Padre passionista César Costa apresenta recriações do Grupo Gólgota que a cidade acolhe até à Páscoa
Lisboa, 27 mar 2024 (Ecclesia) – O padre César Costa, responsável pela programação da Semana Santa em Santa Maria da Feira (diocese do Porto), afirmou que as tradicionais encenações que decorrem nesta época são uma forma de “traduzir o Evangelho para uma linguagem compreensível”.
“Através do teatro e da arte, pretendemos isso mesmo, que essas recriações dos últimos dias da vida terrena de Jesus ganhem vida, corpo e voz, através de pessoas de hoje para podermos anunciar. Aliás, é essa a missão dos Passionistas, anunciar a paixão de Cristo aos homens de hoje”, disse o sacerdote da Congregação da Paixão de Jesus (Passionistas), em entrevista, transmitida hoje no Programa ECCLESIA, na RTP2.
O grupo Gólgota é o responsável por realizar as encenações dos últimos passos de Cristo em Santa Maria da Feira e é constituído por um grupo de leigos ligados aos Missionários Passionistas, um projeto social, cultural e de evangelização.
“O Grupo Gólgota nasceu em 91 como um grupo de voluntários para encenar dois quadros na Via Sacra, o princípio e o fim, numa Via Sacra que a paróquia organizava. Aos poucos foi crescendo e em 98 criou esse conceito de Semana Santa em Santa Maria da Feira. Não porque ela não existisse antes, mas um programa único que congregava diversas forças vivas, a paróquia, a Santa Casa da Misericórdia, o Grupo Gólgota, os missionários Passionistas e também a Câmara Municipal”, explicou o padre César Costa, coordenador do grupo.
Realizada em quatro pontos da cidade, a Entrada Triunfal de Jesus em Jerusalém, que decorreu no domingo com cerca de 200 atores, é um dos momentos encenados, a que se junta a Via-Sacra, que assinala este ano a 47ºatuação, na Sexta-feira Santa.
“Não obstante a quantidade de gente que tivemos na entrada triunfal, a verdade é que a Via-Sacra é o clímax. Não só pelo que celebramos nela, mas porque é a que atrai mais gente. Milhares de pessoas acorrem a Santa Maria da Feira, vindas de fora da localidade, para viver este momento único em que os próprios monumentos da cidade se tornam um palco privilegiado para ver estes quadros da Via-Sacra”, esclarece o religioso.
O Castelo da Feira, adianta o padre César Costa, serve de palco para a recriação, com a muralha como pano de fundo para a crucificação, morte e ressurreição de Jesus: “Aliás, dá-nos a ideia de que esse Jesus é crucificado precisamente fora da muralha, como aconteceu quando foi o próprio Jesus. É toda esta envolvência, com a ajuda técnica, que nos permite viver com intensidade estes momentos únicos”.
A Procissão das Endoenças é outro dos destaques da Semana Santa e faz parte dos Estatutos da Santa Casa da Misericórdia.
“Onde vemos uma Santa Casa da Misericórdia, vemos de certeza uma procissão das Endoenças. Se não existe, existiu muito provavelmente. Em Santa Maria da Feira, há mais de 300 anos, de forma documentada, temos esta Procissão das Endoenças que, como o próprio nome indica, nos convida à indulgência, ao perdão”, indica o responsável.
No núcleo de atores está também incluída a geração mais nova, definindo o padre César Costa como “extraordinária” a quantidade de jovens e crianças que se envolvem.
“Descobrem que é possível aceder à fé, é possível aprofundar a fé também através do teatro. E é curioso, porque depois no contacto com eles vemos como tantas vezes dizem ‘ai não tinha percebido esta passagem do Evangelho. Afinal, Jesus era assim mais próximo’. E, portanto, esta forma de perceberem a fé, depois traduz-se na alegria com que vivem estes Mistérios”, conta.
A vivência do ciclo celebrativo em Santa Maria da Feira está agora contido num livro, coordenado pelo padre César Costa, que se constitui um repositório de memórias, histórias e tradições vividas na primeira pessoa.
“A verdade é que é importante documentar tudo isso, não apenas para as gerações futuras, mas acima de tudo para que nós saibamos o que fazemos, porque quanto melhor o soubermos, melhor o podemos fazer. A verdade é que hoje cuida-se bastante do património material e esse é preciso preservar, mas aquilo que é património material, que depende das pessoas, não pode ser enclausurado, não pode ser fechado no tempo sob pena de morrer”, realça o sacerdote.
A obra “A Semana Santa de Santa Maria da Feira” inclui 12 histórias de nove autores, que falam “desde a Procissão das Endoenças às recriações históricas, desde as tradições religiosas à gastronomia, desde a arte como a música, até à envolvência do Museu de Santa Maria de Lamas”.
“O conjunto de autores que escreveu para este livro, prefaciado pelo D. Carlos Azevedo, todos eles feirenses, pretendem precisamente dar este legado e queremos continuar a estudar a Semana Santa da Feira”, salientou.
Sobre a entrega dos passionistas ao ciclo celebrativo como forma de evangelizar, o padre César Costa recorda que desde a fundação da congregação, em 1720, que o fundador São Paulo da Cruz sempre teve o desejo que religiosos meditassem e ensinassem a meditar a paixão de Cristo.
“A arte não é uma forma exclusiva de o fazer (evangelizar), mas é uma das muitas linguagens que podemos usar. E em Santa Maria da Feira, onde os passionistas estão desde 1965, têm procurado dar esse contributo, têm um cunho bastante passionista, que é acima de tudo os Mistérios centrais da fé cristã. Portanto, nós temos o privilégio, mas a responsabilidade de termos como missão anunciar a paixão, a morte e a ressurreição de Jesus, que é afinal de contas o momento mais importante do calendário cristão”, referiu.
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Quaresma: Santa Maria da Feira tem celebrações de fé, cultura e tradição