Santo António na Religiosidade Popular

Estudo biográfico sobre Santo António e sobre a devoção que, nomeadamente em Portugal, rapidamente se desenvolveu

Santo António é um santo de projecção universal, sendo, muito provavelmente, o mais popular de todos os santos. Igrejas e capelas dedicadas a Santo António, imagens em grande parte das igrejas e nas casas particulares, azulejos e pinturas, cânticos, festas e peregrinações dão ideia da grande devoção popular a Santo António, que hoje atravessa todas as idades e todas as classes sociais, em todo o mundo.
Contudo, o culto de Santo António, ainda que se tenha mantido sem interrupções desde o século XIII em Portugal, na Diocese de Pádua e dentro das Ordens Franciscanas, só começou a estender-se a todo o mundo a partir do século XV, com o florescer da Observância entre os Frades Menores.

De cónego Agostiniano a frade Franciscano
A vida de Santo António é muito conhecida, uma vez que vários estudos de relevo lhe têm sido dedicados[1], pelo que nos limitaremos a alguns traços ligeiros, que nos parecem mais significativos para compreendermos a afeição popular por este Santo.
António é um intelectual do seu tempo e o Primeiro Doutor da Ordem Franciscana. Mas esta qualidade é pouco conhecida pelo povo, apesar de ter sido declarado Doutor da Igreja, em 1946, mediante a bula Exulta, Lusitania Félix, de Pio XII.
Filho de ricos comerciantes portugueses, recebeu no Baptismo o nome de Fernando Martins de Bulhões. Nasceu em Lisboa, entre 1191 e 1195[2], cerca de 50 anos depois do nascimento da nação portuguesa e no decurso da reconquista cristã do território ao domínio muçulmano. A sua história deve ser vista nesse ambiente de expulsão dos muçulmanos e, ao mesmo tempo, de emergência de uma nova nação. Vive os primeiros anos da sua vida a dois passos da Catedral de Lisboa, onde frequentou os primeiros estudos, nas aulas de Gramática. Próximo dali, a cerca de um quilómetro, fica o Mosteiro de São Vicente de Fora, dos Cónegos Regrantes de Santo Agostinho. Com cerca de 15 anos de idade, Fernando pediu aos pais que o deixem entrar no Mosteiro e aí fez o noviciado. Depois, cerca dos 19 ou 20 anos, foi terminar a sua formação intelectual em Santa Cruz de Coimbra, onde foi Ordenado Sacerdote. Em Coimbra teve a oportunidade de conhecer os Frades Menores de São Francisco, que viviam no eremitério de Santo Antão, nos Olivais, sobre uma colina, a Nordeste da cidade. Por essa altura, passaram por Portugal a cominho de Marrocos, cinco Frades Franciscanos, para aí pregarem a fé cristã. Mal recebidos em Marrocos, acabaram por ser barbaramente martirizados.
Este facto foi crucial no despertar da vocação franciscana em Fernando de Bulhões. A passagem solene, pelas ruas da cidade de Coimbra, dos corpos dos cinco Frades martirizados em Marrocos, fez nascer nele o mesmo ideal[3]. Podemos dizer que, nesse dia, o desejo de encontrar a morte pelo martírio desprendeu-o de tudo: das suas raízes, da sua vocação monástica e da quietude do Mosteiro, dos estudos, da ciência. Tinha cerca de 30 anos. Pediu para entrar na Ordem dos Frades Menores e aí recebeu o nome de António, sendo-lhe concedida imediata permissão para partir para o norte de África[4].
Aí desembarcou, no Inverno de 1220. Mas, uma persistente doença obrigou-o a voltar para a Portugal. No regresso, o navio que do Norte de África vinha para Lisboa, foi desviado por uma violenta tempestade e foi parar às costas da Sicília, na Itália. Estávamos no começo da Primavera de 1221. O religioso português foi recolhido pelos seus irmãos Franciscanos italianos, que o levaram para a cidade de Messina, devolvendo-lhe, com os seus cuidados, a saúde corporal.
No final de Maio, desse mesmo ano, realizava-se em Assis o Capítulo Geral da Ordem dos Frades Menores, para o qual todos os religiosos eram convidados. Foi aí que António conheceu Francisco de Assis. Terminado o Capítulo, seguiu para o pequeno eremitério de Montepaolo, perto de Forli, no Norte de Itália, onde estavam seis Frades. É-lhe dado o encargo de presidir à celebração da Santa Missa para os seus irmãos e ajudar nos trabalhos domésticos. Desejando preservar a humildade, António nunca revelou seus conhecimentos e raramente era visto com livros, além do breviário e do missal.
Na cidade de Forli havia um convento de estudos da Ordem de São Domingos. Em setembro de 1222, os Dominicanos convidaram os Franciscanos para participarem na cerimónia das Ordenações sacerdotais naquele convento. Na hora própria, o superior dos Dominicanos dirige-se aos Franciscanos, a fim de que um deles fizesse a pregação. O Superior do eremitério de Montepaolo pede ao irmão António que suba ao púlpito e diga «tudo o que lhe seja sugerido pelo Espírito Santo». As primeiras palavras foram simples, mas, em seguida, tornam-se firmes, seguras e convincentes, a ponto de impressionarem todos os presentes. A notícia deste facto percorreu toda a região e, em pouco tempo, António foi nomeado pregador oficial da Ordem.
Na época de António, desenvolveram-se alguns movimentos heréticos, entre os quais estavam os Cátaros, isto é, puros, e os Albigenses, que renovavam as antigas correntes gnósticas e maniqueístas. Com a sua pregação, António irá defrontá-los, procurando contrapor-se às suas doutrinas. O conhecimento profundo das Escrituras dava às suas palavras uma autoridade invulgar, lançando no coração de ouvintes raízes tão fundas, que a todos arrebatava e reconduzia à verdade. Tanto pregou no Norte da Itália, como no sul da França, onde se destacam Montpellier, Le Puy, Arles, Toulouse, Limoges, Bourges, entre outras cidades.
O seu ofício de pregador valeu-lhe o título de «Arca do Testamento», mas António foi também director de estudos e professor de teologia. Segundo algumas fontes, o próprio São Francisco o teria incumbido dessas funções[5]. Em Bolonha fundou e dirigiu a primeira escola da Ordem Franciscana.
As suas biografias mais seguras, ocultam-nos pormenores acerca deste período da vida do pregador António. Só no fim do século XIII, D. Jean Rigaud, bispo da Bretanha, procurou ordenar os factos lendários preenchendo as lacunas da vida do Santo. Desta forma, a fama de Taumaturgo provém sobretudo dos escritos deste bispo, que ficaram conhecidos com o nome de «Rigaldina»[6].
Em 1226, foi nomeado Custódio dos Frades Menores da região de Limoges e, em 1227, é nomeado Superior Maior da província da Romagna, que abrangia todo o norte da Itália. António exerce esse cargo até Maio de 1230 e segue para Pádua, pregando sucessivamente nas 55 igrejas da região. Em fins de 1231, com a saúde muito abalada, António retira-se para o castelo de Camposampiero, próximo de Pádua. Ali, escreve e revê os seus Sermões, dedicando longas horas à meditação espiritual.
Um dia, estando em Camposampiero, sente-se mal à mesa e pede a um dos irmãos que o leve imediatamente para Pádua. No caminho, sentido-se desfalecer, teve de ficar no mosteiro das clarissas, em Arcella. António só tem tempo para se confessar e receber a unção. Morreu dizendo: «Vejo o meu Senhor». Era o dia 13 de Junho de 1231.

