Miguel Oliveira Panão (Professor Universitário), Blog & Autor
É de levar a vacina da COVID-19 ou não? É esta a questão que leva muitas pessoas a dizer que sim, e muitas outras a dizer que não. Mas não é o objectivo de uma vacina proteger o nosso corpo de um vírus? E não foi este o vírus que gerou uma inegável pandemia com mais de 1.5 milhões de pessoas em 2020 que deveriam passar o Natal com as suas famílias, e não passarão? Na Era da Informação é fundamental distinguir facto de ficção. Mas sabemos da psicologia humana que essa distinção faz-se, sobretudo, através dos relacionamentos. Por isso, só compreendendo os factos podemos ajudar, depois, através dos relacionamentos, a que outros compreendam também.
Os Estados Unidos são a nação da informação e da desinformação, pelo que o Centro para o Controlo e Prevenção de Doenças americano fez o esforço que esclarecer as pessoas em relação a alguns factos sobre a vacina da COVID-19.
A importância de termos estes factos bem presentes é o que orientarmos as nossas escolhas com base na verdade dos factos e não da ficção da imaginação de algumas pessoas que receiam, sem, realmente, saber o que receiam.
Facto n. 1 – A vacina da COVID-19 não nos transmite o vírus
Nenhuma das vacinas da COVID-19, actualmente em desenvolvimento, usam o vírus vivo. Logo, não há possibilidade de contagiar uma pessoa com COVID-19 quando o vírus usado para educar o sistema imunitário do corpo a reconhecê-lo e a combatê-lo, está morto.
O processo de aprendizagem que nosso corpo experimenta pode causar alguns dos sintomas, sendo o mais comum a febre. Mas isso já acontece com outras vacinas. Por isso, são eventos que podem acontecer e são normais. Aliás, são um sinal positivo de que o nosso corpo está a reagir à vacina e a construir a nossa imunidade ao vírus.
É claro que tudo isto leva tempo, pelo que, se uma pessoa ficar infectada pouco antes da vacina, ou pouco tempo depois, e ficar doente, deve-se ao facto de não ter passado tempo suficiente para que a vacina nos protegesse.
Facto n. 2 – As vacinas COVID-19 não geram testes positivos
Se o nosso corpo desenvolve uma resposta imunitária ao vírus com a vacina que tomamos, e se o teste for daquele tipo que associa o resultado positivo ao número de anti-corpos, será daí que pode surgir essa possibilidade. Por que razão? Simples.
Os testes baseados nos anti-corpos partem do princípio de que uma pessoa infectada os produz. E, daí, a razão de ter anti-corpos. Ou seja, há quem contraia a doença, e há quem tome a vacina. O que têm de comum? A presença de anti-corpos no corpo. Mas, se tomámos uma vacina, ainda bem que temos anti-corpos, certo? Porém, os investigadores estão ainda a estudar o modo como a vacina pode afectar os testes. Por isso, creio que este aspecto se resolverá no futuro.
Facto n. 3 – As pessoas que ficaram doentes com COVID-19 podem beneficiar da vacina
Os riscos para a saúde que esta doença representa são graves, e a possibilidade de uma pessoa ser, de novo, infectada, é real. Mas o conselho é o de tomarem a vacina na mesma. E qual a razão?
Neste momento não se sabe ainda quanto tempo dura a protecção dada pela vacina após alguém ter recuperado da COVID-19. Existe a imunidade natural que uma pessoa adquire após ter sobrevivido a uma infecção viral, mas essa varia de pessoa para pessoa. E existem algumas evidências de que a imunidade pode não durar muito tempo. E saber quanto dura o efeito da vacina pressupõe que as pessoas a recebam para poderem dar a sua experiência, como dados, aos investigadores. Seremos, então, cobaias?
