O Carlos gosta de ler e escrever, a Deolinda de cantar e fazer colares, o Eugénio de ir à natação e jogar futebol, a Ana Paula de fazer teatro: quatro jovens que estão no Instituto da Imaculada onde lhes é dada a oportunidade de progredir, fazer o percurso escolar que numa escola poderia ser mais difícil. São jovens que têm deficiência mental, são surdos ou autistas…
Esta é uma comunidade de 7 religiosas que há mais de 70 anos está instalada nos Prazeres, em Lisboa, e lida com crianças e jovens especiais: surdos-mudos, autistas e com problemas mentais. Além do tratamento adequado, as Franciscanas da Imaculada proporcionam momentos de afeto e alegria.
A Irmã Ana Rosa do Espírito Santo, de 67 anos, é a diretora do Instituto e tornou-se ao longo dos tempos a mãe de todo este grande projeto. De hábito castanho, lenço branco e sorriso tímido, fala sobre esta casa como uma “grande família” de pessoas especiais, as irmãs, professores e técnicas e “os meus meninos” :“Fazem aqui a escolaridade desde a pré-primária num percurso longo porque o ritmo não é o mesmo, tem de haver muita insistência”.
Esta religiosa e professora do ensino especial sublinha que o objetivo principal é, no futuro, eles se tornarem o mais independente possível para serem e se sentirem úteis na sociedade.
A perseverança e o testemunho que é preciso para trabalhar com estes jovens tem de ser grande porque “eles percebem tudo, se estamos tristes ou contentes, se somos amigos ou não. Isso só se aprende nesta escola de afetos”, como revela à Agência ECCLESIA.
O importante é apoiar a cada passo e valorizar o que os jovens vão fazendo “sempre e sempre mais, é nisso que apostamos”, acrescenta a irmã diretora.
O Instituto da Imaculada acolhe 65 jovens, dos quais 22 permanecem de segunda a sexta-feira em regime interno.
Os momentos
Depois de percorrer um corredor comprido e visitar algumas salas de atividades ocupacionais onde se faz barro, pinturas e colares abre-se a porta de outra sala de onde surge um misto de lamentos e gritos. São jovens com paralisia total, uns no chão, outros em cadeiras de rodas, todos de olhar disperso.
A Irmã Graça é uma das pessoas que faz terapia da fala: “Nenhum deles fala mas todos comunicam comigo e sei quando estão felizes”, conta esta religiosa que passa os dias sem os contar mas ali encontrou a sua missão, porque “estas crianças são as mais necessitadas”.
Esta agitação contrasta com a serenidade das cores e música da sala “snoezelen”. O vermelho, o amarelo e o azul predominam, existe um colchão de água, luzes e colunas que formam bolhas de água ao som de acordes calmos. É um espaço para relaxar os jovens através de “estímulos auditivos, visuais e tácteis onde cada um tem a liberdade de escolher onde se sente melhor e assim acalmar,” como explicou a terapeuta Tânia.
Espiritualidade é ponto de ordem
A vertente espiritual é também alimentada pelas irmãs que se juntam com os meninos em momentos de oração. “Uma vez por mês há missa cá no Instituto e os que podem preparam-se na confissão para depois comungar”, conta a irmã Ana Rosa.
Muitos jovens parecem “alheios da realidade” mas gostam destes momentos porque “sentem a espiritualidade de outra forma”.
Existe mesmo um grupo formado para cantar nas eucaristias. A guitarra dá os primeiros acordes e os 14 jovens perfilam-se para ensaiar, os braços balançam ao ritmo da música, as vozes afinam-se. “Eles gostam de cantar e isso sente-se”, confessa a diretora do Instituto.
À portaria a partir das cinco da tarde encontramos a irmã Esperança que nunca pensou trabalhar com estas crianças especiais – “Quando entrei para religiosa e as ouvi a cantar a 186 vozes diferentes assustei-me, agora já sei como é”, brinca.
À entrada do edifício situa-se a capela, pequena e silenciosa, visitada muitas vezes por pais e filhos. Ali as religiosas rezam pelos “seus meninos” e esperam que o futuro lhes seja sorridente, “que haja sempre alguém que os acompanhe neste trabalho para, um dia, serem e se sentirem úteis na sociedade,” revela a irmã Ana Rosa.
“Tentamos ser a imagem de Deus na terra, dando-lhes todo o afeto, porque, apesar das suas limitações, eles entendem como Deus é bom e gostam”, finaliza.
Dia após dia o Instituto da Imaculada dá a mão àquelas crianças e jovens com necessidades especiais e através do seu carisma faz com que sejam felizes.
A ordem das Irmãs Franciscanas da Imaculada nasceu em 1876, em Espanha, através do carisma de Francisca Pascual Domenech, mas rapidamente se espalhou pelo mundo. Hoje encontram-se comunidades em Espanha, Venezuela, Peru, Chile, Puerto Rico, Itália, Índia e Portugal.
SN