Origem da devoção antoniana
A paixão popular pela figura de Santo António não é algo que tenha ocorrido somente depois da sua morte, ao contrário, António alcançou verdadeira fama de santidade ainda durante a sua vida terrena.

A paixão popular por Santo António
Depois de ter dado a conhecer os seus dotes oratórios em Forli, António dedicou o resto da sua vida, quase sempre, à pregação popular, atraindo sobre si, a atenção de todo o povo. Três elementos explicam o seu sucesso: em primeiro lugar, o fascínio da sua santidade e autoridade moral; em segundo lugar, a extensão e profundidade da sua cultura, acompanhada por um invulgar poder de comunicação, segundo as regras da Retórica do seu tempo; e, em terceiro lugar, a sua magnífica figura física[7].
O testemunho da «Primeira Legenda» reforça a fama do pregador ímpar, dizendo que:
«Homens de todas as condições, classes e idades alegravam-se de ter recebido dele ensinos apropriados à sua vida».
A propósito da última Quaresma pregada em Pádua, informa-nos que:
«Vinham multidões quase inumeráveis de ambos os sexos das cidades, castelos e aldeias de à volta de Pádua, todos sequiosos de ouvir com a maior devoção a palavra de vida». Mais adiante: «Estavam presentes velhos, acorriam jovens, homens e mulheres, de todas as idades e condições, vestidos como se fossem religiosos, o próprio Bispo de Pádua [Tiago de Corrado] e o seu clero».
Segundo a mesma «Legenda Prima», chegavam a reunir-se, para escutar o Santo, «perto de trinta mil homens», todos no mais respeitoso silêncio, de «ânimo suspenso e de orelha virada para aquele que falava». «Os negociantes fechavam o comércio e só o reabriam depois de terminada a pregação».
O resultado de tal pregação na última Quaresma da sua vida terrena vem assim descrito no capítulo 13 da legenda «Assidua»:
«Tentava reconduzir à paz fraterna aqueles em que reinava o ódio»
«lutava pela restituição de usuras e de bens obtidos por violência»
«afastava as prostitutas do seu infamante modo de vida»
«convencia os ladrões famosos pelos seus malefícios a não tocarem no alheio».

O nascimento de um santo
Dada a sua fama de santidade, no dia da sua morte, todos queriam fazer-se guardas dos restos mortais. As freiras Clarissas do Mosteiro onde morreu, de acordo com os Franciscanos de Arcella, tentaram ocultar o seu falecimento. Mas, as crianças de Arcella, ao saberem da notícia, saíram por todos os lados a gritar: «Morreu o Santo! Morreu o padre Santo». O povo da região acorreu todo a Arcella. Como a última vontade do Santo tinha sido ir para Pádua, o seu corpo acabou por ser para aí conduzido, 4 dias depois da sua morte, no dia 17 de Junho de 1231, que era uma Terça-feira.
A devoção por aquele homem, verdadeiramente eleito pelo Céu, era geral. Todos queriam estar junto, tocar de alguma forma o corpo de António, já canonizado pelo povo em vida e logo nos primeiros dias após a sua morte. Dizem os biógrafos que os primeiros milagres surgem no dia do enterro, em Pádua[8]. Nos dias seguintes, toda a gente se encaminha para o túmulo do bem-aventurado António, de pés descalços, a fim de obterem graças do céu por seu intermédio. «Acorrem os venezianos, apressam-se os tervisinos, notam-se pessoas de Vicenza, lombardos, eslavónios, da Aquileia, teutónicos, húngaros»[9]. Este é o primeiro mapa do culto antoniano.
Os populares de Pádua, representados pelas autoridades civis e religiosos, apresentaram na Cúria Pontifícia, então em Rieti, uma delegação a pedir a canonização do irmão António. O processo foi aberto no início de Julho de 1231, ainda não tinha passado um mês da morte do Servo de Deus. E a cerimónia de canonização ocorreu no dia 30 de Maio de 1232, solenidade do Pentecostes, na catedral de Espoleto. Em menos de um ano o processo ficou concluído[10]. O nome de António foi inscrito no catálogo dos Santos, pela bula da canonização Cum dicat Dominus, que manda celebrar a sua festa todos os anos, no dia 13 de Junho.

