A 13 de Novembro de 2004, a Igreja e o Ocidente celebraram 1650 anos do nascimento de Santo Agostinho, figura fundamental para a cultura ocidental, para a Igreja e para a Teologia, ao ponto de se afirmar que, sem o seu contributo, todas elas seriam hoje diferentes. A Diocese de Leiria-Fátima, onde o Santo é invocado como Padroeiro, organizou de 11 a 13 de Novembro o Congresso “Santo Agostinho – O Homem, Deus e a Cidade”, com o objectivo de “lançar luz sobre as grandes inquietações do tempo presente”. O secretário do Congresso, Pe. Armindo Janeiro, refere à Agência ECCLESIA que os 160 participantes foram confrontados com o itinerário do homem, a riqueza e os limites do seu pensamento. “A seriedade com que viveu torna-se um exemplo para o Ocidente e ainda hoje é a pessoa mais citada dos autores cristãos, mesmo fora do contexto eclesial”, frisa. Com a colaboração de um conjunto de professores universitários e especialistas do pensamento agostiniano a Diocese de Leiria-Fátima proporcionou uma ocasião privilegiada de tomar consciência de toda a riqueza e actualidade daquele que, de um modo ou de outro, foi mestre ou pioneiro do que de mais profundo e decisivo criou a nossa civilização e cultura. “Santo Agostinho como homem continua a ser, para hoje, um modelo da procura da verdade e da abertura à graça. Porque se converteu a Deus, converteu-se à sabedoria”, pode ler-se na nota conclusiva do Congresso. Henrique Noronha e Galvão, presidente da Comissão Científica do Congresso, escrevia na nossa publicação que “o pensamento de Santo Agostinho continua a ser o que já foi no seu tempo e nunca deixou de ser nas épocas posteriores: um despertar constante para a atenção ao real e uma permanente proposta de novas formas de o pensar”. Quase 17 séculos depois do seu nascimento, não faltam hoje motivos para que alguém se queira abalançar no estudo deste Padre da Igreja. O seu pensamento, que se destacou num tempo de ruptura, é marcado pelos problemas que viveu e aparece, muitas vezes, como surpreendentemente próximo dos nossos próprios problemas. “A reflexão agostiniana pode iluminar questões do homem moderno: o seu desejo de felicidade, as desolações das suas debilidades, as dificuldades de viver a fé num contexto de confronto com outras convicções, e as tensões entre solidão e comunhão”, refere o documento final do Congresso. O vigário-geral da Diocese, Pe. Jorge Guarda, insiste nesta ideia: “a reflexão agostiniana sobre a sua própria experiência espiritual e sobre Deus pode iluminar algumas das questões do homem moderno: o seu desejo de felicidade, as desolações pelas suas debilidades, as dificuldades de viver a fé num contexto de confronto com outras convicções e as tensões entre a solidão e a comunhão”. Sendo um homem que amou o seu tempo, de crise, o Bispo de Hipona retomou, nomeadamente, o tema filosófico e bíblico das duas cidades, interpretando-o no sentido de uma visão da história que permite tornar a fé cristã em crítica da racionalidade política – um tema particularmente premente numa Europa em transformação. “A dupla pertença (à cidade de Deus e à cidade terrena) dessacraliza as instituições sociais e políticas. A legitimidade destas terá de definir-se pela sua referência à justiça, a ser realizada plenamente no final da história”, dizem os congressistas. Os três dias de estudo e debate lembraram que Santo Agostinho desenvolveu uma incansável prática catequética e de pregação, “em que manifestou, como de resto em toda a sua actuação, um profundo respeito e afecto pelos humildes e todos os que necessitavam da sua ajuda, do seu discernimento e da sua orientação”. O Pe. Armindo Janeiro destaca que “Agostinho labora, indaga e reflecte sobre aquilo que está a dizer, o que é hoje uma boa notícia para a Teologia Ocidental, algo especulativa”. “Ele é um apaixonado, convertido, que vê tudo com radicalidade e deixa para o futuro algumas posições que nem sempre são convergentes”, reconhece ainda. Para o futuro, o Centro de Formação e Cultura da Diocese espera aproveitar as novas possibilidades de as pessoas acederem ao conhecimento da pessoa, vida e pensamento de Santo Agostinho, bem como os caminhos de diálogo que se criaram “com a arte, o mundo académico e a espiritualidade”, segundo o Pe. Armindo Janeiro. Notícias relacionadas •Ano Agostiniano: fecho em beleza pede continuidade •Congresso «Santo Agostinho: o homem, Deus e a cidade»