Saúde: Degradar condições de trabalho é «a pior» das opções para reduzir custos

Daniel Serrão defende necessidade de «garantias mínimas» de estabilidade para médicos e enfermeiros

Lisboa, 10 jul 2012 (Ecclesia) – Daniel Serrão, vencedor do Prémio Nacional de Saúde 2010, considera que “degradar” as condições de trabalho de médicos e enfermeiros “é a pior” de todas as opções para reduzir custos no setor.

Em texto publicado hoje na mais recente edição do semanário Agência ECCLESIA, o médico portuense sublinha que as dificuldades financeiras não podem levar a uma situação em que médicos e enfermeiros deixem de ter “uma garantia mínima de trabalho continuado e organizado, de modo a poderem render o máximo”.

Serrão, membro honorário da Academia Pontifícia para a Vida [Vaticano], afirma que trabalhar em saúde “é exercer uma atividade dirigida a pessoas doentes, com competência profissional, claro, mas também com dedicação e carinho respeitoso”.

Os médicos vão suspender o setor, na quarta e quinta-feira, com uma greve nacional para a qual se prevê forte adesão, segundo os sindicatos que convocaram a iniciativa.

De acordo com dados divulgados pelo ministro da Saúde, Paulo Macedo, esta greve deverá adiar 5000 cirurgias e 398 mil consultas.

Daniel Serrão contesta a opção de contratar profissionais à hora, “preferindo-se os que trabalharem pelo preço mais baixo”, que foi anunciada por vários instituições.

“Médicos e enfermeiros são profissionais com carreiras que os diferenciam e especializam, não são trabalhadores indiferenciados a trabalhar à hora, hoje aqui, amanhã acolá”, observa.

O especialista admite que o Serviço Nacional de Saúde (SNS) “vai ter de diminuir as suas despesas”, o que implica a redução de oferta de serviços e o controlo da procura pelos cidadãos.

Para o professor convidado do Instituto de Bioética da Universidade Católica Portuguesa, contudo, “o sistema de concursos e de contratação precária que se quer pôr em prática é a subversão completa da natureza específica destes profissionais”.

“Espero bem que haja o bom senso de excluir da contratação de médicos e enfermeiros qualquer forma que acabe por os selecionar pelo preço que aceitem receber pelo seu trabalho”, complementa.

OC

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