A devoção espalha-se por todo o mundo
O fascínio exercido por António durante a sua vida terrena como pregador itinerante, sábio e santo espalhou-se após a sua morte e canonização, sobretudo na Itália do Norte e na França do Sul. No entanto, este fenómeno levou dois séculos a atingir o resto da cristandade. Além dos paduanos, Santo António começou por ser venerado, pela Europa, nos conventos, eremitérios e igrejas onde os Frades Menores estavam estabelecidos. A Portugal a fama da sua santidade só chegou depois da sua canonização. Mas conta-se nas «Florinhas de Santo António»[11] que no mesmo dia em que o Papa Gregório IX canonizava Santo António em Itália, em Lisboa os sinos de toda a cidade tocaram, sem que ninguém os estivesse a tanger. Pouco tempo depois, a notícia chegou à capital portuguesa e a cidade dedicou a Santo António o Altar-mor da Catedral e começou a celebrar-se todos os anos com grande solenidade o dia 13 de Junho.
Assim, durante os séculos XIII e XIV, Santo António é venerado em Lisboa, sua cidade natal e nalguns mosteiros portugueses dos Cónegos Regrantes de Santo Agostinho, com os quais estudou e viveu, professando a mesma forma de vida, antes de se fazer Franciscano. É venerado também na diocese de Pádua e nas igrejas franciscanas, um pouco por todo o lado.
No século XV, o movimento dos espirituais, que se emancipava dentro da Ordem dos Frades Menores, levou Santo António para outros lugares da Europa, onde ainda não era conhecido, o que contribuiu decisivamente para aumentar o culto e veneração a este Santo. Nos séculos XVI, XVII e XVIII, as viagens marítimas dos navegadores portugueses, espanhóis e italianos levaram a sua fama às terras de África, América e Ásia. Normalmente as expedições marítimas contavam com a presença de alguns missionários, que, quando eram Franciscanos, se encarregaram de implantar a devoção antoniana nas terras onde desembarcavam.
O aparecimento da imprensa não só veio contribuir para a divulgação em larga escala da sua vida. As pinturas e esculturas dos artistas mais célebres foram reproduzidas em gravuras e, multiplicadas aos milhares, eram distribuídas nos santuários antonianos mais importantes, para responderem ao desejo dos devotos.
Por ocasião das comemorações do sétimo centenário, na última década do século XIX, Santo António atinge o máximo da sua popularidade. Nesta ocasião, para além das outras manifestações de piedade começou a sublinhar-se o aspecto social do Santo. A bênção do pão de Santo António e a sua distribuição aos pobres generaliza-se por todos os países, o que faz com que quase todas as representações do Santo feitas no século XX o apresentem com um Alforge de pão para distribuir aos pobres, embora conservem outros símbolos tradicionais.

Iconografia antoniana
Na igreja a que nós, os Franciscanos Capuchinhos, damos assistência em Coimbra (igreja de Santa Justa) está uma imagem de Santo António e, diante da mesma, do outro lado está a imagem de outro santo que se veste da mesma maneira, mas que não é São Francisco. Há dias, duas jovens senhoras floristas, que vinham fazer um estudo dos altares para poderem prepararem os arranjos de flores para um casamento, que se ia celebrar na nossa igreja, estavam muito intrigadas a olhar para o outro Santo. E perguntaram-me: «Que Santo é aquele?». E eu respondi-lhes com outra pergunta: «E este aqui, quem é?» Elas responderam-me: «É Santo António». «Porque?», perguntei eu. «Porque tem o menino ao colo e o pão dos pobres na mão». «Pois aquele além ¾ disse-lhes eu ¾ que tem as mãos abertas e nas mãos os sinais das chagas, é São Francisco. Como tem o mesmo hábito, para se distinguir de Santo António, puseram-lhe um ar mais triste, barba e remendos nos joelhos». E as senhoras lá seguiram todas contentes, não por ficarem a conhecer São Francisco, mas porque lhes tirei a ideia de que na nossa igreja havia dois Santos António, um dos quais, sem livro, sem menino e sem alegria.
Pela descrição que vos fiz do nosso Santo António, que vos parece, de que século é? ¾ É uma imagem muito querida, datada de 1947, de Manuel Tedim, um autor que para mim é um dos melhores escultores de Santo, do século XX, em Portugal.
Para distinguir os santos uns dos outros, a hagiografia servia-se de determinados símbolos, que se relacionam com as qualidades ou o que é mais característico em cada Santo, segundo a história ou a lenda que envolve a sua vida. Desde as primeiras imagens realizadas, Santo António sempre foi representado vestido de franciscano, quase sempre de pé. Mas, para não se confundir com São Francisco de Assis, igualmente vestido de hábito castanho e cuja devoção estava largamente difundida, a sua face surgia quase sempre como a de um jovem, alegre ou pensativo, sem barba. Na mão esquerda costuma ter um livro, como alusão à sua vasta sabedoria, enquanto a mão direita faz um gesto explicativo, como alusão ao pregador. Noutras imagens, na mão direita é colocado um lírio, sugerindo a pureza e castidade; ou uma cruz, símbolo da fidelidade a Cristo. Também aparece com uma chama de fogo na mão direita, símbolo da caridade; ou um coração, com ou sem chama, para nos lembrar que, apesar de franciscano, ele é um discípulo de Santo Agostinho de Hipona. O Menino Jesus, expressão do seu amor por Deus Menino ¾ que uma tradição antiga diz lhe ter aparecido em Camposampiero pouco antes da sua morte ¾ começa a surgir na iconografia antoniana no século XV[12]. A figura do menino foi tão bem aceite que, a partir de então, Santo António nunca mais a dispensou, obrigando os artistas a verdadeiros exercícios de equilibrismo, fazendo sentar o menino sobre o livro que Santo António também não gosta de esquecer. Em Portugal, o Santo também aparece vestido com o hábito de Cónego Regrante de Santo Agostinho. Na Bélgica algumas representações de Santo António salientam o seu carácter sacerdotal, apresentando-o vestido com os paramentos da Eucaristia.

