Sabores da derrota

Paulo Rocha

A realização do mundial de futebol é ocasião para sabores de vitória e, claro, de derrota. Uns desejados, muito, outros nunca esperados. Mas, passando por ela, pela derrota, descobrem-se diferentes reações, desenham-se vários perfis e emergem desafios, consequências.

Ao longo de um mês de competição, viveram-se derrotas completamente surpreendentes, outras carregadas de sentimentos de injustiça e também as que se consideram heroicamente merecidas… Depois, são as leituras táticas, as considerações sobre o empenho dos jogadores, as circunstâncias em que acontecem… Enfim, contextos que muitas vezes são pretextos para boas ou más desculpas. E raramente se assumem as derrotas como um passo possível, por vezes necessário, para dar o salto num projeto desportivo, profissional ou pessoal.

Olhando quem já ficou pelo caminho neste mundial, e mais do que fixar análises no espanto geral diante do afastamento da Alemanha, na eminência com que o mesmo destino parecia chegar à Argentina ou o desassossego geral provocado pelo adeus do Brasil, refira-se a derrota de Portugal nos oitavos de final deste mundial. Não para juízos sobre a justiça ou injustiça, o mérito ou demérito da equipa das quinas, antes para valorizar considerações expressas pelas lideranças da seleção e por muitos dos seus jogadores: “queríamos continuar a dar alegrias ao povo português”.

A ideia foi recorrente. Treinador, jogadores e dirigentes foram além do exercício raramente eficaz de encontrar desculpas, acusar este ou aquele. O peso de uma derrota estava nas consequências que tinha nos adeptos, no ponto final a um benefício coletivo para um povo, para um país.

Uma pista aberta pelo desporto, pela “equipa de todos nós”, que bem poderia ter seguimento noutros setores da sociedade. Para benefício de todos nós! De facto, tudo seria bem melhor se a procura da vitória significasse a conquista de um benefício para o outro e para todo o grupo. Por exemplo, no conflito entre professores e o governo que deixam alunos com o futuro pendurado; na gestão de recursos na saúde que está na origem crescente de ruturas; na tensão provocada pela aprovação de um orçamento por forças políticas que começam a disputar votos; na conquista do poder, em todos os âmbitos sociais, a qualquer preço; e mesmo na missão pastoral com que um serviço religioso tem de ser assumido.

Chorar uma derrota pelas repercussões negativas que provoca no grupo e na sociedade e não por causa do insucesso pessoal,  é a melhor motivação para querer sempre a vitória. Porque a procura do bem do outro é o melhor caminho para chegar ao bem comum.

Paulo Rocha

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Agência ECCLESIA

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