Sacramento da Caridade

Exortação Apostólica de Bento XVI sobre a Eucaristia, afirma a centralidade da Eucaristia no ser e agir da Igreja Eucaristia, sacramento da caridade Foi publicada hoje a Exortação Pós-sinodal sobre a Eucaristia. Ela recolhe as reflexões da Assembleia Geral Ordinária do Sínodo dos Bispos sobre a Eucaristia, que encerrou em Outubro de 2005, em Roma (encerrando também o Ano da Eucaristia que iniciara um ano antes, no Congresso Eucarístico Internacional de Guadalajara, em Outubro de 2004). Neste Documento, Bento XVI explicita aspectos que podem “despertar na Igreja novo impulso e fervor eucarísticos”. Objectivo que se tinge desde que o “povo cristão aprofunde a relação entre o mistério eucarístico, a acção litúrgica e o novo culto espiritual que deriva da Eucaristia enquanto sacramento da caridade”: três partes deste documento, que o Papa escreve em sintonia com a primeira encíclica do seu Pontificado, “Deus é Amor”. Mistério de fé Ao longo da História da Igreja, o rito da Eucaristia conheceu diferentes desenvolvimentos: nas igrejas do oriente, que conservam memórias dos primeiros séculos da Igreja; nas reformas do Concílio de Trento; com Missal de São Pio V; e a renovação litúrgica proposta pelo II Concílio do Vaticano. Em todos os momentos, na diversidade de ritos, transparece sempre a multiforme riqueza da Eucaristia, “fonte e ápice da vida e missão” da Igreja. Em “Sacramento da Caridade” surge como primeira grande certeza o facto de estarmos diante de um mistério de fé. “A Eucaristia é por excelência «um mistério da fé»”. “E a fé da Igreja é essencialmente uma fé eucarística e alimenta-se, de modo particular, à mesa da Eucaristia”(6). Nela “Jesus não dá ‘alguma coisa’, mas dá-Se a Si mesmo” (7), recordando-se essa doação, a novidade dessa Nova Aliança, em cada celebração (9). Ela é “constitutiva do ser e do agir da Igreja” (15). Motivo de Ecumenismo Neste documento, Bento XVI valoriza as possibilidades que pode oferecer ao diálogo ecuménico. “A Eucaristia estabelece objectivamente um forte vínculo de unidade entre a Igreja Católica e as Igrejas Ortodoxas, que conservam genuína e integralmente a natureza do mistério da Eucaristia”. Em relação ás comunidades da protestantes, refere que “a relevância dada ao carácter eclesial da Eucaristia pode tornar-se elemento privilegiado também no diálogo com as comunidades da Reforma” (15) Divorciados re-casados A Eucaristia é o fim de um percurso de iniciação cristã. “Somos baptizados e crismados em ordem à Eucaristia”. Centro da vida sacramental, é também a razão de ser dos que recebem o sacramento da ordem. Neste documento, Bento XVI recorda a observação do celibato na tradição latina, que não se pode compreender em termos meramente “funcionais”. Ele constitui uma especial conformação ao estilo de vida do próprio Cristo”, como “sinal expressivo de dedicação total e exclusiva a Cristo, à Igreja e ao Reino de Deus”. Por isso, Bento XVI afirma o seu carácter obrigatório para a tradição latina. Com o matrimónio, a Eucaristia “apresenta uma relação particular”. “A Eucaristia exprime a irreversibilidade do amor de Deus em Cristo pela sua Igreja”. E implica o mesmo carácter irreversível ao amor vivido em matrimónio. É por isso que a Eucaristia implica “aquela indissolubilidade a que todo o amor verdadeiro não pode deixar de anelar” (29). Neste documento, o Papa recorda que “o Sínodo dos Bispos confirmou a prática da Igreja, fundada na Sagrada Escritura, de não admitir aos sacramentos os divorciados re-casados, porque o seu estado e condição de vida contradizem objectivamente aquela união de amor entre Cristo e a Igreja que é significada e realizada na Eucaristia” (29). Todavia, sugere-se que cultivem um “estilo de vida cristão”, para o qual a solicitude pastoral deve contribuir. Nos casos em que podem surgir dúvidas sobre a “validade do Matrimónio”, “deve fazer-se tudo o que for necessário para verificar o fundamento das mesmas”. Para isso, pede aos Tribunais Eclesiásticos uma a “actividade correcta e pressurosa” (29). Celebrar a Eucaristia A segunda parte da Exortação (nn 34-69) ilustra o desenvolvimento da acção litúrgica na celebração, indicando os elementos que merecem um maior aprofundamento e oferecendo algumas sugestões pastorais de grande relevo. Põe em evidencia também a bondade da reforma litúrgica promovida pelo Concilio Vaticano II. Algumas dificuldades e abusos “não podem ofuscar a excelência e a validade da renovação litúrgica que contém riquezas ainda não plenamente exploradas. Nesta segunda parte a Exortação reconhece que “a fonte da nossa fé e da liturgia eucarística é o mesmo acontecimento: a doação que Cristo fez de Si próprio no mistério pascal. Eis porque é necessário reconhecer com força que “a liturgia eucarística é essencialmente acção de Deus que nos envolve em Jesus por meio do espírito, o seu fundamento não está