Afirmou Manuel Braga da Cruz na colóquio «Poder Espiritual/Poder Temporal – as relações Igreja-Estado no tempo da República (1910-2009)»
Apesar da amizade entre António de Oliveira Salazar e o Cardeal Cerejeira, o regime consagrou – do ponto de vista constitucional – a separação entre o Estado e a Igreja. “O que vigorou foi a cooperação concordatária, na separação clara entre as duas esferas, sem ingerências nem intromissões” – disse Manuel Braga da Cruz, Reitor da Universidade Católica Portuguesa, no Colóquio «Poder Espiritual/Poder Temporal – As relações Igreja-Estado no tempo da República (1910-2009).
Nesta iniciativa – a decorrer em Lisboa – nos dias 15 e 16 deste mês, o historiador realçou também que a melhor designação para classificar o salazarismo nesta relação “é a cato laicidade”. Na sua conferência, subordinada ao tema «As relações Igreja/Estado no “Estado Novo” português», Manuel Braga da Cruz salienta que Salazar “sempre foi um defensor atento da não confessionalidade do Estado”. E acrescenta: “chegou a tomar posições – por vezes muito duras – na defesa da laicidade do Estado”.
António de Oliveira Salazar “opôs-se sempre à introdução do nome de Deus na Constituição”. O nome de Deus só entrou na Constituição de 1933, na revisão de 1971, “no artigo relativo à Liberdade Religiosa”, na revisão operada no tempo de Marcelo Caetano. A laicidade defendida por Salazar “escandalizou muita gente”. Chegou a impedir que o Chefe de Estado – na inauguração de Cristo Rei – consagrasse Portugal ao Coração de Jesus e deu “indicações aos ministros para não comungarem em público quando o Papa Paulo VI visitou o Santuário de Fátima em 1967” – afirmou.
Durante o período do «Estado Novo», as relações entre o Estado e a Igreja “não foram sempre idênticas” e “tiveram momentos diferenciados”. Inicialmente, visualizava-se uma “forte marca católica na concepção do Estado”. No entanto, após a 2ª Guerra Mundial – depois da assinatura da concordata – as relações começaram a sentir problemas. “É o período que vai de 1945 a 1958 quando se torna pública uma dissensão de uma parte do episcopado e a figura de Salazar” – sublinha Manuel Braga da Cruz.