São pessoas, não números

Ao passar em revista cada ano que passa, as análises pouco ultrapassam resultados económicos ou engenharias políticas. Os números da crise merecem abundantes leituras, muitas descomprometidas da procura de soluções por não ser possível encontrá-las apenas no horizonte financeiro ou económico. O contexto partidário circunscreve as opiniões políticas, mais voltadas para o sobe e desce de fracções, de pessoas, e desligando frequentemente a intervenção de cada grupo organizado dos objectivos pelos quais existe em democracia e diante dos quais deveria ser avaliado: a capacidade de salvaguardar o bem comum, de construir a justiça e oferecer segurança às sociedades. E servem os capítulos da crise para desculpabilizar insucessos, mentiras, fraudes democráticas no interior de estruturas políticas. Rareiam nestes reflexos das coisas referências às pessoas, à vida de cada sujeito e ao carácter eminentemente social de mulheres e homens. Dessa mudança de análise dependerá o sucesso de avaliações e a operacionalização de projectos que daí se resultem, voltados não apenas para benefícios imediatos, antes para transformações consolidadas das sociedades. Essa é, aliás, a perspectiva que Bento XVI sugere recorrentemente. Também na mensagem que dirige ao mundo inteiro por ocasião do Dia Mundial da Paz, apontando a justa distribuição dos recursos materiais como garantia da qualidade de vida de cada pessoa, condição de construção da paz e motivo suficiente para o relacionamento pacífico entre Nações e entre povos. Para além de se deter em problemas relacionados com a saúde, com a alimentação, com o armamento, com a natalidade, que causam pobreza quando não resolvidos com determinação, é particularmente pertinente a referência feita pelo Papa aos mercados financeiros e as propostas que se adiantam para que sejam factores de coesão social e de construção da paz. O que acontecerá quando a actividade financeira realizar a “função de ponte entre o presente e o futuro”. A situação actual demonstra que, ao contrário, tem olhado sobretudo para o “breve e brevíssimo prazo”, tornando-se “perigosa para todos, inclusivamente para quem consegue beneficiar dela durante as fases de euforia financeira”. A falência, também no contexto financeiro, do calculismo egoísta será o último argumento para centrar prioridades na pessoa e não nos números estatísticos que resultam da vida em sociedade? Talvez, por momentos…

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