Ruy Belo: o poeta em busca do infinito

“Trinta dias tem o mês E muitas horas o dia Todo o tempo se lhe ia Em polir o seu poema A melhor coisa que fez Ele próprio coisa feita Ruy Belo portugalês Não seria mau rapaz Quem tão ao comprido jaz Ruy Belo, era uma vez” A pedra de granito que cobre o seu túmulo, no cemitério de S. João da Ribeira, Rio Maior, tem gravado o poema «Colofon» ou «Epitáfio» do seu livro “Homem de Palavra (s)”. Referimo-nos ao poeta Ruy Belo que celebraria 71 anos, no próximo dia 27 de Fevereiro. Nascido, no longínquo ano de 1933, na localidade onde está sepultado, Ruy Belo faleceu em Lisboa, em 1978. Para a posteridade, sublinham alguns críticos literários, ficaram algumas obras poéticas de “nível elevado”. Considerado um dos mais importantes poetas portugueses da segunda metade do século XX, deixou-nos «As velas da memória» – Livro “Aquele Grande Rio Eufrates” – onde se ouve “o silêncio descer pelas vertentes da tarde” e “chegar à boca da noite e responder”. “Aquele Grande Rio Eufrates” (1961) “O Problema da habitação” (1962); “Boca Bilingue” (1966); “Homem de Palavra(s)” (1976) e “Despeço-me da Terra da Alegria” (1978) são autênticas «gotas» poéticas deste homem que se licenciou na Faculdade de Direito, em Lisboa, e se doutorou em Direito Canónico na Universidade de S. Tomás de Aquino, em Roma. Na sua escrita pode-se captar alguns problemas ontológicos e existenciais e a “inquietação metafísica” está patente no seu caminho poético. Segundo Tolentino Mendonça, a poesia de Ruy Belo em vez de traduzir “uma crise de fé que se transmuda simplesmente em descrença” exprime uma fé “que se descobre como consciência inevitável de crise diante das suas próprias formulações e saberes”. A linguagem poética de Ruy Belo não fecha as portas ao mundo, descendo, pelo contrário, “ao mais fundo das coisas” – sublinha Tolentino Mendonça. Como o poeta escreve “Nalgum Oásis do princípio ele fora um fugitivo brilho no olhar de Deus”. Um brilho – confessa ele – porque “Deus põe e o homem dispõe” (Livro «Homem de Palavra(s)). Uma vida onde o transporte e a dúvida estão presentes – menciona Joaquim Manuel Magalhães, no Posfácio a «Obra Poética de Ruy Belo» – “senti que o fio frágil e inexpugnável desses sinais me falava…. transporte no quotidiano, transporte entre as culturas, transporte entre a questão do humano e a dúvida do divino, transporte entre a vida e a sua humanidade”. Esta inquietação fá-lo tropeçar com permanência “no finito e da morte” mas nota-se “um desejo de projecto de infinito” – acentua Manuel António Ribeiro. Os seus versos são também lugares e pessoas concretas, são rostos e imagens do quotidiano, cantam angústias e alegrias “cristalizam experiências do mundo”. Só assim se percebe as dificuldades dos homens porque “os anjos tinham outras possibilidades e alguns deles foi o que tu sabes”. E adianta: “Esta terra não está feita para nós; Mesmo que ela fosse diferente nós queríamos talvez outra terra” (Livro «Todos os Poemas»). A arte e a vida de um escritor, que conheceu o preço amargo de quem ousa a reflexão e a mudança poder-se-ão ver e sentir na projecção desta síntese: “Que por todos se faça a poesia…. que a todos se destine a poesia”. Uma poética que nas dúvidas e na inquietude sonha a palavra paz, o espaço da renovação da cultura e do homem. (…) “Eu não dispenso a morte, eu quero morrer muito (…), diz. Mas fixemos isto na poesia de Ruy Belo: “o receio da morte é a fonte da arte”.

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