Ex-mordomo do Papa vai voltar à cadeia para cumprir pena de 18 meses por furto agravado de documentos confidenciais de Bento XVI
Cidade do Vaticano, 25 out 2012 (Ecclesia) – A Secretaria de Estado do Vaticano manifestou hoje a sua satisfação pelo epílogo do “triste” caso de fugas de documentos confidenciais do Papa, no dia em que a sentença do Tribunal transitou em julgado.
“As diversas conjeturas sobre a existência de um complô ou a implicação de mais pessoas revelaram-se infundadas à luz da sentença”, assinala um comunicado divulgado na internet, a respeito da condenação do ex-mordomo de Bento XVI, que vai voltar à cadeia para cumprir uma pena de 18 meses, por furto agravado.
O padre Federico Lombardi, diretor da sala de imprensa da Santa Sé, adiantou numa nota oficial que “não foram apresentados apelos” à decisão do Tribunal da Cidade do Vaticano, datada de 6 de outubro, pelo que o promotor de Justiça ordenou a “reclusão” de Paolo Gabriele, que vai ficar numa cela da do pequeno Estado.
A Secretaria de Estado diz que com esta decisão se coloca um “ponto final” num episódio que trouxe “consequências muito dolorosas”.
“Houve uma ofensa pessoal ao Santo Padre, violou-se o direito à reserva de muitas pessoas que se tinham dirigido ao Papa por causa das funções que desempenham, prejudicou-se a Santa Sé e as suas instituições”, pode ler-se.
O comunicado afirma que o acusado foi dado como culpado “no final de um processo judicial que se desenrolou com transparência” e que Gabriele agiu “sem instigação ou incitamento por parte de outros, antes baseando-se em convicções pessoas que, de forma alguma, se podem partilhar”.
O Vaticano observa que durante “vários meses” houve perturbações na “serenidade da comunidade de trabalho” que serve o Papa.
“Tendo em conta o dano causado, a pena aplicada acaba por ser, ao mesmo tempo, leve e equitativa, dado a peculiaridade do ordenamento jurídico do qual emana”, refere a nota.
A Secretaria de Estado admite uma eventual “concessão de indulto”, por parte do Papa, considerando, no entanto, que este é “um ato soberano” de Bento XVI que pressupõe “o arrependimento do réu e um pedido sincero de perdão”.
A sentença do Tribunal do Vaticano, divulgada na terça-feira, sublinha que “não há provas de cumplicidade e conivência” de outras pessoas, para além das que foram acusadas, nos atos atribuídos a Paolo Gabriele, principal acusado no chamado caso ‘vatileaks’, que provocou a divulgação de documentos reservados.
O porta-voz do Vaticano adiantou neste contexto que o julgamento de um alegado cúmplice, Claudio Sciarpelletti, técnico informático acusado de “favorecimento”, vai continuar a 5 de novembro.
A Santa Sé abriu ainda um procedimento para a “destituição” de Paolo Gabriele, à luz do Regulamento Geral da Cúria Romana (organismos centrais de governo da Igreja Católica).
O ex-mordomo, de 46 anos, foi condenado no dia 6 deste mês a três anos de prisão, mas a sentença foi reduzida para 18 meses dada a existência de atenuantes, como a confissão de “ter traído a confiança” do Papa e a ausência de antecedentes criminais.
Para a contabilização da pena é levado em conta o tempo em que Gabriele, detido a 23 de maio, esteve em prisão preventiva, antes do julgamento.
OC
Notícia atualizada às 14h19