Devoção antoniana em Portugal
Portugal é palco de um fenómeno peculiar no que toca à religiosidade popular antoniana. Não podemos negar a influência que os Frades Franciscanos tiveram na sua implantação e divulgação, mas o povo da cidade natal de Santo António, desde o início, viu o Santo como um dos seus e o seu culto, como algo que lhe pertencia. Em Lisboa, depois da canonização, em 1232, dá-se um fenómeno a que eu chamaria de apropriação popular de Santo António. Ao saberem que um dos seus vizinhos tinha sido canonizado pelo Papa Gregório IX, os habitantes do bairro de Alfama rejubilaram e começaram a chamar-lhe o seu Santo. A lentidão das comunicações entre Itália e Portugal fez com que os pormenores da vida do Santo chegassem a Portugal muito tarde, o que favoreceu o nascimento de um culto espontâneo, original e livre. Hoje em dia, o povo conhece minimamente a vida do Santo, mas continua a dar mais importância aos relatos de milagres e episódios lendários, e não tanto à sua vida histórica. Quando se tem no Céu um Santo que nasceu no nosso Bairro, com o qual alguns estudaram Gramática na escola da Catedral e viram crescer até aos 15 anos, é normal que se trate como um amigo muito querido e especial. Por um lado, era a ele que se dirigiam todas os pedidos de socorro e, por outro lado, a ele passaram a ser atribuídas todas as curas e favores, para os quais a ciência da Idade Média não encontrava explicação. Por todos e para tudo era invocado. Deste modo, a mais sincera piedade popular, que com fé lhe rogava protecção, começou por ver no Santo um Taumaturgo omnipresente e quase omnipotente.
Fernando Félix Lopes, conhecedor profundo das entranhas da alma do povo português, explica que os lisboetas, acostumados a recorreu ao Taumaturgo e por ele serem prontamente atendidos, «porque com ele tratavam cada dia, cada hora, o Santo ficou tão de todos, tão da nossa casa portuguesa, que quase se lhe perdeu o respeito. Na ânsia de o termos perto, o apeamos do seu altar e o trouxemos para a nossa vida a viver connosco, a cantar a nossa alegria, a chorar as nossas lágrimas, a correr os nossos folguedos e trabalhos. Não foi irreverência: foi confiança que tomamos ao Santo do nosso sangue»[13].
Hoje, esta apropriação popular de Santo António é reflexo da mesma confiança. Muitas fachadas das casas têm um painel de azulejos com a sua imagem. Como protector das famílias, aparece dentro das casas, sobre pequenos altares, acompanhado de velas e flores. Nos estabelecimentos comerciais, é frequente encontrarmos o Santo, em lugar de destaque, dentro dos mercados, dos comércios, das farmácias, das padarias, drogarias, entre outros. Aqui ele vela pelos bons negócios dos seus proprietários. Entre os marinheiros portugueses, sobretudo os da região de Lisboa, tornou-se comum levarem uma imagem do Santo António na embarcação, para os proteger contra as forças marítimas, talvez, por ele ter sido vítima de uma tempestade, que o empurrou para as costas da Sicília. Em séculos passados, perante o perigo, ao mesmo tempo que o invocavam, esses marinheiros mergulhavam a sua imagem de cabeça para baixo, para serem mais rapidamente atendidos.
Portanto, todo o país conhece Santo António e ele está presente, de um modo geral, na vida eclesial, social e pessoal portuguesa, como patrono de Paróquias, Províncias Religiosas, casas religiosas, edifício públicos, casas particulares, avenidas, ruas, praças, terrenos agrícolas, embarcações, etc. A sua imagem figurava já numa colecção de selos de 1895, em comemoração do 7º centenário do seu nascimento e circulou em Portugal uma nota de 20 escudos, com o seu busto e a Casa-Igreja de Santo António, em Lisboa.
Muitas são também as pessoas que adoptam o seu nome para baptizarem os filhos, confiando-os à sua protecção durante toda a vida. Esta tendência criou raízes no século XVI, uma vez que, na Idade Média, o nome «António» era muito pouco utilizado. Na região de influência do Mosteiro de Alcobaça, por exemplo, por o nome «António» passou a ser o nome masculino mais comum nesse tempo, surgindo também o antropónimo feminino, «Antónia», para as meninas[14]. A Este facto, não é alheia a transformação da casa dos pais de Santo António em Igreja, no século XV, o que a tornou imediatamente um lugar de peregrinação, não só para os lisboetas, mas, a pouco e pouco, para todo o país.
No terramoto de 1755, a Casa-Igreja de Santo António foi destruída, salvando-se apenas a imagem do Santo e a cripta, onde se conserva o lugar que dizem ter sido o quarto de Santo António. A reconstrução que se seguiu deu lugar à Basílica actual, que conserva uma passagem, através da sacristia, para o quarto do Santo, no piso inferior. Nenhum devoto dispensa contemplar com os seus olhos esse lugar e aí permanecer uns momentos em silêncio e oração. Em Lisboa, em paralelo com a relíquia, mais que a imagem do Santo, é venerado este espaço simbólico, de dimensões reduzidas. A esse local acorrem, durante todo o ano, milhares de peregrinos e turistas curiosos, vindos de todo o mundo.
A imagem de Santo António está presente em quase todas as igrejas portuguesas, as quais, quando o não têm como patrono, lhe dedicam um altar. Normalmente a festa do dia 13 de Junho não é esquecida e onde não se criou essa tradição, a imagem do Santo é integrada nas procissões e festas principais das paróquias.
Se exceptuarmos os santuários mais importantes e algumas igrejas dos Frades Franciscanos, diante da imagem de Santo António não se celebram actos de devoção de carácter colectivo, ao longo do ano. Ou seja, na grande maioria dos casos, a religiosidade popular antoniana é privada. As pessoas dirigem-se ao Santo quando necessitam a sua ajuda e agradecem-lhe as suas graças com a oferta de velas, flores e dinheiro para os pobres. Pelo contrário, em algumas igrejas ligadas aos Religiosos Franciscanos, na Casa-Igreja de Santo António, em Lisboa, e no Convento de Santo António dos Olivais, em Coimbra, mantêm-se vivas as Terças-Feiras Antonianas, lembrando o dia do solene funeral do irmão António, que, como acima se refere, aconteceu no dia 17 de Junho de 1231, uma Terça-Feira[15].
A festa anual é celebrada com maior ou menor solenidade em todo o país, unindo à parte religiosa a componente lúdica e folclórica. Lisboa é, sem qualquer dúvida, o local onde os festejos são mais solenes e mais vistosos, mas para termos uma panorâmica mais abrangente, além de Lisboa, vejamos também dois lugares onde os Franciscanos Capuchinhos vivem e trabalham em Portugal: Coimbra e Barcelos.

