Mara de Sousa Freitas aponta desafios deixados em relatório do Observatório Português dos Cuidados Paliativos
Lisboa, 30jun 2024 (Ecclesia) – A diretora do Instituto Bioética da Universidade Católica Portuguesa (UCP) considera que o país deve investir nos cuidados paliativos como resposta ao sofrimento, pedindo o apoio do Estado e da Segurança Social, neste campo.
“É urgente criar respostas para as pessoas que estão a viver em intenso sofrimento humano e não podem aguardar por amplos processos burocráticos de referenciação que tantas vezes se concretizam apenas nos dias que antecedem a sua morte”, refere Mara de Sousa Freitas, num comentário enviado hoje à Agência ECCLESIA após a publicação do ‘Relatório de Outono 2023’ do Observatório Português dos Cuidados Paliativos (OPCP).
O estudo do OPCP, divulgado esta terça-feira, revela que, entre o ano de 2018 e 2022, a rede nacional de cuidados paliativos oferece principalmente cuidados generalistas, “longe da desejada diferenciação especializada”.
Para Mara de Sousa Freiras, os dados “revelam a urgência de uma reflexão ética e trabalho empenhado no âmbito dos cuidados de saúde, com particular enfoque na fase final da vida”.
“Precisamos que os cuidados paliativos sejam um legado de todos e para todos, para as gerações atuais e vindouras”, assinala a especialista em cuidados paliativos, vogal da Direção do OPCP.
Falando uma “questão persistente e urgente”, a especialista apresenta os cuidados paliativos como “resposta ética ao sofrimento humano”.
O que queremos encontrar amanhã depende das decisões que hoje tomamos, por isso, necessitamos identificar que princípios e valores estão a nortear a nossa ação no presente. Que valores queremos encontrar no ocaso da nossa vida?”.
Mara de Sousa Freitas cita a ‘Declaração Universal Sobre Bioética e Direitos Humanos’, adotada pela Conferência Geral da Unesco, no ano de 2005, em que se apela ao desenvolvimento de “novas formas de responsabilidade social que assegurem que o progresso científico e tecnológico contribui para a justiça, a equidade e o interesse da humanidade”.
A diretora do Instituto Bioética da UCP observa que, “apesar de os cuidados paliativos continuarem a estar associados à fase final da vida, torna-se imperativo afirmar que estes cuidados existem sempre que haja uma situação de doença que, ameaçando a vida, ou não, incute sofrimento físico, psicológico e espiritual à pessoa doente e sua família”.
A docente universitária aponta a necessidade de um “modelo integrado” para os cuidados paliativos, onde “existissem cuidados adequado às necessidades das pessoas, e onde a pessoa doente é da responsabilidade de todos os intervenientes no processo de cuidados de saúde”.
“Em face da escassez de recursos humanos de cariz especializado em cuidados paliativos seria desejável uma articulação entre as equipas que disponibilizam diferentes tipologias de cuidados: os cuidados de saúde primários, os cuidados continuados/integrados, os cuidados hospitalares e os cuidados paliativos”, acrescenta.
Mara de Sousa Freitas realça a importância de apostar nos cuidados domiciliários, incluindo a hospitalização domiciliária, “com os ganhos em saúde já amplamente conhecidos”.
“As necessidades agora identificadas vão tendencialmente aumentar”, adverte, sustentando que o acesso e a disponibilidade de cuidados paliativos “pode ser a solução para responder aos desafios colocados pelo tempo de vida adicional que a conquista da longevidade tem oferecido”.
“É urgente preparar o nosso viver, para envelhecer melhor e para saber como apoiar de um modo eficaz e eficiente a longevidade, a doença, o processo de morrer e a morte. Hoje, daqueles que cuidamos ou dos que nos são mais próximos, amanhã a nossa. Este é um dever nosso, de todos, que possamos cumpri-lo”, conclui adiretora do Instituto Bioética da UCP.
OC