Especialista na temática religiosa alerta para dimensão «imperialista» do conflito na Ucrânia
Lisboa, 25 mar 2022 (Ecclesia) – O jornalista Filipe d’Avillez, especialista na temática religiosa, afirma que a decisão do Papa voltar a consagrar a Rússia a Nossa Senhora, e também a Ucrânia, passa a ideia que a mensagem de Fátima “não está esgotada”.
“A minha geração cresceu a pensar que a mensagem de Fátima no que diz respeito à Rússia tinha-se esgotado com o fim do regime comunista. Esta decisão do Papa de voltar a consagrar a Rússia, e a Ucrânia que na altura estava integrado na União Soviética, a Nossa Senhora vem passar a ideia que a mensagem não está esgotada e aplica-se ainda agora”, disse Filipe d’Avillez, em entrevista à Agência ECCLESIA.
“E que os erros da Rússia que se espalhariam pelo mundo, que Nossa Senhora falou aos pastorinhos, se repetem”, acrescentou o jornalista português, que trabalha para o escritório internacional da Fundação Ajuda à Igreja que Sofre Internacional (AIS).
Filipe d’Avillez contextualiza que sempre se identificaram esses erros com o comunismo, simplesmente, mas, “se calhar, são também a dimensão imperialista do comunismo que agora Putin está a tentar restaurar através desta invasão”, e com a sua ideia de uma “grande Rússia” que envolve toda aquela esfera de influência à volta e que “compunha a antiga União Soviética”.
A Rússia lançou a 24 de fevereiroa uma ofensiva militar na Ucrânia, começando uma guerra que já fez inúmeras vítimas civis, milhões de refugiados e deslocados internos.
Neste contexto, e após repetidos apelos à paz, o Papa Francisco vai rezar esta sexta-feira para que a humanidade seja preservada da “ameaça nuclear”, durante o Ato de Consagração a que vai presidir no Vaticano, em ligação ao Santuário de Fátima, invocando a paz, particularmente na Ucrânia e Rússia.
“No fundo qualquer ato de consagração é dizer a Deus, através da intercessão de Nossa Senhora, ‘este problema é demasiado bicudo para conseguirmos resolver sozinhos, confiamos-te este problema, neste caso, estas duas nações”, desenvolveu o jornalista no Programa ECCLESIA, transmitido hoje na RTP2.
Neste contexto, salienta que esta iniciativa do Papa já deu o fruto de “dar ânimo ao povo ucraniano” e a uma “oposição corajosa que existe e tem sofrido na Rússia”, para além de “criar uma ponte entre este mundo Católico e Ortodoxo”.
Para Filipe d’Avillez, as pessoas que pensam que a dimensão espiritual “não tem qualquer influência” nestes conflitos fariam bem em “ver o papel que o Papa João Paulo II teve no fim do comunismo na Europa oriental”.
“E para quem acredita, na mensagem de Fátima já previa isso e terá desempenhado um papel importante”, acrescentou o estudioso da mensagem mariana na Cova da Iria.
O especialista na temática religiosa lembra que a primeira consagração da Rússia, na altura União Soviética, foi em 1984, e “o regime caiu passado sete anos, estas coisas não acontecem de um dia para o outro”.
Filipe d’Avillez comentou também os argumentos usados pela Rússia para começar esta invasão, explica a organização religiosa nesta zona da Europa de Leste e as Igrejas Cristãs que existem, bem com a ação nesta guerra, salientando que “é preciso compreender” que para Moscovo a capital ucraniana, Kiev, “é o berço do cristianismo para toda aquela religião”, onde “chegou e depois se espalhou para Este numa altura em que Moscovo era um vilarejo”.
“Penso que se as coisas continuarem como estão a Igreja Ortodoxa Russa poderá acabar de tal forma isolada que acabará por beneficiar Constantinopla, como as Igrejas Ucranianas”, analisa.
PR/CB/OC
Fátima: «A guerra nunca é solução» – Padre Carlos Cabecinhas