Jornalista, de 93 anos, evoca tradições que marcam celebração na cidade
Porto, 24 jun 2024 (Ecclesia) – O jornalista Germano Silva considera que a característica “fundamental” da festa do São João, na cidade do Porto, é a junção das pessoas “indiferentemente das suas classes sociais”
“O São João no Porto é uma festa da rua: exceto o fogo-de-artifício, não há programa para a festa”, disse à Agência ECCLESIA.
Com 93 anos, o entrevistado recorda a festa do São João, particularmente a noite de 23 para 24 de junho, na sua infância, com “as rusgas pela cidade e o ir às Fontainhas”.
“O São João das Fontainhas é um São João recente, do final do século XIX, porque um senhor fez lá uma cascata com imagens da altura natural e depois oferecia a quem passasse por lá café e arroz doce” e “hoje é a meca do São da cidade”, realça.
Para além dessa tradição existia também uma série de rituais na noite do São João que era “tomar banho no Rio Douro antes do nascer o sol” porque “dava saúde”.
Mais tarde apareceu o fogo-de-artifício que era “deitado do lado de lá do rio, na Serra do Pilar”, acrescenta.
Ainda no âmbito das recordações, Germano Silva refere que a celebração do São João congrega todas as pessoas – mas antigamente a “burguesia fazia muitas vezes a festa nos seus quintais, nas suas ruas, com os balões e as bichinhas de rabiar e o povo vivia nas ilhas, nos bairros populares, fazia ali as suas festas também”.
Depois da festa inicial, todos se juntavam na rua e “formavam uma maré de gente, saudando-se fraternalmente e democraticamente, em princípio era com o alho-porro”.
“O alho é um símbolo da festa de São João porque ele era usado para levar para casa e colocar atrás da porta para evitar maus-olhados”, relata.
No século XIX e no princípio do século XX havia quintais onde os alhos nasciam e “então as pessoas passavam por lá, colhiam-nos e saudavam-se mutuamente”, agora “vieram os martelinhos, é outra maneira de se saudarem”.
A festa do São João acompanha o evoluir da cidade e no tempo de Fernão Lopes, “a referência mais antiga que temos da festa”, este regista na crónica que a cidade “estava toda em festa, uma grande festa, com o povo todo na rua”.
“O São João vai evoluindo, as cantigas são espontâneas, é o povo na sua criatividade” porque “as pessoas vão adaptando as suas cantigas à vida que vão vivendo”.
Apesar da festa de São João ser a mais conhecida do Porto, o jornalista Germano Silva considera que esta é uma festividade da “borga”, mas o Santo António é o “grande santo da devoção do Porto”
Tudo isto acontece porque o Santo António substitui o Deus do Mercúrio, “o deus do comércio” e o Porto é uma “cidade de comércio, comerciantes e lojistas”.
No Porto, a Igreja de São João da Foz “é a única igreja que tem o São João Batista na frontaria”, refere Germano Silva, em entrevista ao Programa ECCLESIA emitido esta segunda-feira na RTP2.
No dia dedicado a São João, 24 de junho, a festa litúrgica é, alternadamente, em São João Novo ou São João da Foz ambas com este santo popular como padroeiro.
João Baptista é o único santo, com a Virgem Maria, de quem a Liturgia católica celebra o nascimento, sendo apresentado como o “precursor” de Cristo.
A celebração de São João Batista leva milhares de pessoas às ruas de várias localidades portuguesas, em particular em Braga e no Porto, onde se interligam a dimensão popular dos festejos – festa de solstício com manifestações próprias da religiosidade natural -e a mensagem cristã transmitida pelo santo.
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