Lisboa
Na Casa-Igreja de Santo António festeja-se o dia 13 de Junho com enorme solenidade. Durante o dia celebram-se várias Eucaristias, desde a manhã até à noite, e em todas elas é benzido o pão de Santo António[16]. Fora da igreja os devotos compram quanto pão desejam, sabendo que o produto da venda será entregue ao Orfanato antoniano de Caneças, de onde vem esse pão. Nesse local vendem-se também devocionários, livros alusivos à vida do Santo, objectos religiosos, estampas, medalhas e imagens. O dinheiro obtido reverte em favor dos mais carenciados. Durante todo o ano, às Segundas-Feiras, depois da missa da tarde é distribuído pão aos pobres, com uma pequena ajuda em dinheiro.
A eucaristia mais solene no dia de Santo António, é a do meio-dia, para a qual é convidado o Sr. Cardeal Patriarca de Lisboa. À tarde, faz-se a procissão com o Santo, que percorre as ruas antigas do Bairro de Alfama. Além das autoridades religiosas e civis da cidade, nela se integram os Frades Franciscanos, as irmandades de Santo António, a Ordem Franciscana Secular, as crianças do Orfanato de Caneças e uma multidão de devotos. Por onde passa a procissão, as pessoas adornam as janelas das casas com colchas e lançam pétalas de flores, no momento em que passa a imagem do Santo. Ao longo do percurso, as imagens de outros Santos do Bairro de outras capelas, esperam a chegada de Santo António, para serem incorporados na procissão, que chega a ter vários quilómetros. Como preparação para a festa realiza-se uma Trezena, que concentra várias dezenas de devotos, duas vezes ao dia, na Casa-Igreja do Santo.
Não se usa benzer as crianças, como se faz noutros países, mas elas também participam nas festividades. Além de se incorporarem na procissão, às vezes vestidas como o Santo, durante os 13 dias anteriores à festa, constroem tronos com pequenas imagens do Santo e pedem às pessoas que passam: «Uma moedinha para Santo António». Algumas, levam esse dinheiro à igreja, para ser entregue aos pobres, outras compram guloseimas, agradecendo ao Santo esses momentos deliciosos de satisfação. Este costume das crianças pode ser observado um pouco por todo o país.
Independentemente das celebrações litúrgicas, cada Bairro da cidade antiga organiza a sua festa em honra de Santo António. Edificam-se tronos para colocar a imagem do Santo, normalmente de terra cota. Enfeitam-se as ruas com arcos coloridos de flores de papel e balões acesos à noite. Há música e bailes todas as noites. Comem-se sardinhas assadas, bebe-se vinho tinto, salta-se a fogueira de Santo António e cantam-se quadras a Santo António. Algumas dessas quadras populares são espetadas nos manjericos como pequenas bandeiras, encimadas por um cravo, para se oferecerem à pessoa amada.
A noite do dia 12 é, para a festa civil, o momento mais importante. O ambiente convida toda a cidade a sair à rua. Cada bairro vai em grupo em direcção ao centro da cidade. As pessoas vão cantando e marchando ao som da música, que as acompanha. Cada par leva um pequeno arco de flores de papel, com um balão e, às vezes, a imagem de Santo António ou outro motivo alegórico. São as marchas de Santo António. Há já muitos anos, estas marchas tornaram-se um concurso entre bairros, ganho pelo Bairro que apresentar a melhor marcha popular, a melhor música e letra da canção, a melhor coreografia e o melhor vestuário. À meia-noite, o fogo-de-artifício marca a chegada do dia 13 de Junho, o dia da festa. Têm início, então, os bailes em cada um dos Bairros mais antigos da Cidade.

