Padre José Alves, Congregação da Missão
A palavra “catequese” ou “catecismo” significa informar, instruir e ensinar, de viva voz, para distinguir do ensino realizado através da escrita, ou seja, através dos livros. Enquanto o ensino dos livros é feito individualmente e silenciosamente, a catequese (ou catecismo) é feita com a presença de um instrutor (catequista), ensinando de viva voz, testemunhando o que ensina (1).
O Padre Vicente de Paulo não escreveu nada expressamente sobre a catequese. Mas foi um extraordinário catequista: viveu, ensinou e testemunhou. É nas Conferências às Filhas da Caridade e aos Padres da Missão que captamos o seu pensamento sobre o assunto. Começa por apresentar o objetivo: inculcar nas crianças e nos adultos o conhecimento e o amor de Deus, ensinar os mistérios da fé, levá-los à melhoria de vida: “tendes de levar aos pobres doentes duas espécies de alimento: o corporal e o espiritual, isto é, dizer-lhes, com a intenção de os instruir, algumas palavras que os levem a cumprir os seus deveres de cristãos e a levar a vida com paciência… A vossa Companhia, tem também a finalidade de instruir os meninos nas escolas no temor e no amor de Deus” (2).
A duas irmãs, enviadas a Ussel, para a fundação de uma “Caridade” lembra que a catequese daquela gente (instrução religiosa) será a sua principal missão: “Aquele povo é bom, dócil e inclinado ao bem, mas encontra-se na maior ignorância que se possa imaginar. Fazer o possível para que conheçam e amem a Deus, será o vosso grande trabalho. Dar a conhecer a grandeza de Deus, a sua bondade e o amor que tem à humanidade, ensinando-lhes os mistérios da fé e, a partir desse conhecimento, levá-los a descobrir o seu amor” (3).
Descobre-se, nas suas palavras, um gosto especial por um método ativo que desperte a atenção e o interesse dos participantes. Ele mesmo, numa linguagem coloquial, o aplicava na instrução das Irmãs e recomendava-lhes que, elas mesmas, o aplicassem na catequese. A partir de perguntas e respostas, corrigir o que estava errado, aperfeiçoar o imperfeito e uma palavra de louvor para o que foi acertado. E porque os adultos, em geral, mas em particular os avós, se encantam com as respostas das crianças, que se organize uma espécie de “sabatina” diante deles para que admirem o modo como os pequenos se exprimem tão bem sobre os conteúdos da fé (4). Experimenta e recomenda a utilização da imagem, sobretudo com crianças, através de quadros alusivos ao assunto da catequese.
Não passa despercebida, ao Padre Vicente, a necessidade de preparação para o ensino da catequese. Antes de partirem para as paróquias, onde devem ensinar a catequese às crianças e aos doentes, as Irmãs devem tratar esse tema entre elas. “A que estiver a orientar, escuta as respostas, explica-as naquilo em que não sejam tão claras ou naquilo em que não se compreendam. Este é o melhor método de vos instruirdes a vós mesmas e de vos tornardes capazes de ensinar o catecismo aos pobres e às crianças nas coisas necessárias à salvação” (5).
Em favor desta prática, o Padre Vicente de Paulo refere que se procede assim nos Seminários e em outras reuniões em que aqueles a quem vai ser confiado um ministério passam por exercícios de preparação (celebrar, confessar, pregar, batizar, …), que os capacitem para as suas funções. Assim deve ser com o ensino da catequese. Para uma preparação mais técnica e aperfeiçoada, pensa em enviar algumas irmãs às Ursulinas e às Filhas da Cruz, consideradas as mais bem preparadas.
Nas Missões Populares, havia momentos dedicados exclusivamente à catequese em sentido estrito: catequese para crianças de manhã; catequese para adultos, ao entardecer, sem subir ao púlpito para não se confundir com a pregação e cuja duração não deveria ultrapassar a meia hora (6).
A testemunhar esta tradicional preocupação pelo ensino da catequese, como herança de família, encontra-se no arquivo dos Padres da Congregação da Missão, em Lisboa, um relatório manuscrito do século XVIII (1744-1834) em que a catequese (doutrina) aparece como atividade diária durante a missão, ao lado de outras (pregação, confissões, iniciação à oração mental, pacificação e reconciliação social, …), e para a qual se destacava exclusivamente um missionário, dada a sua importância.
Não há comunidade cristã sem catequese, isto é, sem instrução, sem formação, sem anúncio, sem o testemunho de vida de quem anuncia (catequista). Pode faltar o catecismo (livro), mas que nunca falte o catequista. O que celebramos nos Sacramentos, mormente na Eucaristia, é o que nos foi anunciado e recebemos pela instrução (catequese). Daí a sua primordial importância!
Durante décadas apostámos muito em catecismos (livros); apostámos muito na formação técnica dos catequistas. Ainda bem. Era necessário. O resultado não tem sido entusiasmante. Então o que falta!? A dimensão espiritual do catequista. Homens e mulheres de fé. Felizmente há muitos a quem a Igreja muito deve! Mas é necessário que sejam todos: homens e mulheres de fé, de vida espiritual profunda que sejam capazes de comunicar, de viva voz, e de dizer como o autor Primeira Carta de São João: “o que ouvimos, o que vimos, o que contemplámos… isso vos anunciamos” (cf. 1Jo 1, 1.3).
Pe. José Alves, CM
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(1) Catequese (do latim tardio catechesis, por sua vez do grego κατήχησις, também derivado do verbo κατηχέω, que significa “instruir de viva voz”) é a instrução.
(2) San Vicente de Paúl, Obras Completas, IX (2), p. 535.
(3) San Vicente de Paúl, Obras Completas, IX (2), p. 1028.
(4) Cfr. San Vicente de Paúl, Obras Completas, IX (2), p. 1029.
(5) San Vicente de Paúl, Obras Completas, IX (2), pp. 1148-1149.
(6) Cfr. San Vicente de Paúl, Obras Completas, X, p. 391.408.
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