Ruy Guerra, Cinema em Português

Tempos houve em que Ruy Guerra foi um cineasta de grande relevo no cinema brasileiro. Um dos autores do “Cinema Novo” realizou três obras importantes do seu início, “Os Cafagestes”, “Os Fuzis” e “Os Deuses e os Mortos”, seguindo depois uma longa carreira em que se incluem trabalhos interessantes alternados com outros de fraco valor, de tal forma que rara é a documentação em que constam os seus 25 filmes de longa-metragem. Lembre-se, por exemplo, “Mueda, Memória e Massacre”, realizado em Moçambique, sua terra natal, em que é grande a sinceridade posta ao serviço de uma peça popular de natureza política, mas em que a passagem a filme se limita a um retrato estático, pouco elaborado, que conduz a um resultado final pouco satisfatório. Já nos anos 2000 realizou em Portugal “Monsanto” e “Portugal S.A.”, que não atingiram grande relevo e que pertencem à fase mais apagada da sua carreira. Só em 2004, de novo no Brasil, reencontrou, até certo ponto, o equilíbrio no seu trabalho. Aos 72 anos adaptou pela quarta vez um romance de Gabriel García Márquez, desta vez “La Mala Hora”, tirando especial partido da natureza da narrativa que se desenvolve em três percursos diferentes, conduzindo a finais distintos sem uma opção clara por nenhum deles como mais genuíno que os outros. Mesmo sem seguir à risca o original, bem longe disso, Ruy Guerra sabe manter o seu ritmo e ideia central, sofrendo apenas o efeito negativo do pouco entusiasmo de alguns actores secundários, que contrastam com o empenho dos que preenchem os papéis principais. Saúda-se assim o regresso de Ruy Guerra aos ecrãs portugueses e, com ele, mais uma longa metragem brasileira, ainda escassas na nossa distribuição o que dificulta uma ideia global quanto à evolução do cinema nesse país de língua portuguesa. Francisco Perestrello

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