Santa Sé: Parceria com instituições japonesas vai desvendar a história dos cristãos perseguidos naquele país asiático

Acervo em causa remonta ao século XVII e inclui mais de 10 mil documentos que atestam atos de violência cometidos pelas autoridades civis nipónicas

Cidade do Vaticano, 29 jan 2014 (Ecclesia) – Uma parceria entre a Biblioteca Apostólica do Vaticano e um conjunto de instituições ligadas ao Instituto Japonês de Humanidades vai permitir dar a conhecer a história dos cristãos perseguidos naquele país asiático entre os séculos XVII e XVIII.

Em declarações ao site News.va, da Santa Sé, o prefeito da referida biblioteca agradece a colaboração daquelas organizações e destaca a importância de desvendar “a verdade histórica” acerca de uma época marcada por atos de violência cometidos “pelas autoridades civis” nipónicas contra “fiéis cristãos”.

Para o padre Cesare Pasini, a abertura manifestada pelo Japão à realização deste projeto não é um motivo de surpresa, antes “honra as instituições daquele país”.

O sacerdote realça ainda que o encontro entre pessoas “que querem conhecer melhor o seu passado para colaborar no presente” é sempre um motivo de “enriquecimento” mútuo.

A parceria entre a Biblioteca Apostólica do Vaticano e o Instituto Japonês de Humanidades vai permitir “inventariar, conservar, digitalizar, estudar e catalogar cerca de dez mil documentos” de um fundo intitulado “Cartas Marega”.

O fundo foi batizado com o nome do padre salesiano Mario Marega (1902-1978), que esteve em missão no Japão e recolheu aquele acervo entre 1930 e 1940, fazendo-o depois chegar a Roma.

De acordo com o prefeito da Biblioteca do Vaticano, “não há no mundo outra coleção tão completa acerca da vida dos cristãos no Japão entre os séculos XVII e XVIII”.

Os documentos, provenientes de “fontes públicas, não cristãs”, relatam a forma como “as autoridades públicas japonesas, sobretudo no século XVIII através dos Xoguns, tomaram o poder e perpetraram uma repressão severa e sistemática sobre os cristãos”, que foram “perseguidos e forçados a renunciar à sua religião”.

Estes atos foram praticados sobretudo na ilha meridional de Kiushu, num território atualmente abrangido pela Província de Oita.

Entre outros dados, as “Cartas Marega” relatam a prática de uma cerimónia chamada “efumi”, em que os cristãos eram obrigados a pisar a cruz ou outro artefacto sagrado, para demonstrarem a sua renúncia a Cristo.

“Tudo isto está documentado e vai permitir aprofundar o conhecimento acerca dos martírios cometidos naquela época”, sublinha o padre Cesare Pasini.

Durante muitos anos, as autoridades japonesas instituíram um regime de controlo e de vigilância sobre as famílias dos cristãos que adjuraram, no sentido de impedirem que elas abraçassem de novo a sua fé.

JCP

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