Rostos de uma missão global

A realidade multicultural das sociedades contemporâneas afecta os dinamismos da catequese. Incontornável, essa característica dos tecidos sociais tem consequências imediatas na escola e na catequese e constitui um desafio, sobretudo aos educadores. O tema esteve em debate no IX Encontro de Animadores Sócio-pastorais das Migrações, que decorre este fim-de-semana em Fátima, onde Maria Luísa T. Boléo adiantou desafios e metodologias de uma “Catequese em comunidades inter-culturais” Mestre em Ciências de Educação, a conferencista afirmou a oportunidade que esta nova realidade constitui, por ser ocasião da afirmação da essência da Igreja: universal e onde acontece a comunhão entre diferenças. Diante de dificuldades de adaptação a esta nova realidade, surgiu como desafio o cultivo de uma “comunicação inter-étnica” e da experiência humana da diversidade como ponto de partida para uma pedagogia catequética actualizada; No Encontro que assinala o Dia do Migrante e do Refugiado, foram também transmitidas outras experiências de missão, para além desta em contexto paroquial. Decorreram em diferentes continentes e em circunstâncias distantes. É missão global, que a mobilidade possibilita. Paulo Costa, Leigos para o Desenvolvimento Paulo Costa é licenciado em economia. Era católico por tradição familiar. Um dia, viu um cartaz na faculdade dos Leigos para o Desenvolvimento e pensou em “fazer uma coisa daquelas”. Hesitou, pensou no melhor momento para partir ao encontro desse projecto. Em 2005 partiu. Era para estar um ano, mas o Uíge acolheu o trabalho do Paulo até ao ano 2008. “Nunca estive tão certo de que Deus existe e que me fazia mais feliz. Agora, não na eternidade…” Testemunhou no IX Encontro de animadores Sócio-pastorais das Migrações. Do tempo de missão guarda muitas e boas recordações. “Aprendi, como nunca, a viver, andava sempre no limite, faltava sempre tudo. Aprendi muito a saber morrer…” A vida em comunidade, que caracteriza a missão dos Leigos para o Desenvolvimento, marcou os anos de voluntariado missionário. Agora, em tempos de crise, vive do optimismo que cultivou em Angola, experimenta a ousadia. E percebe que “as dicotomias são simplificações sem sentido das diversidades da criação”. “Não há metrópole e terras de missão… todas as terras são de missão”, mesmo que por aqui, em Portugal, em circunstâncias diferentes e com relacionamentos diferentes. Pe. Ivan Hudz, Sacerdote Ucraniano É sacerdote ucraniano, da igreja greco-católica. Está em Portugal há 6 anos, actualmente a trabalhar na diocese de Beja. Sentiu os impactos culturais, até pelo sentido de expressões linguísticas com significados diferentes, na Ucrânia. “Amigos”, por exemplo: palavra quase banalizada em português, ao contrário do que experimenta na sua cultura. Satisfeito por estar aqui, o Pe. Ivan Hudz procura espaços de melhor integração e de vivências dos diferentes ritos culturais, o romano e o oriental: criar paróquias “bi-rituais”, fazer pontes entre ritos, que apenas exteriorizam as convicções interiores. Aliás, a questão das distâncias entre as linguagens, entre o português e o ucraniano, são secundárias, porque Aquele que escuta é o memo. Pe. Constâncio Gusmão, Capelão Militar É timorense. Partiu para Portugal antes dos anos da invasão da indonésia para estudar. Integrou-se na Diocese de Braga, onde foi ordenado padre. Quando os militares partiram em missão para Timor, a Diocese das Forças Armadas viu no Pe. Gusmão o capelão ideal para acompanhar os portugueses. A facilidade de língua, o conhecimento do país e das pessoas foram factores que motivaram essa escolha. Foi nos anos seguintes à dobragem do milénio. Depois, esteve no Kosovo. Quando foi necessário partir para o Afeganistão, os responsáveis pela Diocese das Forças Armadas pediram ao Pe. Gusmão para se reintegrar e partir com os militares. E foi, como em todas as missões militares, presença amiga junto dos militares, promovendo gestos de ajuda e dinamizando a celebração da fé entre os militares. (Num Natal, convido os militares presentes no Afeganistão a ajudar as comunidades religiosas que descobrira por aquelas paragens. E recolheu 3000 Euros.) Por outro lado, experimenta a possibilidade de povos viverem em harmonia, tendo opções religiosas diferentes. Nos Balcãs, chegavam a promover encontros inter-religiosos. Foi aliás nesta região que os militares portugueses, nomeadamente os mais graduados, começaram a cultivar o gosto da leitura da Bíblia. O Pe. Gusmão testemunha que em campo, durante as missões, tem mais tempo para a oração. No Afeganistão, um coronel italiano decidiu rezar com o capelão português… todas as noites… Pe. António Barbosa, Missionário na Alemanha É um do13 irmãos, natural de Barcelos. Há 34 anos partiu para o trabalho nas comunidades portuguesas na diáspora. Chegou á Alemanha e iniciou o trabalho junto dos portugueses. Na altura, enchiam as igrejas, as mesmas que hoje se estão a vender…! Também por isso, o Pe. António Barbosa afirma que a Europa é terra de missão, nomeadamente a Alemanha. E que é dever dos líderes das comunidades religiosas, nomeadamente das católicas, criar proximidades crescentes com os povos, também os da mobilidade, para a alegria ou a tristeza que as circunstâncias da vida oferecerem. Notícias relacionadas • Políticas de cooperação para combater o desemprego na Europa • Europa a envelhecer precisa dos imigrantes • Perder o medo diante do estrangeiro

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Agência ECCLESIA

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