Santiago ganha espaço na Semana Santa

Sozinho ou em grupo, a pé ou de bicicleta, as peregrinações a Compostela seduzem 109 nacionalidades Pelo terceiro ano consecutivo a Associação Espaço Jacobeus organiza uma peregrinação a Santiago de Compostela na semana santa. Pela primeira vez pensada a partir de Braga, acabou por ser cancelada por falta de participantes e pela indisponibilidade de datas. Marcada está para o dia 30 de Março o início da caminhada, a partir de Valença do Minho, de um grupo de pelo menos quatro pessoas (oriundas de Braga, dos Açores e de Lisboa), mas com inscrições abertas ainda. O objectivo é chegar à catedral de Santiago de Compostela na Sexta-Feira Santa, dia 6 de Abril. Os sete dias de caminho vão ser percorridos numa média de 20 quilómetros por dia. Já se tornou habitual percorrer o caminho na semana santa, mas não por associarem a caminhada quaresmal a um percurso interno. O caminho de descoberta é proposto de igual forma, mas muitos que percorrem os quilómetros até Santiago “não têm ligação à Igreja”, explica Amaro Franco, presidente da associação à Agência ECCLESIA. Em todas as peregrinações que organizam, “a associação faz a proposta de conversão, de encontro do peregrino consigo próprio”, para celebrar a Páscoa na Missa do peregrino quando chega a Santiago de Compostela. A saída começa com a bênção do peregrino e normalmente “só se volta a celebrar eucaristia à chegada”. Durante o caminho “não é positivo exactamente porque alguns peregrinos não associam o caminho directamente à fé cristã”, mas antes a uma “procura de respostas interiores e partem muitas vezes com «o pé atrás» em relação à fé católica”. Durante o caminho “sendo este um dos maiores desafios de quem faz uma peregrinação a Santiago”, acontece a conversão e “reencontram-se com Deus”. Ninguém fica indiferente, por isso “mais de 90% dos que o percorrem pela primeira vez, voltam a fazê-lo”. No caminho acontecem muitos “milagres”, com autênticas opções de vida “a nível religioso”, sugere Amaro Franco. As peregrinações a Santiago de Compostela aumentam no Verão e diminuem no Inverno. O tempo ajuda a ditar tal regra. “Mas há também peregrinos em Janeiro e Fevereiro. Este Carnaval houve um grupo que fez peregrinação”, exemplifica. No final de Março, são vários os grupos que se juntam pelo caminho de vários quilómetros ou distam apenas um dia ou dois. Para além dos grupos que se constituem, “várias pessoas fazem o caminho sozinhas”, adianta o presidente da associação. “Não interessa, enquanto associação, organizar peregrinações”, pelo prejuízo, pelos meios que requerem, pela procura de voluntários experientes que se disponibilizem para acompanhar determinado grupo, “que muitas vezes abdicam da única semana de férias que têm, para ser guia do grupo”. Mas ser guia não é fácil. “Tem de se conhecer cada pedra, cada curva, cada sombra, subidas e descidas para que o caminho seja tranquilo”. Acrescido a este conhecimento de campo, é também importante ter capacidade para orientar espiritualmente, proporcionado ao longo do caminho através de metodologias e jogos capazes de “fazer peregrinar interiormente”, daí o lema da Associação “Não passes pelo caminho, deixa antes que o caminho passe por ti”. A peregrinação não termina em Santiago de Compostela, “começa quando se chega”. Segundo Amaro Franco isto causa confusão “a muita gente que faz o percurso”. Depois de se fazer o caminho “percebe-se porquê”, adianta. O caminho não tem segredos, é um “património com vários séculos de história, não tem “magia esotérica”. Em 2006, 109 nacionalidades peregrinaram a Santiago, “Oceânica inclusive”, adianta o presidente da Associação. O caminho é feito por pessoas que o percorrem e que vivem no caminho. Olhar 360 graus à volta é o conselho dado ao peregrino. “Não tenham nenhuma pressa para chegar a Santiago. Vivam no caminho, não passem por ele”, afirma no início de cada caminhada. Quem aceita esta proposta e faz “esta experiência mais forte”, e repara no rio, nas árvores, quem se senta no silêncio de uma capela, ou num cruzeiro pelo caminho, “não fica indiferente”. As respostas que se procuram não estão nas celebrações, “na eucaristia do peregrino ou no túmulo do apóstolo, estão sim no caminho”, que ajuda a descobrir e a cuidar do que é nosso: “a nossa espiritualidade, o nosso eu e o nosso sossego”, assinala Amaro Franco que iniciou o caminho pela primeira vez em 1992. As condições mudaram muito nos últimos 15 anos. O grupo que no dia 30 se põe a caminho, e que Amaro Franco vai acompanhar, prevê participar no sacramento da reconciliação colectivo na Catedral de Santiago de Compostela na sexta feira santa. Os anos anteriores dizem que esta é uma experiência muito boa, “inclusivamente mesmo por aqueles que se sentiam pouco à vontade com fé católica”. Muitos quilómetros vão ainda ser percorridos até 2010, ano santo em Santiago de Compostela. A 31 de Dezembro de 2009 será aberta a porta santa e nesse ano multiplicam-se mais ainda as peregrinações. A Associação Espaço Jacobeus, a única instituição em Portugal que está agregada à Confraria Universal do Apóstolo São Tiago Maior em Compostela, e responsável juntamente com a Catedral pela organização do ano santo, está já a preparar a celebração de 2010. Procurar um novo lema ou uma proposta pastoral são projectos, mas uma vez que o caminho português é “o segundo mais procurado” – o francês é o mais percorrido – “precisa de infraestruturas de apoio ao peregrino”, nomeadamente indicações e albergues no percurso em território português. As indicações são uma necessidade até porque “muitos peregrinos que fazem o percurso francês até Santiago, continuam depois até Fátima”, adianta Amaro Franco.

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