«Curando Corações e Comunidades» é o mote para falar dos projetos que decorrem na Unidade de Cuidados Paliativos, na Casa de Saúde da Idanha
Lisboa, 30 out 2022 (Ecclesia) – O enfermeiro Ricardo Fernandes, da Unidade de Cuidados Paliativos, na Casa de Saúde da Idanha, disse à Agência ECCLESIA e Renascença que “existem muitos mitos associados aos cuidados paliativos”.
“As pessoas em cuidados paliativos não estão a morrer, estão a viver”, assinalou o responsável, um dos convidados da entrevista semanal conjunta emitida e publicada aos domingos.
‘Curando Corações e Comunidades’ é o mote para falar dos projetos que decorrem na Casa de Saúde da Idanha.
Sílvia Noné, psicóloga clínica, destaca que “as pessoas têm melhor qualidade de vida”, com a oferta de cuidados paliativos.
“Nós não estamos lá para lutar contra a morte, diria, estamos lá para incentivar a vida”, declarou.
A especialista cita Cicely Saunders, uma das fundadoras deste movimento dos cuidados paliativos: “Nós não podemos dar dias à vida, não está nas nossas mãos o tempo, mas sim dar vida aos dias”.
A psicóloga destaca que estão em causa “pessoas em sofrimento e que se estão a adaptar a circunstâncias adversas num espaço de tempo muitíssimo curto”.
As famílias ainda não se adaptaram, muitas vezes, do ponto de vista psicológico à notícia, ele estão a ajustar-se à notícia ao choque da mesma e já estão a ter de gerir outras notícias diferentes”.
Para Ricardo Fernandes, tem faltado um “debate claro, sem distorções, sem grandes eufemismos” a respeito da eutanásia
Sílvia Noné critica a “ideia de a morte assistida estar misturada a este conceito”, algo que “confunde bastante as pessoas”.
A Associação Portuguesa de Cuidados Paliativos informou, na última semana, que há 70mil portugueses sem cuidados paliativos
“Isto representa uma carência gigantesca de cuidados específicos e especializados em fim de vida”, alerta Ricardo Fernandes, destacando a urgência de “democratizar o acesso a cuidados paliativos”.
O enfermeiro observa que a espiritualidade assume uma “grande relevância” nos cuidados em final de vida, que implica o respeito pelos “movimentos internos das pessoas”.
“Todas as outras dimensões que nos definem enquanto pessoa são relevantes e a espiritualidade ocupa grande parte, sobretudo quando estamos nesta perda constante e ameaça de deixarmos de existir”, realça.
As comunidades católicas em Portugal preparam-se para a celebração dos que já partiram, na comemoração dos Fiéis Defuntos (2 de novembro).
Sílvia Noné destaca o impacto da pandemia nos processos de luto, assinalando que pode ser difícil para algumas pessoas visitar os cemitérios, após esta experiência.”
“Quem não se sentir capaz não estranhe, porque o nosso corpo tem memória. As emoções estão lá e se calhar, mais do que forçar, pode encontrar formas mais privadas e em contexto de amizades pessoais, de se relembrar da pessoa perdida”, recomenda.
Henrique Cunha (Renascença) e Octávio Carmo (Ecclesia)