Coimbra
Em Coimbra a tradição é muito semelhante, motivo pelo qual daremos destaque ao que lhe é mais característico.
O dia 13 é preparado por uma Trezena, que se realiza na Igreja de Santo António dos Olivais, local onde antes se erguia a ermida de Santo Antão e onde Santo António se tornou Franciscano. Todos os dias os devotos se reúnem para celebrar a Eucaristia, às 18h30, participar nos actos de piedade em honra de Santo António e receberem a bênção com a relíquia de Santo António. Durante esse dia, o espaço livre à frente do santuário é ocupado por comerciantes ambulantes, o que dá ao ambiente um colorido especial. No dia da festa, a Eucaristia solene, para a qual é convidado o bispo local, celebra-se actualmente não na Igreja e Paróquia de Santo António dos Olivais, mas no Mosteiro de Santa Cruz, onde Santo António viveu como Cónego Regrante de Santo Agostinho. Ainda hoje se pode ver aí uma belíssima imagem do Santo vestido com o hábito de cónego agostinho. No fim da celebração, são benzidos os pãezinhos de Santo António e só depois distribuídos às pessoas. As ofertas recolhidas revertem em benefício dos pobres. Os devotos recebem o pão não só como alimento bento, mas também para conservar em casa, como uma presença viva do Santo, às vezes conservada para comer numa hora de sofrimento físico ou espiritual.
Pela tarde, a procissão de Santo António, percorre algumas ruas de Coimbra, partindo da igreja de Santo António dos Olivais e a ele voltando. As manifestações civis, porém, não alcançam a exuberância da cidade de Lisboa.

Barcelos
Na igreja de Santo António, em Barcelos, no Norte de Portugal, os Franciscanos Capuchinhos benzem e distribuem o pão de Santo António na primeira Eucaristia da manhã, do dia 13 de Junho. A cada devoto é entregue, não um pequeno pão simbólico, mas um pão grande, com mais de quilo, que é consumido nesse dia pela família, para todos receberem as graças de Santo António durante o ano. Apesar de se celebrar a Eucaristia com grande solenidade, não é feita qualquer preparação durante os dias que a antecedem. Mesmo assim, há sinais externos que manifestam a proximidade das festas, como a construção de um grande Trono de Santo António, junto à igreja, convidando os devotos a entrar.
No dia anterior, realiza-se a parte lúdica da festa, onde temos o Concurso das Marchas de Santo António, disputado entre Bairros [ou grupos], jogos tradicionais, música, vendedores ambulantes e fogo-de-artifício. Infelizmente, há já alguns anos foi abandonada a procissão pelas ruas da cidade.
Em Barcelos, como noutras zonas do país, algumas pessoas invocam Santo António como patrono dos animais, confundindo-o com Santo Antão Abade. Como os lugares que envolvem a cidade são ainda bastante rurais, os devotos pedem-lhe que proteja os seus animais e os livre de doenças. Parece que Santo António não se incomoda com isso e é frequente encontrarmos pequenos porcos, ovelhas e bois de cera aos seus pés, em sinal de agradecimento dos favores que o santo presta.

Outras peculiaridades da devoção antoniana
Em Portugal, como em todo o mundo, considera-se Santo António extraordinário advogado das coisas perdidas. A devoção enraíza-se no poeta músico Frei Juliano de Espira, que cerca de 1235, compôs o ofício litúrgico de Santo António e nele deixa ler o célebre responsório: Si quaeris miracula (Se milagres quereis)[17].
Desde há um século a esta parte, Santo António tornou-se um especial advogado de bons casamentos. Como santo casamenteiro, «não admira, pois, que a principal clientela de devotos de Santo António se recrute entre o elemento feminino: raparigas solteiras à espera de noivo, mulheres solteironas desesperadas para o encontrar, ou viúvas não querendo ficar esquecidas, e até as casadas […], na esperança de fazerem voltar um marido infiel, ou afastar uma concorrente indesejável»[18]. A deduzir de afirmações de vários estudiosos, esta faceta antoniana é exclusiva do mundo lusitano[19]. Antigamente, quando uma moça queria encontrar um noivo, colocava o seu pedido num papel debaixo da imagem, que tinha no altar lá em casa. Se o Santo demorasse muito, ou se o noivo não lhe agradasse, virava o Santo para a parede, até que o noivo fosse o desejado[20].
Uma das características singulares da figura de Santo António em Portugal, que se estendeu a alguns países de língua e influência portuguesa, é a sua carreira militar. Durante as guerras da restauração da independência, Santo António foi várias vezes invocado para se obter a vitória face aos exércitos espanhóis. Em 1688, assentou praça no 2º Regimento de Infantaria, em Lagos, por alvará de D. Pedro II. Em 1683, foi promovido a Capitão, em atenção aos seus bons serviços militares, sendo-lhe atribuído um salário de dez mil reis. Em 1814, no contexto das invasões francesas, D. João VI promoveu-o a Tenente-Coronel de Infantaria. Nesta época, a carreira militar de Santo António estendeu-se de Portugal ao Brasil, a Angola, a Moçambique, à Índia, a Macau e a Timor Leste. Ainda hoje, nestes países, Santo António é conhecido como militar de carreira[21].
Existem, em Portugal, várias Associações Antonianas e irmandades, com fins sócio-caritativos, promovendo a assistência aos pobres e orfanatos. As irmandades de inspiração antoniana são hoje formas vivas e articuladas de devoção. No que diz respeito à sua origem, cada uma delas tem a sua história particular de piedade. Mas, no que diz respeito à finalidade, todas elas convergem em quatro pontos: são sociedades que promovem a mútua ajuda entre os seus membros; o socorro dos pobres; a promoção espiritual e moral dos associados, através de práticas religiosas e do testemunho pelo exemplo e boas obras e a difusão do culto a Santo António.
Em síntese, a situação da devoção antoniana em Portugal continua viva e profundamente enraizada no coração dos devotos, embora tenhamos de admitir que Santo António é mais propriedade do povo e não tanto dos Franciscanos ou da Igreja. Mesmo aqueles que se dizem cristãos não praticantes, conservam em suas casas ou nos seus estabelecimentos comerciais uma imagem do Santo, reclamando dele a protecção sobre as famílias, as casas e os negócios. Onde se criou a tradição de celebrar Santo António, o dia 13 de Junho, nunca é esquecido pelo povo. Mesmo que o Pároco não celebre com grande solenidade esse dia, os devotos ou simpatizantes fazem-lhe a festa com grande alegria. De casos destes, poderia citar alguns exemplos.
A peregrinação é uma constante durante todo o ano, e assume grandes proporções nos locais ligados à vida do Santo: a Casa-Igreja de Santo António, em Lisboa; o Convento de Santo António dos Olivais, onde se fez Franciscano; e o Mosteiro de Santa Cruz, em Coimbra, onde foi Cónego Regrante de Santo Agostinho.
Frei Acácio José Afonso Sanches

