SABER APRENDER – Com os mais novos

Miguel Oliveira Panão (Professor Universitário), Blog & Autor

Cada criança que nasce depois de 2007, não conseguirá imaginar um mundo sem redes sociais, ou internet. Qualquer ser humano que nasceu antes de 1995 é um tradutor cultural desse tipo de mundo. Creio que a vivência espiritual é compatível com o mundo digital que permeia quase todos os poros da nossa vida, mas quando notamos em alguém que faz disso uma parte de um caminho de santidade: é notável! E o seu nome é Carlo Acutis.

No passado dia 10 de Outubro, o Papa Francisco beatificou o jovem Carlo Acutis, nascido em 1991 e que, subitamente, partiu 15 anos depois a 12 de Outubro de 2006 com uma leucemia fulminante. Carlo é muito conhecido como um ciber-apóstolo (será que os programadores terão nele o seu patrono?), tendo documentado num site de internet mais de uma centena de milagres eucarísticos ocorridos em todo o mundo, resultando mais tarde numa exposição. A sua devoção à Eucaristia é uma característica base do seu percurso de santidade. Curioso é o modo como usa a internet no seu impulso evangelizador, mostrando uma alternativa credível em comparação com as redes sociais.

Um dos argumentos para usar as redes sociais nos percursos de nova evangelização é a capacidade destas chegarem a mais pessoas, rapidamente. Porém, sabemos o quanto esse ”chegar” depende dos algoritmos que controlam o que cada um vê no seu mural, criando filtros-bolha. Como diz o Papa Francisco na sua recente Fratelli Tutti (47), são um «círculo virtual que nos isola do mundo em que vivemos.» Mas esse mundo é inconcebível sem a influência cultural da internet.

No Dia da Liberdade (sem saber, obviamente), o professor de computação e autor Cal Newport refere que «precisamos de incrementar a capacidade das plataformas sociais com um impulso da tecnologia de origem Web 2.0 [com] blogs. Precisamos de sites ao estilo da WordPress contendo páginas estáticas fáceis de actualizar e artigos (posts) cronológicos. Estes sites podem ser alojados por instituições com algum grau de confiança pública e uma infra-estrutura tecnológica razoável, como universidades, centros médicos, e grupos de reflexão.»

Parece que a sugestão é um retrocesso porque as páginas estáticas não produzem qualquer efeito atractivo nas pessoas. E quem pensa assim tem razão. As páginas estáticas valem apenas pela profundidade do conteúdo que encerram. É esse o motivo do retorno dos ditos blogs: um retorno ao conteúdo com valor. É essa a experiência que Carlo Acutis proporcionou.

A vida de Carlo era de tal modo conformada pela experiência eucarística que expôs, via a internet, os milagres eucarísticos ocorridos por todo o mundo, e testemunhava, ainda, publicamente a fé pela web. A diferença em relação às redes sociais é a de que os sites que nós criamos contêm o conteúdo que decidimos publicar para que os outros possam livremente consultar e navegar. Não é um algoritmo que toma essa decisão. Por outro lado, quando esse site está ligado a uma instituição, o risco de promover a desinformação é praticamente nulo, uma vez que a reputação da própria instituição assegura a integridade da informação.

Por fim, uma vez que não se está limitado ao número de caracteres, ou aos requisitos que a sociedade digital exige para que um conteúdo seja apropriado à “viralidade,” os artigos e conteúdos multimédia colocados em sites alojados por organizações credíveis podem ser mais desenvolvidos e, por isso, mais profundos. A leitura digital tende a ser superficial, e as redes sociais induzem o ser humano a essa superficialidade, mas no site criado com base no trabalho de Carlo Acutis — clicar AQUI — a experiência é, antes, de uma certa profundidade.

É notável como, 14 anos depois, a ciber-influência de Carlo pode tornar-se viral. Quando abriram o seu túmulo observamos um fenómeno extraordinário de incorruptibilidade do corpo. Faz impressão.

Só me ocorre haver um sentido místico para este acontecimento no mundo físico. Carlo era um devoto da Eucaristia. A realidade eucarística no mundo católico possui uma particularidade: não somos nós que consumimos Jesus, mas é Ele que nos transforma a partir da interioridade total (física, mental e espiritual) de nós mesmos.

Em Chiara Lubich (fundadora do Movimento dos Focolares), encontramos uma ideia que dá sentido à corruptibilidade do nosso corpo consumido pela Terra. Diz ela, «se a Eucaristia é causa da ressurreição do homem, não poderá o corpo humano, divinizado pela Eucaristia, estar destinado a desfazer-se debaixo da terra para contribuir para a ressurreição do cosmos?» (Um Caminho Novo, Cidade Nova) Porém, a experiência de Carlo é um sinal que Deus nos dá. Ao contemplar o corpo de Carlo, existe uma núvem do desconhecido que deveria manter a nossa mente aberta ao horizonte de significado que estes acontecimentos nos revelam.

Há quem vendo não acredite, e procure uma explicação, seja científica ou de outra ídole qualquer. Mas existem coisas neste mundo que nos impelem mais à contemplação, do que à explicação. A curiosidade despertada pela contemplação do rosto incorruptível de Carlo, para mim, é a de saber o que a Eucaristia poderá fazer em mim, se me dedicasse a ela como ele o fez.

Não me restam muitas dúvidas de que não há qualquer experiência digital que substitua a profundidade física, mental e espiritual que a Eucaristia pode fazer em nós e entre nós. Desejo que o amor de Carlo pela Eucaristia se contagie, e se torne ainda mais viral, sobretudo entre os jovens, porque a revolução que Deus pode fazer em nós ainda está por acontecer.

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Agência ECCLESIA

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