No passado dia 12 de julho, São Tomé e Príncipe celebrou o 36.º aniversário da sua independência. Foram 36 anos de um caminho em que se foi falando muito que, depois de alcançada a independência política, se tornava necessário alcançar a independência económica. Mas esta independência tarda. A verdade é que São Tomé e Príncipe é hoje um dos países mais pobres de África, embora sem as manifestações dramáticas de miséria e pobreza que, de vez em quando, vemos aparecer nos meios de comunicação social. A verdade é que há uma situação de pobreza generalizada, o desemprego afeta uma grande parte da população, os ordenados são extremamente baixos, as pessoas têm um fraco poder de compra, e os produtos são quase ao preço que se pratica na Europa e, às vezes, mais caros ainda.
A Igreja na luta contra a pobreza
Desde sempre a Igreja uniu a sua tarefa evangelizadora à tarefa do cuidado dos mais pobres. São Tomé e Príncipe não é exceção. Também aqui a Igreja procurou ser mensageira do Evangelho através da Palavra e da caridade. Aqui se instalaram diversas Instituições Religiosas com a preocupação de evangelizar o povo, mas também de ajudar a população a construir futuro.
Referimos apenas os últimos exemplos. Os missionários claretianos chegaram a São Tomé em 1927. Para além do trabalho pastoral, assumiram a direção da Escola de Artes e Ofícios, com tão boas recordações para muitas pessoas pela formação aí recebida; fundaram uma Livraria e uma Tipografia ainda a funcionar; espalharam escolas por vários lugares; colaboraram na fundação do Liceu Nacional…
Em 1958, chegaram as Irmãs Franciscanas Hospitaleiras da Imaculada Conceição distinguindo-se pela sua dedicação aos enfermos. Em 1959, aportaram a este país as Filhas da Caridade Canossianas as quais, a partir do Patronato, desenvolveram uma grande atividade de serviço aos mais pobres.
Hoje, podemos continuar a testemunhar este papel da Igreja no campo social. Há que reconhecer o extraordinário trabalho social realizado pela Igreja no Príncipe. Aí, a Igreja, através das Irmãs Servas da Sagrada Família em colaboração com os Missionários Eudistas e contando com a preciosa ajuda da paróquia da Ramada em Portugal e da CARITAS portuguesa, orienta um Lar de Terceira Idade, uma Fisioterapia, três Jardins de Infância e está a construir um quarto, um ATL, apoio domiciliário a carenciados, serviço de refeições a idosos necessitados, etc. A Santa Casa da Misericórdia, por sua vez, construiu e assumiu a direção de um Centro de Dia, bem como a distribuição de alimentos em colaboração com o PAM.
Por sua vez em São Tomé o trabalho social é variado, trabalho que tem contado com a colaboração da cooperação portuguesa, da cooperação francesa, do apoio de algumas paróquias de Portugal e de pessoas e Instituições de boa vontade.
No campo educativo, podemos referir o IDF, a Escola de Santa Madalena Canossa, a escola Primária Mãe Clara e os vários Lares de meninas e rapazes espalhados desde os Angolares até Guadalupe, as bibliotecas, jardins infantis, etc.
No apoio a carenciados refira-se o trabalho levado a cabo pela Santa Casa, a CARITAS, as várias Congregações Religiosas, os grupos caritativos paroquiais, a ação dos Leigos para o Desenvolvimento… Todos conhecemos os Lares de Idosos D. Simoa Godinho e de São Francisco, o Orfanato da CARITAS, as cantinas sociais de Água Izé e da Trindade, o Centro de Dia Pe. Silva em Ribeira Afonso, os bairros sociais das Neves e de Ribeira Afonso, a distribuição de roupas e alimentos aos mais pobres, etc.
Na formação profissional refiram-se centros de costura (Neves, Guadalupe, Santana), escolas de Informática (Neves, Guadalupe), carpintarias, cursos de culinária (Bom-bom, Trindade), etc.
Além disso, ainda há colaboração com outras entidades, como com a ARCAR, um centro de acolhimento de crianças em situação de risco.
A Igreja está pois muito presente nas estruturas de desenvolvimento social deste país e esperamos continuar a ser cada vez mais uma Instituição ao serviço da população em geral, mas sobretudo dos mais carenciados.
Futuro de São Tomé e Príncipe
O cristão é o homem da esperança. Por isso eu acredito no futuro deste país. Para isso há necessidade de nos empenharmos em dar educação e perspetivas de futuro à juventude deste país, há que pensar como possibilitar aos jovens emprego, casa, possibilidade de construírem um amanhã de esperança. Necessitamos de estabilidade governativa e de termos governos que pensem um projeto para o país a longo prazo, de modo a desenvolver as potencialidades desta nação. Necessitamos de dar condições de vida digna a todos, a começar pelas crianças. O governo e outras entidades têm de lutar pela defesa da vida das nossas crianças, tantas vezes geradas no álcool e criadas ao Deus dará. Não podemos continuar a tolerar o abandono dos nossos idosos acusando-os de serem feiticeiros (infelizmente esta crença está entranhada na sociedade santomense, encontrando-se presente em todas as categorias sociais: desde os mais pobres aos mais ricos, dos mais ignorantes aos mais cultos, com consequências dramáticas). Há que apostar na família, numa educação para os valores, desenvolver e apoiar iniciativas de desenvolvimento sem estarmos à espera de contra partidas. Há que acreditar no amanhã.
Deus nos ajude a todos.
D. Manuel António dos Santos, bispo de São Tomé e Príncipe