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[1] Francisco da Gama Caeiro, António. Dicionários de História da Igreja em Portugal. Dir. A. A. Banha de Andrade. Vol I. Lisboa: Resistência, 1980, p. 340-354; Idem, Santo António de Lisboa. 2 Vol. Lisboa [s.n.] 1967; Fernando Félix Lopes, Santo António de Lisboa, Doutor Evangélico. Braga: Ed. Boletim Mensal, 21954; Henrique Pinto Rema, Santo António de Lisboa, Primeiro Santo Missionário Português. In Encontro de Culturas. Oito séculos de Missionação Portuguesa. Lisboa: Conferência Episcopal Portuguesa 1994, p 69-79; ver também a extensa introdução, assinada por Henrique Pinto Rema, em Santo António de Lisboa, obras completas. Trad. de Henrique Pinto Rema. Lisboa, 1970.
[2] Até aos anos oitenta era pacífico dizer-se que Santo António nasceu em 1195, no entanto, segundo estudos médico-antropológicos, realizados em Pádua no mês de Janeiro de 1981, conseguiu-se determinar com grande segurança que o Santo morreu por volta dos 40 anos, o que veio colocar o seu nascimento em 1191 ou 1192. Cf. Henrique Pinto Rema, Santo António de Lisboa, Doutor Evangélico, Obras Completas, Sermões Dominicais e festivos, Edição Bilingue, Porto 1987, p. XVI (tratando-se da introdução à obra, o número das páginas é indicado em numeração romana).
[3] Os restos mortais de frei Bernardo, frei Pedro, frei Acúrcio, frei Otão e frei Adjunto foram recolhidos pelo Príncipe D. Pedro, irmão do rei de Portugal D. Afonso II, e entregues a D. João Roberto, Cónego do Mosteiro de Santa Cruz, para serem depositados na sua Igreja. O sonho da missão entre os infiéis, porém, poderá ter nascido na sua alma anos antes. Certamente teve conhecimento da vitória luso-espanhola sobre as forças sarracenas em Navas de Tolosa, no ano de 1212; as iniciativas missionárias contra os muçulmanos tomadas pelo Quarto Concílio de Latrão em 1215; a permanência no porto de Lisboa de vários cavaleiros cruzados, vindos do Norte da Europa. Estas iniciativas davam origem a uma mentalidade colectiva que favorecia o espírito de cruzada, num ambiente de cristandade, o que nos permite compreender as razões de António.
[4] Atendendo a que já era Sacerdote Crúzio, é provável que nem sequer tenha feito o Noviciado. Lembremos, além disso, que Fernando Martins de Bulhões foi admitido à Ordem Franciscana numa época em que o Noviciado não era ainda obrigatório. Efectivamente, este só foi imposto aos Frades Menores pelo Papa Honório III, mediante a Bula de 22 de Setembro de 1220, nesta data já teria professado a forma de vida simples e minorítica, portanto, anterior à Regra de 1221.
[5] Lemos na carta que São Francisco lhe escreveu: «Ao Irmão António, meu Bispo, o irmão Francisco envia saudações. Tenho gosto em que ensines aos irmãos a Sagrada Teologia, desde que, com o estudo, não se extinga neles o espírito da santa oração e devoção como está escrito na Regra»: FRANCISCO de Assis, Carta a santo António, in S. Francisco de Assis, Escritos – Biografias – Documentos, Fontes Franciscanas, Braga 1992, 101.
[6] Vita beati Antonii de ordine Fratrum Minorum.
[7] Cf. Henrique Pinto Rema, Santo António de Lisboa. Ex-votos. Lisboa: Quetzal Editores 2003, p 25-29. Segundo os especialistas que, em janeiro de 1981, lhe analisaram os restos mortais, guardados em Pádua, revelam-nos um homem de estatura elevada, de cerca de um metro e setenta, com olhos expressivos e dedos afilados
[8] Cf. Primeira Legenda e bula da canonização.
[9] Assídua.
[10] Santo António consta no «Guiness Book» como o santo que foi canonizado mais cedo depois da morte, mas nem tudo o que esse livro contém é verídico, pois o dominicano São Pedro de Verona, martirizado a 6 de Abril de 1252, subiu aos altares a 9 de Março do ano seguinte.
[11] Capítulo XXXV.
[12] Cf. Paolo Giuriati, Elementi per una indagine sulla devozione popolare a S. Antonio in Europa. In Il Santo, XVI (1976) 346-347; cf. Henrique Pinto Rema, Santo António de Lisboa. Ex-votos. Lisboa: Quetzal Editores 2003, p 33-34.
