Sábado Santo: «Este é um dia a meio da ponte» – padre António Sant’Ana

Sacerdote jesuíta, diretor da Rede Mundial de Oração do Papa em Portugal,  fala de dia semcelebrações,que prepara para a grande noite pascal

Aguarela pintada por padre António Sant’Ana, na peregrinação à Terra Santa 2023

Braga, 08 abr 2023 (Ecclesia) – O padre António Sant’Ana, sacerdote jesuíta e diretor da Rede Mundial da Oração do Papa em Portugal, falou com a Agência ECCLESIA sobre o silêncio do Sábado Santo e define que este é um dia “a meio da ponte” que pode ser oportunidade para “pedir a paz”.

“Depois da adoração da cruz, momento da morte de Jesus, à noite temos a vigília e o cantar aleluia, este é um dia a meio da ponte entre estes dois momentos, é um dia de silêncio e expetativa mas também de interiorização, de viver por dentro um Deus que salva de forma misteriosa; este lugar a meio da ponte é transitório e não podemos ficar parados, a ponte leva-nos para uma outra margem”, explica.

O padre António Sant’Ana recorda o ofício de leitura do sábado santo que “traz uma homilia do século IV”, um “grande silêncio reina hoje sobre a terra”, e que considera um “texto tocante”.

“É um texto que me sempre me tocou, estudei patrística, período a seguir à redação dos Evangelhos, e os primeiros séculos do início do cristianismo, onde escreveram e refletiram sobre o mistério da fé, para mim essa homilia anónima explica a capacidade de exprimir a fé a partir da dimensão do encontro existencial, nós hoje somos muito racionalistas, pensamos muito com a cabeça, e estes homens viviam o mistério por dentro”, indica.

O sacerdote jesuíta defende que este é um “dia de olhar para a frente” e oportunidade de “rever a vida”, com olhos postos na outra margem.

Foto: Agência ECCLESIA/SN – Padre António Sant’Ana

“É dia para saber como o silêncio pode ser espera do ressuscitado na minha própria vida, pode ser oportunidade de rever a vida, olhar para as dificuldades, tensões internas, carências, é bom saber de onde vimos, a ponte implica vir de uma margem e ir até à outra; é nesse meio da ponte que podemos parar e fazer um ponto de situação para que, quando chegarmos ao outro lado, “entrar de pé direito”, com toda a consciência do que somos com a esperança d’Aquele que nos pode trazer paz”, explica.

O padre António Sant’Ana refere ainda que este “é um dia liturgicamente discreto, sem celebrações, nem encontros nas igrejas” por isso é de “evitar ruídos não é de festa mas é um dia de preparação”.

“É uma boa oportunidade para assumir a Igreja com as suas fragilidades, com o que tem de pecado, o ser humano não é perfeito e o mal entra na estrutura, este é um dia para acolher esta Igreja que caminha a passo incerto e que também, por vezes, é incoerente com a sua missão, podemos usar o dia para assumir que eu também sou Igreja”.

O religioso cita Santo Inácio de Loyola, fundador dos Jesuítas, para dizer que o sábado santo pode ser visto como um dia de preparação, “um dia de adições”.

“Quando alguém faz exercícios espirituais, modelo inaciano, Santo Inácio vai dando umas indicações, a que chamamos adições, vamos preparando o coração para viver a experiência espiritual, este é um dia de adições, com oração e recato para depois poder fazer a festa da luz”, destaca.

Regressado da Terra Santa há pouco tempo, o padre António Sant’Ana revela que foi “a viagem da sua vida” e esta celebração da Páscoa vai ter outro sabor.

“Posso dizer que foi talvez a viagem da minha vida… Quando fazemos as orações, rezar a ressurreição “aqui no lugar” em que Jesus ressuscitou, um sacerdote dizer “aqui” eu tremia em cada uma das celebrações, e isso fez-me pensar que Jesus Cristo continua, aqui neste lugar, continua-me a ecoar esta voz que diz que Jesus continua aqui a fazer-se presente”.

O religioso descreve ainda que “se imagina que Jesus nos olha do céu, metaforicamente é isso”, mas refere a Terra Santa como o local onde “Jesus viu olhos nos olhos, viu a Humanidade de frente”.

O sacerdote jesuíta assumiu, recentemente, a direção da Rede Mundial de Oração do Papa (RMOP) em Portugal, indica as “orações especiais” para este dia da aplicação ClicktoPray, e deseja “visitar os vários grupos de oração espalhados pelo país”.

Neste mês de abril a intenção de oração do Papa é por uma “uma cultura da não-violência”, uma temática que o religioso indica também para este sábado santo onde se “faz silêncio diante do mal do mundo”, “uma intenção atual, num dia de pedir a paz”.

A entrevista integra o programa de rádio ECCLESIA deste sábado, 08 de abril, pelas 06h00, na Antena 1 da rádio pública, ficando depois disponível online e em podcast.

SN

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