo”, acrescentou o teólogo, que pertence à equipa da Pastoral da Saúde das Irmãs Hospitaleiras em Lisboa. A enfermeira-chefe da Casa de Saúde da Idanha (Sintra), salienta que, “de facto, há um amor que tem passado”, pela “forma de cuidar das irmãs, a sua entrega silenciosa, a dedicação” que conseguem colocar em tudo, e tem sido transmitido aos leigos, é algo que “veicula pelas paredes, nos espaços, em todos os gestos, e abraça a todos”. “Nós sentimos, muitas vezes, que estamos a trabalhar com os melhores, que são os nossos colegas de uma equipa interdisciplinar. E estamos, de facto, a ‘fazer o bem, bem feito’, torna-se uma hospitalidade concreta, uma hospitalidade incondicional. Um pouco como o amor de Deus por nós”, acrescentou Mariana Bordalo Rodrigues. As Hospitaleiras do Sagrado Coração de Jesus estão em Portugal há mais de 130 anos, foram fundadas a 31 de maio de 1881, em Ciempozuelos – Espanha. |