Santarém celebra São José

Homilia de D. Manuel Pelino na Solenidade do Padroeiro da Cidade Por desejo manifesto dos principais responsáveis pela organização das festas da cidade de Santarém, celebramos neste largo do Seminário uma missa solene e uma procissão em honra do padroeiro São José. Da parte da Igreja, aderimos com muito gosto e zelo a esta iniciativa. De facto, é nossa convicção de que a celebração digna da memória do patrono da cidade tem um significado rico e um alcance positivo nestes tempos de incerteza e relativismo que actualmente atravessamos. Patrono é o protector espiritual que guarda e vela pelos habitantes da cidade ou da comunidade. È também uma memória e raiz colectiva, uma referência comum de valores, um exemplo que admiramos, ao qual nos ligamos afectivamente e que procuramos imitar. Por todas estas funções espirituais e humanizadoras, o padroeiro torna-se uma fonte de união que alicerça e reforça os laços de pertença e integração na comunidade. Em honra de São José, na veneração e intercessão a este amigo de Deus e nosso protector, aqui estamos congregados em mútua harmonia, unidos pela mesma fé e mesma esperança, alicerçados nas mesmas raízes cristãs e referências culturais. Nesta amizade fraterna saúdo todos os presentes, o Ex.mo Sr. Presidente da Câmara e outros membros da autarquia, as Ex.mas autoridades aqui presentess, os responsáveis pela festa e pela feira de Santarém, os reverendos padres da Cúria diocesana, os párocos da cidade e outros padres aqui presentes, e todos os fiéis irmãos em Jesus Cristo. Terá sentido numa sociedade laica, este elemento religiosos nas festas da cidade secular? Os Santos, as suas imagens, os seus exemplos, têm acompanhado e influenciado positivamente a nossa história comum e a vida pessoal dos crentes. São antepassados ilustres da nossa grande família cristã que, passados anos e séculos da sua passagem pelo mundo, continuam a exercer uma influência benéfica. Marcam o nome de populações, de espaços públicos, de pessoas, de ritos e costumes. Integram, portanto, o nosso património espiritual e cultural. Pelos seus exemplos extraordinários de amor e de serviço, são estrelas brilhantes no firmamento da Igreja, personagens que honram a humanidade e adornam o mundo. São amigos de Deus e amigos dos homens, mensageiros da transcendência, sinais da riqueza espiritual da vida humana. As festas populares, quando alicerçadas na veneração dos santos padroeiros, trazem ao de cima esta dimensão transcendente e jubilosa da existência terrena, actualizam os seus exemplos luminosos de serviço e fidelidade, ajudam a combater o individualismo e a ausência de referências com que nos debatemos A leitura da Carta aos Romanos, que ouvimos, fala da descendência espiritual dos crentes que como Abraão, Maria e José pautam a sua vida pela fé e entrega a Deus e pela humildade e disponibilidade com que realizam as suas tarefas. “Recebem o mundo como herança” como foi prometido a Abraão, ou seja, conquistam o coração das pessoas, merecem admiração tornam-se uma referência que edifica e irradia à sua volta. Nesse sentido os santos foram as pessoas que mais influenciaram o mundo. Pela admiração e veneração que despertam nos fiéis eles contagiam as gerações com os seus exemplos de bondade, fidelidade, alegria e serviço humilde aos outros. São José é um dos santos mais relevantes na vida da Igreja. Advogado dos lares cristãos, modelo dos operários, inspira também, na sociedade actual, o dia do Pai. O principal título de glória, de facto, é ser pai afectivo de Jesus e esposo de Maria de Nazaré. A profunda devoção que os católicos portugueses dedicam a Nossa Senhora não pode deixar de estender-se àquele que foi seu esposo e com ela partilhou a sublime missão de guardar e educar o Filho de Deus. O Evangelho de São Mateus narra-nos a anunciação a José, como o de São Lucas narra a anunciação a Maria. Em ambos os textos, a anunciação está relacionada com o reconhecimento de uma identidade espiritual e com a entrega de uma missão transcendente. Maria é designada a “cheia de graça”, José é reconhecido como “homem justo” a quem é pedido que desempenhe a missão de pai perante a lei e a sociedade. É ele que dá o nome, que vela e protege o Filho do Altíssimo. O evangelho dá a entender a crise interior por que passou São José que chegou a pôr a hipótese de abandonar secretamente a noiva. A revelação que lhe foi dada acerca do desígnio de Deus, levou-o a abraçar com disponibilidade e confiança a missão de cuidar do Filho do Altíssimo e velar pelo seu crescimento humano. São José é apresentado como homem justo e silencioso. Um silêncio que lhe permite abrir o espírito à presença de Deus, escutar e guardar no coração a Palavra divina como Maria, prestar atenção aos sinais da vontade do Senhor, um silêncio impregnado de oração e revelador de riqueza interior. No ambiente de grande ruído em que vivemos, o silêncio de São José é um convite a cultivar o recolhimento e a capacidade de escuta do mistério de Deus para podermos encontrar a harmonia, a luz e a paz. A grandeza de São José fundamenta-se na fé e no serviço. Como afirmou o Papa Bento XVI, Sã José pode considera-se, “ao mesmo nível da Maria, herdeiro autêntico da fé de Abraão: fé no Deus que guia os acontecimentos da história segundo a seu misterioso desígnio salvífico. A sua grandeza, ao mesmo nível de Maria, sobressai ainda mais porque a sua missão se desempenhou na humildade e no escondimento da casa de Nazaré. De resto o próprio Deus na pessoa de seu Filho encarnado, escolheu este caminho e este estilo – a humildade e o escondimento – na sua existência terrena” Bento XVI, alocução de 19 de Março de 2006. Na memória de São José festejamos o dia do pai. Como este santo patriarca, o Pai é uma presença afectiva que desperta segurança e equilíbrio, é uma referência que convida à fidelidade, à atenção mútua, à união e colaboração na família. Neste dia dedicado ao Pai, apresento uma saudação cheia de apreço a todos os pais atentos e dedicados à bela e difícil tarefa da educação de seus filhos. Neste dia de festa associamos também a memória do primeiro Bispo de Santarém, Dom António Francisco Marques, a esta cidade, elevada com o seu episcopado, a sede de diocese ribatejana. O actual executivo da Câmara Municipal deu corpo a um sonho antigo, amadurecido por executivos anteriores, de lhe erigir um busto que perpetuasse a veneração e gratidão que todos lhe dedicamos. Ele praticou, como São José, as virtudes franciscanas da humildade, da simplicidade, da riqueza interior, da entrega sem limites à missão de velar por este povo confiado ao seu ministério pastoral. Homem de Deus, irradiava santidade e afabilidade. Que a sua imagem, avivada pelo seu busto, seja para nós uma graça e uma referência na prática do evangelho da paz e da bondade. Que juntamente com São José, Dom António Francisco nos ensine a fecundidade espiritual da vida humana alicerçada na fé e entregue ao serviço. Manuel Pelino Domingues, Bispo de Santarém

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Agência ECCLESIA

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