á mercê do nosso arbítrio e não pode suportar a chantagem das modas passageiras. A Igreja celebra o sacrifício eucarístico obedecendo ao mandato de Cristo, a partir da experiência do Ressuscitado e da efusão do Espírito Santo.” Cristãos não católicos Desejando a unidade com cristãos de outras Igrejas ou Comunidades eclesiais, o documento alerta para o perigo de usar a Eucaristia como “simples meio” para “alcançar a referida unidade” (56). Porque a Eucaristia manifesta a comunhão pessoal com Jesus Cristo e “implica também a plena comunhão com a Igreja”, “com dor mas não sem esperança, pedimos aos cristãos não católicos que compreendam e respeitem a nossa convicção, que assenta na Bíblia e na tradição: pensamos que a comunhão eucarística e a comunhão eclesial se interpretam tão intimamente que se torna geralmente impossível aos cristãos não católicos terem acesso a uma sem gozar a outra”. E, neste sentido, a Exortação afirma que “ainda mais desprovida de sentido seria uma concelebração verdadeira e própria com ministros de Igreja e Comunidades eclesiais que não estão em plena comunhão com a Igreja Católica”. Dos media ao latim O Documento valoriza a transmissão da Eucaristia pelos meios de comunicação social, que ampliaram o significado da palavra “participação”. No entanto, ela é válida para quem não se possa deslocar à igreja, nomeadamente idosos ou doentes. Os presos e os migrantes devem também merecer o empenho que lhes garanta a participação na Eucaristia, no caso dos migrantes de acordo com ritos próprios dos países de origem. Nesta Exortação Apostólica, o Papa valoriza a celebração em latim. Pede mesmo que, nas celebrações que tenham um carácter internacional, “exceptuando as leituras, a homilia, e a oração dos fiéis, é bom que tais celebrações sejam em língua latina” (62). Bento XVI pede também que “sejam recitadas em latim as orações mais conhecidas da tradição da Igreja e, eventualmente, entoadas algumas partes em canto gregoriano”. Para isso, recomenda a formação necessária aos sacerdotes e também aos leigos. Eucaristia na vida: repartir o pão Na terceira e última parte a Exortação Apostólica ( nn 70-93) mostra a capacidade do mistério, acreditado e celebrado, de constituir o horizonte último e definitivo da existência cristã: “o mistério acreditado e celebrado possui em si mesmo um tal dinamismo, que faz dele princípio de vida nova em nós e forma da existência cristã”. A Exortação Apostólica não hesita em afirmar que “a Eucaristia impele todo o que acredita n’Ele a fazer-se pão repartido para os outros, e consequentemente a empenhar-se por um mundo mais justo e fraterno.” E mais adiante afirma: “é através da realização concreta desta responsabilidade que a Eucaristia se torna na vida o que significa na celebração”. Mais fortes ainda são as expressões de Bento XVI em relação ás situações de injustiça social, de violências e de guerras, de terrorismo, de corrupção e exploração e á indigência do homem. A Igreja que vive da Eucaristia, sobretudo através da responsabilidade dos seus fiéis leigos, não pode senão estar presente na historia e na sociedade a favor de cada homem, em particular de quem, por causa da injustiça e do egoísmo de tantos, sofre a indigência, a fome e situações endémicas de doença, porque não tem acesso aos recursos elementares no campo da alimentação e da saúde. Jesus, alimento de verdade – afirma a Exortação Apostólica – “leva-nos a denunciar as situações indignas do homem, nas quais se morre á mingua de alimento por causa da injustiça e da exploração e dá-nos nova força e coragem para trabalhar sem descanso na edificação da civilização do amor. Coerência Eucarística Bento XVI adverte ainda para as consequências da Eucaristia, que nunca é um “acto meramente privado, sem consequências nas nossas relações sociais” (83). Ele requer testemunho público da própria fé, com consequências a todos os níveis para todos os baptizados. “mas impõe-se com particular premência a quantos, pela posição social ou política que ocupam, devem tomar decisões sobre valores fundamentais como o respeito e defesa da vida humana desde a concepção até à morte natural, a família fundada sobre o matrimónio entre um homem e uma mulher, a liberdade de educação dos filhos e a promoção do bem comum em todas as suas formas”. O Papa refere que estes valores “não são negociáveis”. “Por isso, cientes da sua grave responsabilidade social, os políticos e os legisladores católicos devem sentir-se particularmente interpelados pela sua consciência rectamente formada a apresentar e apoiar leis inspiradas nos valores impressos na natureza humana” – recorda Bento XVI. Notícias relacionadas Apresentação no Vaticano Exortação Apóstólica Pós-Sinodal Sacramentum Caritatis Documento na íntegra

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Agência ECCLESIA

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