D. Manuel António dos Santos fala à Agência ECCLESIA sobre a realidade do país africano
São Tomé, 12 abr 2014 (Ecclesia) – O bispo de São Tomé e Príncipe, D. Manuel António dos Santos conta que tem como prioridade pastoral “em primeiro lugar as crianças” num país muito jovem em que 40 por cento da população tem menos de 15 anos.
“Quando me perguntam digo sempre que a prioridade são as crianças porque este país está cheio de crianças e por vezes dói muito a forma como são tratadas e o modo de vida em que vivem algumas”, conta D. Manuel António dos Santos em entrevista à Agência ECCLESIA.
O bispo de São Tomé e Príncipe, que em sua casa com a ajuda da sua irmã cria duas crianças, depara-se com “muitos casos dramáticos” e dá o exemplo de uma criança que chegou à Cáritas de São Tomé “com 9 meses e apenas 2,3 quilos de peso”.
“É um milagre a sua sobrevivência, de facto a vida é um milagre, por vezes chegam-nos situações dramáticas e as crianças conseguem recuperar”, enfatiza.
São Tomé e Príncipe é um país com muitos jovens, “40 por cento da população tem menos de 15 anos” e “não é fácil” para um país sem recursos dar respostas escolares, de saúde e de futuro laboral para tanta “população nova”.
“O maior desafio de São Tomé é manter vivos os sonhos destes jovens, conseguir proporcionar futuro a tantos jovens”, salienta D. Manuel António dos Santos.
“Quem vai a São Tomé o primeiro impacto que tem é o verde daquela ilha, o segundo é o acolhimento que sente por parte daquelas pessoas mas em terceira lugar é de facto a pobreza que está presente em todo o lado. É um país muito pequeno com cerca de 190 mil habitantes que não tem praticamente recursos económicos”, conta.
As importações do país superam “em muito” as exportações, apenas “se exporta um pouco de cacau, do melhor do mundo e um pouquinho de café mas de resto não têm mais nada e isso faz com que a população viva com muitas dificuldades porque há poucos empregos e os salários são muito reduzidos”, revela o prelado português.
A pobreza é assim “o maior drama” da população de São Tomé e Príncipe, “uma pobreza material que tantas vezes depois se converte em pobreza cultural, social”.
Este país africano, antiga colónia portuguesa, procura desde a sua independência a 12 de julho de 1975 “o seu rumo, o seu lugar, no fundo caminhos de futuro que tardam em chegar”.
A Igreja Católica vive “no meio” desta pobreza e por isso é também uma Igreja pobre “sem capacidade para resolver radicalmente os problemas escolares, de pobreza e outros”, lamenta D. Manuel António dos Santos em entrevista à Agência ECCLESIA.
A cooperação com organizações não governamentais e outras instituições portugueses é por isso “determinante” para ajudar a população a minimizar os seus problemas “que são muitos”.
Exemplo dessa ajuda “preciosa” são por exemplo as parcerias com as Misericórdias “que ajudaram a criar alguns lares de 3º idade em São Tomé”, a Cáritas ajuda na ‘Casa dos Pequeninos’ onde estão 30 crianças em situação de risco mas também a Diocese de Santarém doa este ano parte da sua renúncia quaresmal para o país africano, que vai ajudar a criar “no sul do país um lar para rapazes”.
“Há muitos adolescentes longe da escola por isso é difícil que continuem os estudos e este lar, numa antiga zona de balneários, vai permitir que possam ficar por ali e continuem a estudar o que é muito bom para que possam ter um melhor futuro com mais educação”, explica o bispo de São Tomé e Príncipe em declarações à Agência ECCLESIA.
O ‘Banco de Leite’ é outro projeto já em andamento “que inicialmente pensado pelo Frei Ventura” tem tido “andamento” dado que têm chegado “de vários pontos de Portugal” várias caixas de leite, azeite e outros bens que são doados à ‘Casa dos Pequeninos’ mas também a outras instituições de solidariedade dedicadas às crianças de São Tomé.
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