Saúde mental: Espiritualidade é «algo essencial» no acompanhamento de cada doente

Irmãs Hospitaleiras promoveram o seminário «Espiritualidade e saúde mental» e alertaram para a necessidade de formar os seus colaboradores

Foto Agência ECCLESIA/HM, Seminário “Espiritualidade e Saúde Mental”

Lisboa, 19 nov 2025 (Ecclesia) – A coordenadora de Identidade e Pastoral da Saúde no Instituto das Irmãs Hospitaleiras disse à Agência ECCLESIA que é necessário capacitar os colaboradores na área da espiritualidade, “algo essencial” no acompanhamento de cada pessoa.

“Com a ciência aliada à espiritualidade, a espiritualidade é algo essencial, é uma dimensão que, para todos nós, sentimos a necessidade de a trabalhar, de a aprofundar e de a manifestar, de a expressar”, afirmou Cláudia Antunes, no contexto seminário “Espiritualidade e saúde mental”.

Promovido pelo Instituto das Irmãs Hospitaleiras do Sagrado Coração de Jesus, que dirige as 12 Unidades de Saúde da Província Portuguesa das Irmãs Hospitaleiras na prestação de cuidados na área da psiquiatria e saúde mental, reabilitação, demências, lesão cerebral e cuidados paliativos, o seminário resulta de um projeto de investigação promovido pelo Serviço de Pastoral da Saúde com a CADOS – Programa Desenvolvimento Humano Integral e a Faculdade de Ciências da Saúde e Enfermagem da Universidade Católica Portuguesa.

Foto Agência ECCLESIA/HM, Seminário “Espiritualidade e Saúde Mental”

Cláudia Antunes refere que a investigação, realizada na Clínica de São José, das Irmãs Hospitaleiras, em Lisboa, onde decorreu o seminário, indicou a necessidade de “verificar a formação espiritual dos próprios colaboradores na hora de poder intervir junto das pessoas assistidas”.

“As pessoas assistidas iam identificando as suas necessidades, mas os colaboradores não tinham a capacitação para esta abordagem. Então, o trabalho de investigação ajudou-nos a tomar consciência disso e depois a atuar, ou seja, a perceber que medidas é que se podem tomar a este nível”, afirmou.

Questionada pela Agência ECCLESIA sobre a centralidade da espiritualidade no cuidar a saúde mental, a irmã Isabel Morgado, que atualmente faz parte da Casa de Saúde da Idanha, disse que é necessário “entrar no mundo do doente mental e ir percebendo como é possível acompanhar essas pessoas e fazê-las beneficiar da espiritualidade e da religiosidade”.

“Espiritualidade para todos, religiosidade para aqueles que de facto são crentes”, afirmou.

O doente deve estar o mais naturalmente possível relacionado com tudo. E, de facto, a espiritualidade e tudo o que a envolve dá-lhes paz, tranquilidade, serenidade, leva-os a parar – coisa que às vezes é difícil – e a fazer um desenho, a fazer uma pintura, a fazer um trabalho manual… Tudo isso faz parte do quotidiano dos doentes”.

As expressões artísticas foram temas abordados também no seminário “Espiritualidade e saúde mental”, que sublinhou a necessidade da ligação entre “a arte e a cultura e a saúde mental”.

Paulo Pires, gestor cultural, que participou no painel “Espiritualidade e Artes”, disse à Agência ECCLESIA que é necessário “trabalhar mais a sensibilização” para a relação entre arte e saúde mental, junto de “quem está no poder, nas instituições, quem trabalha na área clínica e quem trabalha na área social e cultural”.

“Além de trabalhar a sensibilização é preciso capacitar pessoas para trabalhar nestas áreas”, afirmou Paulo Pires, apontando para a necessidade de “criar formas para financiar estas práticas” para que “ganhem escala” e façam parte das políticas públicas.

Foto Agência ECCLESIA/HM, Seminário “Espiritualidade e Saúde Mental”

Sofia Sustelo é professora de Artes Plásticas na Clínica de São José, há três anos, e afirma que a ideia de que as pessoas com doença mental não fazem arte “é um estigma”.

“Da minha experiência e o que vejo à minha volta, é indubitável o lado positivo, o impacto positivo que isto tem, no bem-estar, na alegria e na felicidade das pessoas que são assistidas desta forma e têm a possibilidade de ter estas práticas artísticas”, afirmou em declarações à Agência ECCLESIA.

Sofia Sustelo afirma que cada pessoa faz o seu “percurso de descoberta a nível artístico”, que corresponde a uma “autodescoberta e aprendizagem”, não para “criar obras de arte”, mas para “criar momentos de bem-estar, de autoexpressão, de realização pessoal”, o que “contribui e tem benefícios para a saúde mental”.

A área das Artes Plásticas da Clínica de São José, das Irmãs Hospitaleiras, em Lisboa, promove a prática artística, “mais ao nível da pintura e das artes plástica”, aliada a projetos de “saída do espaço institucional para ir aos museus”.

“Comecei a programar várias visitas: já fomos a Serralves, ao Porto, ver a exposição de uma artista com experiência em doença mental, Yayoi Kusama, que é uma artista que se auto-internou num espaço psiquiátrico, mas continuou a produzir arte e hoje é um dos grandes nomes de arte do século XX”, referiu.

Mesmo admitindo que “é difícil medir o impacto real que estas práticas têm na saúde mental”, Sofia Sustelo sublinha o “impacto positivo” das expressões artísticas em cada pessoa, como contributo real para o seu bem-estar.

HM/PR

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