Roma e Constantinopla cada vez mais perto

Bento XVI aposta numa aproximação à Igreja Ortodoxa O caminho para a comunhão entre Roma e Constantinopla foi, esta semana, cimentado com novos gestos que vincam a vontade de Católicos e Ortodoxos em assumir o compromisso de caminhar rumo à unidade “na caridade e na verdade”. A celebração de São Pedro e São Paulo, as traves mestras da Igreja primitiva, foi a ocasião para que Bento XVI e o Patriarcado ecuménico de Constantinopla trocassem impressões sobre a possibilidade de reiniciar o diálogo teológico entre as duas Igrejas, após 12 anos de interrupção. O líder da delegação enviada por Bartolomeu I abriu caminho ao entendimento, anunciando que “as Igrejas Ortodoxas responderam positivamente ao pedido de nomearem dois delegados para a comissão internacional”. Bento XVI pedirá à delegação chefiada pelo metropolita Ioannis, de Pérgamo (Zizioulas), que o diálogo teológico oficial, começado em 1980, entre a Igreja católica e as Igrejas Ortodoxas no seu conjunto “se reinicie com renovado vigor”. O diálogo teológico oficial realiza-se através de uma Comissão Mista Internacional Católico-Ortodoxa, da qual fazem parte representantes da Igreja católica e de diferentes Igrejas Ortodoxas. Apesar de todos reconhecerem a importância deste diálogo, a sua verdadeira dimensão requer um olhar sobre a história: a separação das duas comunidades cristãs foi consumada em 1054 e só conheceu melhorias nas últimas quatro décadas. O problema fundamental é mesmo de carácter teológico: o primado de Pedro. O Patriarca Bartolomeu I é considerado o primus inter pares e líder espiritual dos 200 milhões de cristãos ortodoxos, mas não é o “Papa” da Igreja Ortodoxa, dado que nela os bispos têm todos o mesmo lugar e a primazia de Constantinopla é apenas honorífica. Bento XVI, teólogo de referência, sabe muito bem quais são as diferenças que separam as duas Igrejas e não foge ao tema. No Vaticano falou do primado do Papa “como um primado de serviço à comunhão católica (universal)” e assegurou que a unidade que procura desde o início do seu pontificado, entre todos os cristãos, não é “nem absorção, nem fusão”. Bartolomeu I foi sempre um parceiro de diálogo privilegiado de João Paulo II, bem ao contrário do Patriarca Ortodoxo de Moscovo, Alexis II. A maneira calorosa como a delegação do Patriarcado ecuménico foi recebido no Vaticano contrasta, tremendamente, com a frieza que marcou, na semana passada, a recepção do Cardeal Walter Kasper, presidente do Conselho Pontifício para a Unidade dos Cristãos, em Moscovo. João Paulo II apresentou ao Patriarcado de Constantinopla, druante o seu pontificado, um pedido público de desculpas pelo ataque dos cruzados em 1204 e devolveu as relíquias de São João Crisóstomo e de São Gregório de Nazianzo, Doutores da Igreja. No dia 1 de Julho de 2004, o Papa polaco e o Patriarca Ortodoxo de Constantinopla assinavam no Vaticano uma declaração comum onde assumiam “a plena vontade de continuar no caminho rumo à plena comunhão entre nós, em Cristo”. Apesar dos “muitos passos positivos” que as duas partes assinalavam, a declaração comum não esconde os obstáculos que o caminho ecuménico tem encontrado desde o histórico encontro entre Paulo VI e Atenágoras I, em Jerusalém, no ano de 1964, em que se levantaram as excomunhões recíprocas.

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