A 8 de Agosto, perfaz exactamente 200 anos a decisão do então bispo de Aveiro D. António José Cordeiro de considerar Santa Joana Princesa protectora de Aveiro. Por um lado, é a confirmação da Igreja da particular devoção à Senhora Infanta pelos aveirenses, começada logo após a sua morte, a 12 de Maio de 1490. Se em vida, a Princesa tinha como suas as preocupações das gentes de Aveiro (e daqui só se ausentava com grande aperto da alma e porque as razões de Estado assim o exigiam), depois da sua morte os aveirenses logo a consideraram de coração e em atitude como a sua intercessora no Céu. Por outro lado, vem esta decisão do bispo na sequência de uma grande aflição pela qual passava o povo português (que a Princesa Joana serviu como regente do reino em 1471, na ausência do pai). Eram as Invasões Francesas que devastavam as terras portuguesas (1807, 1809 e 1810). Foi assim que em documento de 5 de Agosto de 1808, D. António José Cordeiro convocou uma procissão para dia 7, em desagravo pelos sacrilégios e imoralidades dos invasores franceses, pedindo a protecção da Santa Princesa para esta provação. E assim aconteceu. Depois de exposto o Santíssimo, saiu da Misericórdia (Sé) a imagem do Senhor Ecce Homo em direcção à Igreja de Jesus. Seguiu o andor o bispo de Aveiro, despido das vestes pontificais, descalço e com uma corda ao pescoço. Meses depois, os franceses saíram derrotados da sua primeira invasão. A 8 de Setembro, na Catedral o mesmo prelado celebra solene Te-Deum de acção de graças, seguida de Procissão Eucarística para a Igreja de Jesus. (in “Livro das Pastorais dos Bispos de Aveiro”). Há 200 anos que existe um documento confirmando o padroado de Santa Joana em Aveiro (suplantando o culto a Santa Ana, até então Padroeira da cidade), atitude que culminaria em 1965, quando Paulo VI a declarou Padroeira da diocese e da cidade, facto muito raro para uma “simples” beata da Igreja. Há 200 anos num documento escrito, mas há 518 intercessora nas preces e nos corações dos aveirenses. Lembrar o culto de Santa Joana é olhar para todas as gerações de homens e mulheres que nos precederam na fé ou, pelo menos, na consideração a uma mulher que saiu do seu paço e veio viver entre nós, partilhando das dificuldades da nossa terra, e auxiliando estas gentes com os benefícios da sua real posição, a qual nunca usou em benefício pessoal mas a bem da comunidade, muito especialmente a de Aveiro. Verificar que há centenas de anos, Aveiro escolheu a Princesa Santa Joana para sua padroeira é um acto que nos enche de orgulho sempre que nos é dado contar com a atenção e generosidade de quem foi grande neste Mundo, porque se fez pequeno e humilde. Mas também é responsabilidade na necessidade de saber descortinar na nossa vida colectiva aquilo que é essencial para o bem comum com os valores que estão presentes em todas as épocas, com os meios e possibilidades para os pôr em prática próprios de casa época. Se em vida terrena, a Princesa favoreceu e amou Aveiro e os aveirenses, na sua vida eterna muito mais constitui para nós um exemplo, liberta das contrariedades do seu tempo e dificuldades da sua vida. Nuno Gonçalo da Paula, direcção da Irmandade