[13] Fernando Félix Lopes. Muitos são os relatos de milagres realizados pelo Santo na sua cidade natal, alguns dos quais ainda em vida, gozando do dom da bilocação, outros depois da morte. [Introduzir Relato de Milagres: Florinhas ou Ex-votos, p. 41] Ainda hoje, os devotos acreditam que no dia 13, depois da procissão, o Santo fará sempre um milagre e permanecem ali, de pé, concentrados à porta da sua Casa-Igreja, invocando-o com fé, a fim de serem beneficiados com alguma graça.
[14] Se tivermos em conta a região centro e Sul do país, dependentes do Mosteiro de Alcobaça, verificamos que na Idade Média o nome mais utilizado é João, seguido de Fernão ou Fernando e Afonso. A análise dos índices de algumas chancelarias medievais, que abrangem indivíduos de todas as zonas do reino confirmam a fraca incidência do nome António. Cf. Paulo Drumond Braga; Isabel M. R. Mendes Drumond Braga, Santo António na Terra, Santo António do Mar. Breve estudo das invocações antonianas. In Actas do Congresso Internacional «Pensamento e Testemunho». 8º Centenário do nascimento de Santo António. II Vol. Braga: Universidade Católica Portuguesa – Família Franciscana Portuguesa, 1996, p. 1044.
[15] Cf. Henrique Pinto Rema, Santo António de Lisboa. Ex-votos. Lisboa: Quetzal Editores 2003, p 34. O culto das Terças-Feiras Antonianas foi institucionalizado em 1616. Conta-se que um casal nobre de Bolonha, após 22 anos de casamento, conseguiu obter um filho por intercessão de Santo António. Um dia, Santo António terá visitado a senhora e sugeriu-lhe que visitasse, durante nove Terças-Feiras consecutivas, a sua imagem na igreja de São Francisco. No fim da novena, a senhora tornou-se mãe. O milagre divulgou-se e as novenas transformaram-se em trezenas de Terças-Feiras e, finalmente, em todas as Terças-Feiras do ano. Por razões de comodidade, nalguns lugares passaram este exercício de piedade para os domingos. Esta devoção pode incorporar vários elementos, consoante os lugares, podendo incluir a celebração da Eucaristia, um tempo de Adoração ao Santíssimo, a recitação do Terço Antoniano, a reza do responso e ladainha própria do Santo, o beijo da relíquia e a bênção com a mesma, etc. Desde 1763, a Igreja concede indulgências para todo o acto devocional das Terças-Feiras, durante uma adoração ao Santíssimo Sacramento.
[16] O Pão de Santo António teve origem em Pádua, ainda no tempo da construção da Basílica. Conta-se que um menino, de 20 meses, caiu a um poço e afogou-se. A mãe aflita promete dar uma porção de trigo igual ao peso do menino aos pobres no caso de o Santo o ressuscitar. A senhora foi ouvida e cumpriu a promessa. Sendo nisso imitada por outras mães que desejavam alcançar do Santo a protecção dos seus filhos. No século XIV, em França, conhecem-se fórmulas litúrgicas de bênção de trigo, para oferecer em quantidade igual ao peso das crianças que se pretendiam pôr sob a protecção de Santo António.
[17] Relativamente às coisas perdidas, existem várias explicações, entre as quais se enquadram os dois casos relatados no «Livro dos Milagres»: o cálice de vidro partido e refeito pelo Santo e o Saltério roubado e restituído ao Santo pelo ladrão: «Certa noite, um noviço fugiu do convento levando consigo o Saltério que António usava para suas orações e cursos. O estranho é que o diabo em pessoa tolheu-lhe o passo em plena noite, e o obrigou a voltar para devolver o objecto roubado ao proprietário»
[18] Mário Gonçalves Viana.
[19] Referimo-nos a Portugal e territórios de expressão portuguesa, ou onde Portugal teve alguma influência, como por exemplo no Oriente: cf. Henrique Pinto Rema, Santo António de Lisboa. Ex-votos. Lisboa: Quetzal Editores 2003, p 38.
[20] Conta-se que uma donzela não dispunha do dote para casar-se e, confiante, recorreu a Santo António. Das mãos da imagem do Santo teria caído então um papel com um recado a um prestamista da cidade, pedindo-lhe que entregasse à moça as moedas de prata correspondentes ao peso do papel. O prestamista obedeceu e pôs o papel num dos pratos da balança, colocando no outro as moedas. Os pratos só se equilibraram quando havia moedas suficientes para pagar o dote.
[21] Cf. Henrique Pinto Rema, Santo António de Lisboa. Ex-votos. Lisboa: Quetzal Editores 2003, p 31; cf. Manuel Silva, Tradição perdura em Timor. Coronel Santo António visita «os seus». In Mensageiro de Santo António. XIX (2003) 26-27.

(in www.capuchinhos.org)

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