Saúde: «Cuidados paliativos prolongam sobrevivência» – Maria Margarida Teixeira

Oncologista e autora do livro «O que quero dizer ao morrer» lamenta que a morte seja escondida, atualmente, e relata mortes que acompanhou que foram «serenas, tranquilas e asseguraram que as pessoas continuam a ser recordadas»

Lisboa, 27 ago 2024 (Ecclesia) – Maria Margarida Teixeira, médica oncologista e autora do livro ‘O que quero dizer ao morrer’, referiu à Agência ECCLESIA que a ciência demonstra que os cuidados paliativos “prolongam a vida”

“Hoje, na área da Oncologia, os cuidados paliativos prolongam a sobrevivência. Não é só a qualidade de vida, mas aumentam a sobrevivência. Está cientificamente comprovado, nas pessoas com cancro do pulmão”, explica a médica do Instituto Português de Oncologia, em Coimbra.

A especialista assinala a necessidade de os cuidados paliativos acompanharem “todas as fases da doença de uma pessoa”, “desde o início e ao longo do desenvolvimento”, com uma equipa multidisciplinar: “Os cuidados paliativos são tão importantes, numa fase mais avançada como numa fase inicial do tratamento”.

“A escassez de profissionais formados na área leva a que as pessoas só tenham acesso aos cuidados paliativos, quando, efetivamente, estão a morrer”, lamenta.

Os últimos indicadores apontam para que apenas 30% dos portugueses têm acesso a cuidados paliativos.

Maria Margarida Teixeira diz que demorou cerca de 30 anos a escrever este livro porque queria encontrar as “palavras certas” para contar cada história, queria “rezar” cada percurso e apresentar a morte natural que “hoje não é muito contada, não é muito vista”.

Parafraseando a estrutura de um poema de Sophia, «Vemos, ouvimos e lemos, não podemos ignorar», eu digo – Nascemos, vivemos e morremos, não podemos ignorar. Hoje na sociedade, morre-se de várias maneiras, mas a morte é, tantas vezes, roubada, é interrompida, esconde-se a morte. Resolvi escrever este livro para dar a conhecer a morte acompanhada, a morte natural, mostrar que não se deve ter medo das palavras que se querem dizer ao morrer”.

Foto: IPO Coimbra

“As pessoas quando estão a morrer têm muito para dizer. O que as pessoas mais querem, naquele último minuto, naquele último segundo, é que alguém as recorde, e expressam-nos de diferentes maneiras, também não-verbais. A audição é o último sentido e um sussurro ao ouvido, da pessoa de quem mais amamos, no último momento, dá segurança à pessoa que vai morrer”, explica.

A médica oncologista afirma que a morte “surpreende sempre” e afirma que “nem sempre é possível a família estar presente”, mas sempre que possível, a pessoa deve morrer acompanhada, permitindo assim uma morte “tranquila e resolvida”.

Maria Margarida Teixeira lamenta que atualmente “grande parte dos adultos” nunca viu ninguém morrer, facto que atinge também a classe médica.

Também durante a sua formação, e a autora escreve na publicação, nunca ter tido uma aula de empatia, que ajudasse a estabelecer a relação entre médico e o paciente.

A medicina está hoje cheia de protocolos, que são muito importantes, mas, eu costumo dizer que o protocolo mostra a filosofia do tratamento e de um serviço, mas uma coisa é a doença, e depois temos que enquadrar a doença na pessoa. Hoje, para além do protocolo, o médico interpõe-se por um ecrã de computador. Mas o médico tem de escutar, escutar muito, e eu quando escuto já não estou a mexer no computador, o paciente já não está no telemóvel e estamos olhos nos olhos”.

Quando a relação entre médico e paciente “flui”, abre-se um caminho para “explicar a terapêutica oncológica dura” e, se necessário, quando chegar a hora, dizer que “o fim está próximo”.

“E não é com o fim a aproximar-se que eu o vou deixar de tratar. E o doente responde – ‘mas eu vou morrer’, e eu digo ‘sim, mas vamos viver este tempo, o melhor que há para viver, deixar que a pessoa seja ela mesma e se encontre com ela mesma”, assegura.

A conversa com Maria Margarida Teixeira é emitida hoje, no Programa ECCLESIA na RTP2, pelas 15h35, e vai ser emitida na Antena 1, esta quinta-feira, pouco depois da meia-noite, ficando despois disponível no podcast «Alarga a tua tenda».

LS

 

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Agência ECCLESIA

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