Facto n. 4 – Ser vacinado previne a pessoa de adoecer com COVID-19
O modo como esta doença afecta cada um é, realmente, pessoal. Uns são assintomáticos, outros sentem ligeiros sintomas, alguns sentem os sintomas com severidade e, por fim, podemos mesmo sofrer a tragédia de morrer de COVID-19. Não há forma de saber como este vírus afecta cada um. Mas o certo é contagiar outros caso estejamos infectados. Logo, representamos, sem querermos, um risco para os nossos familiares e amigos.
“Receber a vacina cria em nós uma resposta de anti-corpos sem que experimentemos a doença. Isso significa que se contraírmos a doença, podemos, eventualmente, contagiar outros, com efeitos indesejados, sobretudo, se não estiverem, também eles, vacinados.”
Facto n. 5 – Receber uma vacina mRNA NÃO ALTERA o nosso DNA
Recentemente numa conversa apresentaram-me este argumento. Achei estranho e confirmei que a vacina baseia-se no ácido ribonucleico mensageiro (mRNA) que, na prática, contém apenas as instruções para fazer uma proteína, ou um pedaço de uma proteína. Não tem a capacidade de modificar o código genético de ninguém. Quem insistir neste ponto está a promover a desinformação.
O mRNA presente na vacina COVID-19 nunca entra no núcleo de uma célula do nosso corpo, onde está o nosso DNA (ou ADN). Por isso, é fisicamente impossível afectar ou interagir com o nosso DNA. O que o mRNA faz, é interagir com as defesas naturais do nosso corpo, para que esse desenvolva com segurança a protecção necessária a uma doença, a dita imunidade.
Diante destes factos será que ainda crês que o melhor para ti é não ser vacinado contra a COVID-19? Talvez porque podes não conhecer-me bem e, por isso, não sabes se deves ou não confiar nestes factos que te apresentei. Aliás, basta que alguém que conheces bem, e confies, enviar-te um vídeo ou artigo que diga o contrário dos factos que apresentei para acreditares mais nessa desinformação do que na informação divulgada por instituições credenciadas para o efeito.
Podes achar que existe ainda muita incerteza em relação aos casos muito improváveis de efeitos sentidos, ou contracção da doença, por um inúmero conjunto de factores e relações complexas, mas que podem acontecer.
Podes achar que não deves ser cobaia, tal como houve quem não quisesse ser cobaia quando surgiu a vacina do pólio, e aceitar as consequências disso, quer em relação a ti, ou em relação aos outros.
És livre de receber ou não a vacina. Logo, por que razão haverias de a receber? Deixa-me fazer uma pergunta mais profunda: decides ou não receber a vacina pensando em ti ou nos outros?
Já ouvi de alguém ter decidido não receber a vacina por não ter medo de morrer, pensando que essa é a forma de aceitar a Vontade de Deus. Lamento, mas sinto neste tipo de pensamento um voltar-se para si, e não para fora de si mesmo. Tomar uma vacina nova, sabendo que é a primeira versão, considero ser um acto de amor ágape para a humanidade. Aquele amor-ágape como testemunhou Jesus quando se deu totalmente na cruz.
A humanidade precisa de voluntários, que dêem a sua vida, para que este flagelo se resolva. E a vacina, para o olhar do cristão, deveria ser entendida como o fruto de um dom de Deus à humanidade: a inteligência.
Foram precisos inúmeros investigadores e voluntários para que existissem as vacinas que agora surgem. Esses deram a vida. E se lhes perguntar sobre a sua fé, creio que encontraremos quem acredita na Vontade de Deus e quem não seja crente. Mas, como cristão, só concebo a recusa de tomar a vacina como um acto de desumanidade. Palavras duras. Eu sei. Mas não o afirmo de ânimo leve, e penso no P. Kolbe.
Se São Maximiliano Kolbe estendeu o seu braço para lhe darem uma injecção letal, dizendo com esse gesto — «não são vocês que me tiram a vida, mas sou eu que a dou.» — é com esse pensamento que, chegando a minha vez, darei, também, o meu braço.