S. João: Festa religiosa e pagã

Para lá da tradição das festas nas ruas, da sardinha assada e do saltar da fogueira, há uma mensagem cristã a descobrir

Lisboa, 23 jun 2011 (Ecclesia) – Com a festa de São João à porta, esta noite, o vigário geral da diocese do Porto convida as populações a “viverem de facto” a figura do principal santo da devoção popular da cidade.

“Nós interpelamos muita gente e já ninguém sabe que é o São João Baptista, aliás eu faço sempre essa explicação em muitas celebrações, com os jovens e crianças” refere o padre Américo Aguiar, em entrevista ao programa da Igreja Católica desta quinta-feira, na Antena 1.

Segundo aquele responsável, o problema é que muitos católicos “já descolaram a pessoa do acontecimento pagão ou popular”, uma realidade que alguns responsáveis eclesiais têm procurado combater ao longo dos últimos 20 anos.

“A Igreja de São João Novo tem tentado sensibilizar as pessoas para uma missa de São João, mas a coisa não cola porque elas andam na noitada e não estão propriamente disponíveis para ir”, adianta o sacerdote, recordando o santo como “anunciador de Jesus Cristo”.

Nascido na freguesia de Leça do Baldio, concelho de Matosinhos, há quase 38 anos, o padre Américo Aguiar teve oportunidade de acompanhar desde criança as tradições e vivências que rodeiam a celebração do 24 de junho.

Um dia que começou a ser assinalado como feriado municipal no calendário portuense a partir de 1911, depois da realização de um referendo às populações, promovido pelo ‘Jornal de Notícias’.

“Quem foi à luta foi o São João, o 1 de maio, dia do trabalhador, e o 8 de dezembro, dia de nossa senhora da Conceição; foi o São João quem ganhou”, sublinha o sacerdote, explicando assim o facto de este acontecimento conseguir reunir todos os anos várias dezenas de milhares de pessoas, apesar de não ter sequer um “programa oficial”.

“A principal tradição anda sempre à volta das festas nas ruas, da sardinha assada e do saltar da fogueira, às vezes com acidentes de não se conseguir chegar ao lado de lá”, brinca o vigário geral, que em criança participava também na “cascata” ao São João.

Tratava-se de uma ocasião em que os moradores dos diversos bairros da cidade se organizavam para angariar donativos, no sentido de poderem enfeitar as ruas e fazerem face a outras despesas relacionadas com a festa.

O padre Américo lamenta que atualmente este tipo de iniciativas “já quase não se vejam”, sobretudo entre as gentes mais novas.

“Não sei se a Playstation prevê uma cascata ou se existe alguma tecnologia que permita aos miúdos ter essa ter essa vivência, mas era muito importante, uma fase de crescimento que fazia parte da caminhada da comunidade, ajudando a criar relações”, aponta.

Apesar desta festa popular “cultivar facetas que não são verdadeiramente as de São João”, ela continua ainda assim a mostrar a “importância” desta figura bíblica, que tinha como lema “Preparai os caminhos do Senhor”.

Um homem regido por valores como a “austeridade, o despojamento e a liberdade” e que, segundo o padre e biblista João Lourenço, teria uma importante palavra a dizer no contexto de uma “sociedade de deslumbramentos, embriagada pelo passageiro e pelo efémero”.

No entanto, para este professor da Universidade Católica Portuguesa, “provavelmente a sociedade de São João estava mais aberta à mudança, enquanto que a de hoje está muito mais empedernida e é mais difícil repensar-se a si própria”.

PRE/JCP

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